O toque mágico dos arquitetos para harmonizar
Solteiros, casados, famílias com filhos ou um lar seguro para idosos? Profissionais ajudam a transformar espaços de forma funcional e bonita
Conhecer a fundo o perfil dos moradores é um ponto crucial de qualquer projeto de arquitetura e decoração. Ainda que alguns preceitos sirvam para todos, o estilo de vida de cada um influencia diretamente nas soluções a serem adotadas. As necessidades são diferentes para solteiros, casais e famílias, o que reflete nas escolhas e ideias para uma moradia.
Levar em conta as características de cada um, no entanto, não significa estar preso a padrões previamente estabelecidos. É o que aponta a dupla de arquitetos Luiz Dubeux e João Vasconcelos, do escritório Dubeux Vasconcelos Arquitetura. “O que é o certo? O certo é o que eu gosto, o que vai fazer com que minha família se sinta bem e com que eu tenha prazer em estar na minha casa”, aponta Luiz.
Os arquitetos mergulham no desejo do cliente e também na dinâmica da casa, encarando questões funcionais e estéticas como pontos norteadores de todos os seus projetos. A utilização de materiais naturais, como madeira, pedras e plantas, é um princípio válido para qualquer situação. “Isso traz longevidade ao projeto. O investimento pode até ser mais alto, mas vai demorar para o apartamento ou a casa ficarem datados”, defende João.
Concepção
Claro que existem diferenças práticas. Na concepção da residência de uma pessoa solteira, por exemplo, só há uma voz a ser ouvida pelos profissionais envolvidos. É possível dar uma personalidade mais individual à decoração, diferente do que ocorre com um casal, quando há dois olhares díspares a serem notados, às vezes complementares e às vezes divergentes, mas nunca iguais.

É comum para quem mora sozinho optar por imóveis com tamanhos menores. Nestes casos, é possível otimizar o espaço a partir da escolha dos móveis e com algumas soluções, como integrar a cozinha à sala ou até mesmo repensar a existência de alguns cômodos.
“Algumas áreas são perda de espaço e em residências menores cada metro quadrado é ouro. Temos o exemplo de um apartamento de um homem solteiro com três quartos, