Robótica: ensino aprimora habilidades além da sala de aula
Presente na rede pública estadual, aprendizagem de robótica auxilia no desenvolvimento de competências que ultrapassam o ensino formal
Muito além da tecnologia, a robótica educacional também pode auxiliar no desenvolvimento de diferentes áreas de conhecimento. Presente na rede pública do Ensino Médio (EM) de Pernambuco, a disciplina permite que os jovens aprimorem habilidades que vão além da sala de aula.
Com programas que estimulam a convivência e a participação em competições, incluindo disputas internacionais, a robótica tem se apresentado como uma opção para os estudantes que já têm interesse na área de tecnologia e desejam iniciar o contato com o setor desde cedo.
Disponível
De acordo com a gerente-geral de Políticas Educacionais do Ensino Médio da Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco (SEE-PE), Janine Fortunato, a disciplina está disponível para alunos do 1º ao 3º ano do EM por meio de uma eletiva.
“Dentro do currículo, a partir do uso de itinerários formativos, existe uma carga horária específica voltada para as eletivas. Estamos incentivando na rede a proposta desse espaço da robótica que não tem restrição de ano de ensino porque os conceitos básicos, que precisam ser utilizados para as atividades, são anteriores aos anos do Ensino Médio”, detalha a gerente.
Segundo Janine, a eletiva auxilia no processo de consolidação e construção de novos conhecimentos como lógica, matemática, tecnologia, línguas estrangeiras, design, música, entre outros.
Presença
Na rede estadual, a oferta da robótica educacional é realizada a partir de um indicativo das próprias escolas e das regionais, conforme o interesse dos alunos. Atualmente, 173 escolas distribuídas em todas as regiões do Estado oferecem a eletiva.
“Algumas têm apenas uma turma, mas outras têm até três. Para que a oferta seja concretizada, é preciso um profissional com disponibilidade tanto de carga horária quanto de competência técnica para desenvolver a robótica. Essa formação é realizada pelas 16 regionais de educação que são distribuídas em Pernambuco, cada uma em uma região administrativa”, explica Janine.
Por exigir uma atualização constante, a formação é ofertada de forma continuada e acontece uma vez por semestre. Já nas escolas, o aluno que tem interesse pode se integrar às turmas de modo sequencial, durante o 1º, 2º e 3º ano, ou como aprofundamento em unidades que também disponibilizam o ensino técnico.
Iniciado com o modelo de robótica lego, o ensino agora é realizado com a robótica livre com arduino, que tem peças de mais fácil reposição. “Nós entendemos que a robótica é um veículo importante de aprofundamento do conhecimento da formação geral básica. Ela traz um elemento que inova e é uma aposta como possibilidade de intervenção e de solução de problemas que são reais”, completa a gerente educacional.
No Recife, uma das unidades onde o ensino da robótica está disponível é a Escola Técnica Ginásio Pernambucano Cabugá, localizada na área central da capital pernambucana. No local, os estudantes podem ter acesso a um clube de robótica que permite a troca constante de conhecimento relacionados à área de ensino.
Disponível para todos os alunos, sem separação pelos anos de ensino, o clube funciona de segunda a sexta-feira. Os estudantes contam com o apoio e orientação da professora de Física, Karina Avelina, responsável por coordenar o clube.
“Ele está aberto para todo e qualquer aluno e, aqui dentro, um ajuda o outro repassando o conhecimento, sem grau de hierarquia”, afirma a educadora.
Aplicações
Segundo Karina, um dos principais diferenciais do clube é a possibilidade de que os alunos trabalhem em situações do cotidiano, buscando por soluções que podem ser aplicadas na prática.
“Quando chegam aqui eles se veem dentro da situação e se perguntam: como vou montar um robô? Por quê? Para quê? O que foi que você viu dentro da sala de aula que lhe induziu a isso?”, explica Karina.
Para tal, é utilizada a metodologia da sala de aula invertida. Nela, o aluno é estimulado a estudar o conteúdo teórico em casa e realiza as atividades em sala de aula.
“Muitas vezes eles chegam na sala de aula, durante o ensino de outras disciplinas, e veem que aquele conteúdo já foi passado durante a aula de robótica. O inverso também acontece, e eles utilizam na robótica conhecimentos adquiridos na sala de aula. A robótica traz essa perspectiva e abre outros ares”, observa Karina.
Na escola, cerca de 80 alunos participam do clube que tem uma preocupação em desenvolver projetos que possam ser aplicados na prática. Os robôs são criados com sensores capazes de executar funções reais no dia a dia como detectar o nível de saturação do solo, movimentação, proximidade, entre outros.
“A robótica auxilia em todos os pontos, desde as ciências da natureza até linguagens e humanas porque os estudantes precisam saber ler e interpretar um código, ter um bom português e inglês para programar”, comenta a professora.
Oportunidades
Toda essa gama de conhecimento possibilita a participação dos alunos em olimpíadas de robótica e outras competições escolares. De acordo com a educadora, os estudantes costumam ter uma boa aceitação pelas disputas que auxiliam na interação com outros alunos e em projetos distintos.
É o caso do estudante João Pedro Ezequiel, 16 anos, que está no 2º ano do EM, integrante do clube desde o início do Ensino Médio.
“Meu interesse pela área de tecnologia surgiu no ano passado. Eu estava buscando alguma coisa na área voltada para a área de programação e encontrei aqui a oportunidade de mexer com a robótica. Isso me despertou um interesse porque é um conhecimento que vai me auxiliar no meu curso já que a gente trabalha com programação”, avalia o estudante.
Segundo João Pedro, o clube auxiliou na familiarização com questões abordadas em outras disciplinas. Na sua visão, o conhecimento adquirido com a robótica deverá promover a abertura de diferentes oportunidades no futuro.
“Já participei da Olimpíada de Robótica e vou participar de novo neste ano. Também tive um projeto aprovado no Ciência Jovem. Sempre tem algo novo para fazer, então é uma oportunidade constante de aprendizado. Também temos a oportunidade de ir atrás de bolsas, por exemplo”, comenta o aluno.
Nova área
O interesse de João Pedro é compartilhado com a estudante Heloísa Maceió, 16 anos, que também está no 2º ano do EM. Apesar do desejo de ser professora de português, a aluna viu no clube de robótica uma oportunidade de se desenvolver em uma nova área.
“Vim para o clube depois que recebi um convite da professora. Quando cheguei e vi os robôs montados, foi amor à primeira vista. Eu gostei muito de mexer com sensores porque vejo neles uma forma de agregar com o dia a dia e solucionar problemas. Saber que eu posso ajudar de uma certa forma”, afirma a participante do clube.
Desenvolvimento
Segundo o engenheiro de sistemas, professor do Cesar e idealizador da plataforma Robô Livre, Henrique Foresti, a presença da robótica educacional no Ensino Médio pode representar um importante propulsor para o desenvolvimento dos jovens.
“Esse é um momento em que os jovens estão se entendendo, buscando a área que eles querem. A robótica permite um trabalho que vai além da tecnologia e dá a oportunidade que eles experimentem para definir se é uma área que se tem interesse ou não”, observa Foresti.
Segundo o professor, o aumento do interesse dos estudantes por temas relacionados à tecnologia também tem fomentado a busca pela robótica. Ao entrar na sala de aula, são desenvolvidas diversas competências.