FOLHA ENERGIA

Biomassa: fonte inesgotável de inovação

A biomassa registrou um recorde de fornecimento ao sistema elétrico no ano passado, equivalente a 4,6% da energia consumida no País, e se expande em capacidade instalada

A biomassa da cana representa 16,9% da matriz energética brasileira, de acordo com balanço referente a 2023A biomassa da cana representa 16,9% da matriz energética brasileira, de acordo com balanço referente a 2023 - Foto: Tauan Alencar/MME

Com ampla utilidade e em crescente expansão, a biomassa tem papel fundamental no processo da transição energética.

Utilizado para a produção de energia, o recurso é desenvolvido a partir de matéria orgânica renovável, seja de origem vegetal ou animal, sendo capturado pela sua combustão direta ou a partir de sua decomposição.

Atualmente, a biomassa da cana representa 16,9% da matriz energética brasileira, caracterizando-se como a renovável com maior presença, segundo o Balanço Energético Nacional 2024, ano-base 2023, divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). 

Segundo a pesquisa, no ano passado, a participação de fontes renováveis na matriz energética foi marcada pelo aumento da oferta interna de biomassa, eólica e solar. No total, as renováveis representam 49,1% da matriz, enquanto as fósseis chegam a 50,9%. 

Ampla utilização
Segundo o diretor-regional do Senai no Mato Grosso do Sul, Rodolpho Caesar Mangialardo, a biomassa é uma fonte inesgotável de pesquisas e processos de inovação.

“Quando a gente fala do bagaço da cana eu já tirei ali o etanol, o açúcar, o biometano - que é um gás oriundo dessa formação utilizado como fonte de combustível para caminhões e carros - e eu estou usando o bagaço da cana, aquilo que sobrou do resíduo da operação de uma usina sucroalcooleira, para transformar em energia. Eu queimo na caldeira e transformo em energia”, comenta.

 A utilização da biomassa no País é ampla. No setor de cana-de-açúcar, por exemplo, seu material fibroso ou o bagaço da cana processada sofre combustão nas caldeiras das indústrias e o calor gerado é utilizado para a produção de vapor e bioeletricidade. 

Segundo Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco (Sindaçúcar-PE) e presidente executivo da NovaBio (Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia), o processamento dessa biomassa é realizado da maneira mais sustentável possível. 

“Os gases passam por um processo de lavagem e filtragem, praticamente eliminando a emissão de materiais nocivos ao meio ambiente”, afirma. 

Já a decomposição da vinhaça, outro resíduo da produção sucroenergética, gera biogás, que é convertido em biometano, novos biocombustíveis que abrem um mercado no País.

“Ainda como matéria-prima para a produção de biogás e biometano, diversas outras atividades da agropecuária podem ter resíduos aproveitados na sua produção, a exemplo da suinocultura”, reitera Cunha. 

Recorde
Com recorde de contribuição ao Sistema Interligado Nacional (SIN) em 2023, a geração de energia a partir da biomassa foi de 3.218 megawatts médios (MWm), o que significou 4,6% de toda a energia consumida. 

No ano passado, 93,6% da eletricidade no País foi gerada a partir de fontes renováveis, segundo informações da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia.

O recorde anterior foi registrado no ano de 2020, quando a geração média das usinas a biomassa ficou em 3.140 MWm. Em 2023 houve acréscimo na capacidade instalada de Biomassa de 223 MW e, para 2024, o incremento esperado é de 1.155 MW, o que representa o maior valor da série histórica.


“A geração de bioeletricidade a partir da cana-de-açúcar é uma prova robusta de que o nosso setor sabe quebrar paradigmas. A partir dos anos 2000, com as lições do apagão, boa parte das usinas reconfigurou seu parque industrial para produzir mais e melhor energia elétrica em superávit, exportando o excedente para o SIN”, declara Renato Cunha.


Segundo estudo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) na base de dados da Aneel, para 2025, a previsão é que a biomassa acrescente 259 MW novos dos 11.918 MW previstos para serem instalados no País (2,2% do total), ficando à frente das hídricas, que instalarão 226 MW (1,9% do total).

Estratégia
O Brasil desenha uma estratégia de transição energética voltada para a expansão do uso de biocombustíveis. Isso acontece a partir do marco regulatório desenvolvido pelos Governo Federal e Congresso Nacional, associado ao debate com a sociedade. 

“O Renovabio, política nacional de biocombustíveis já em funcionamento desde 2019, é um exemplo dessas iniciativas, bem como o Combustível do Futuro, Mover, Marco do Hidrogênio e Mercado de Carbono."

"Portanto, a oferta de biomassa deve aumentar e o indicador de que 8,55% de toda a energia elétrica do País é produzida a partir de biomassa deve aumentar”, pontua Renato Cunha.

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