FOLHA ENERGIA 2024

Energias renováveis: protagonismo em novo cenário

Atualmente, no Brasil, 49,1% da energia produzida vem de fontes renováveis, o que transforma o País em uma referência mundial

O Brasil é referência na transição energéticaO Brasil é referência na transição energética - Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

As fontes de energia fazem parte do dia a dia e são essenciais na geração de eletricidade, no aquecimento e transporte.

A matriz energética (conjunto de fontes utilizadas) é composta por renováveis como biomassa da cana, eólica, solar, hidráulica, lenha, carvão vegetal e lixívia e não renováveis, como petróleo, gás natural, carvão mineral e urânio. 

Esta edição da Folha Energia tem o objetivo de mostrar as potencialidades na geração das energias renováveis e como o Brasil está no cenário da transição energética com relação ao mundo, apresentando como essa transformação pode estar ao alcance de todos. 

Cenário nacional
O Brasil é protagonista na produção de energias renováveis e é referência na transição energética. No País, quase metade da energia disponibilizada (49,1%) vem de fontes renováveis. 

A maior parte (50,9%), no entanto, ainda é produzida a partir de recursos que se esgotam na natureza, segundo o Balanço Energético Nacional 2024, ano-base 2023, divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Em 2022, o percentual de renováveis era de 47,4%. Há dez anos, em 2014, era de 39,7%.

Entre as renováveis destacam-se a biomassa da cana que inclui a produção de etanol (16,9%), a hidráulica (12,1%), a lenha e o carvão vegetal (8,6%).

O licor preto e outras renováveis representam 7,2%, a eólica 2,6% e a solar, 1,7%. No caso das não renováveis, os maiores percentuais estão com o petróleo e seus derivados (35,1%), o gás natural (9,6%) e o carvão mineral (4,4%). 

“A descarbonização traz como consequência a necessidade de substituir as fontes de energia atuais, e isso se denomina transição energética que é a passagem das formas atuais de produção de energia para formas descarbonizadas, particularmente solar, eólica e biomassa”, menciona o professor emérito da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e colaborador do Centro de Energias Renováveis, Naum Fraidenraich. 

Cenário global
Atualmente, o mundo enfrenta o desafio de descarbonizar a matriz que é predominantemente composta por combustíveis fósseis que, quando queimados, liberam dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, ocasionando o superaquecimento do planeta e gerando diversos fenômenos climáticos severos. 

Segundo Naum Fraidenraich, a energia é um forte produtor de carbono nas suas diversas formas.

“No setor de produção de energia, particularmente de eletricidade, se produz muito dióxido de carbono. No setor de transportes, queimando gasolina e diesel também se produz muito CO2. Na indústria queimando derivados do petróleo, particularmente óleo e combustível, também produz muito CO2”, afirma. 

De acordo com a pesquisa da Agência Internacional de Energia publicada em 2023 e com dados de 2021, as fontes não renováveis representam 85,3% da geração mundial. 

Entre elas, destacam-se o petróleo e derivados (29,5%), o carvão mineral (27,2%), o gás natural (23,6%) e a nuclear (5,0%).

Fontes renováveis como a solar, eólica e geotérmica correspondem a apenas 2,7% da produção global. Com a participação da energia hidráulica (2,5%) e da biomassa (9,5%), as renováveis totalizam cerca de 14,7%.

A biomassa da cana é aliada na luta contra a emissão de carbonoA biomassa da cana é aliada na luta contra a emissão de carbono | Tauan Alencar/MME

Posição privilegiada
Segundo informações do Ministério de Minas e Energia (MME), o Brasil tem uma posição privilegiada quando o assunto é transição energética.

Segundo relatório divulgado em junho pelo Fórum Econômico Mundial, o País está no 12º lugar no Índice de Transição Energética (ETI), que avalia 120 países e 46 indicadores. 

O Brasil lidera as ações de transição energética em todos os países da América, sendo o primeiro entre os países emergentes e o terceiro entre os do G20, especialmente graças à energia hidrelétrica, à expansão da eólica e dos biocombustíveis, “juntamente com iniciativas de fortalecimento institucional, tem sido fundamental na atração de investimentos”, aponta o documento.

Em relação à geração de eletricidade, a matriz elétrica nacional atingiu quase 90% de renovabilidade em 2023, com a energia hidráulica, eólica, solar e de termelétricas à biomassa como as quatro principais fontes do País. 

Quando se observa apenas o Sistema Interligado Nacional (SIN), o índice chega a 93,0%. Esses números são superiores aos 26,6% de renovabilidade da geração elétrica no mundo, para 2020, de acordo com a Agência Internacional de Energia.

Cana-de-açúcar
Segundo o presidente da Datagro, Plínio Nastari, o País tem a matriz energética mais limpa entre as 20 maiores economias do mundo.

“Entre as renováveis, a maior fonte de oferta primária é a cana-de-açúcar que se destaca, inclusive, em relação às energias hidráulica, eólica e solar fotovoltaica”, pontua.

O presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco (Sindaçúcar-PE) e presidente executivo da NovaBio (Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia), Renato Cunha, aponta a importância da cana-de-açúcar no processo de transição. 

Energias limpas
Ela contém biomassa oriunda de processos limpos e é matéria-prima para energias limpas como o etanol veicular, e produz biogás, biometano, metanol biogênico, combustível sustentável e aviação-SAF, hidrogênio verde, além de ter outras aplicações em bioquímica verde e bioeletricidade para consumo individual e empresarial. 

“A cana é matéria-prima para o etanol que é um cacho de hidrogênio com uma fórmula que envolve C2H5OH com 6 moléculas de hidrogênio que promovem um bônus ambiental imprescindível ao desenvolvimento sustentável”, reitera. 

Com condições favoráveis à transição, parte do território brasileiro tem o dobro de irradiação solar comparado com os países do hemisfério norte.

“Irradiação solar, água, disponibilidade de solos férteis para a produção de bioenergia e principalmente mão de obra apta a utilizar esses recursos também fazem com que o Brasil tenha uma condição singular para o desenvolvimento não só de energia solar e eólica, mas também para aplicação de energias renováveis para a produção de hidrogênio verde”, diz Plínio Nastari. 

Investimentos
No período da primeira crise de energia, na década de 1970, o Brasil não encontrava petróleo para explorar e precisava importar toda a matéria-prima que era necessária para movimentar a economia. 

Com isso, o País começou a se mobilizar para utilizar formas de energia para substituir a fonte fóssil. Na época, as formas mencionadas eram solar, eólica e biomassa. 

Em 2023, o País investiu US$ 34,8 bilhões na transição energética, de acordo com o relatório da BloombergNEF’s Energy Transition Investment Trends 2024, divulgado pelo Ministério de Minas e Energia (MME). O Brasil é o sexto país do mundo que mais investiu na área e o líder na América Latina.

O valor abrange energia renovável, veículos elétricos, hidrogênio e captura de carbono, que impulsionam o crescimento do valor ano a ano.

De acordo com o documento publicado, mundialmente, o investimento na cadeia de fornecimento de energia limpa atingiu US$ 135 bilhões globalmente no ano passado e pode subir para US$ 259 bilhões até 2025.

Ao alcance de todos
As práticas de conservação e eficiência energética são exemplos de como as pessoas podem contribuir com o processo da transição energética. Segundo Naum Fraidenraich, a eficiência energética também pode ser aplicada nas atividades feitas dentro de casa. 


“As pessoas podem utilizar o chuveiro elétrico por períodos mais reduzidos, porque é um grande consumidor de energia elétrica. A separação de lixo poderia ser uma coisa muito importante, a partir do qual poderia gerar energia na forma de gás”, declara. 


Apesar da importância das atividades individuais, é necessário existir uma política geral para favorecer as ações das pessoas nas suas casas, segundo Fraidenraich. 

Panorama da Matriz Energética

Atuação responsável

De acordo com Plínio Nastari, cada pessoa deve atuar de forma responsável em relação à transição energética. Como exemplo, o presidente pontua o programa de etiquetagem de eficiência energética que já existe no Brasil. 

“Quando se compra um eletrodoméstico você já sabe se está classificado num nível A, B, C ou D de eficiência. O ideal é que o consumidor escolha sempre aquelas opções de maior eficiência, menor uso de energia e o consumidor adote de forma consciente fontes energéticas renováveis”, afirma.  

O Ministério de Minas e Energia reforça que o uso consciente de energia permite um menor uso dos recursos naturais para a geração de energia e minimiza os impactos ambientais. A instalação de placas solares é um exemplo de tecnologia renovável que pode ser adotada em casas, comércios e outros estabelecimentos, ajudando a promover a transição energética. 

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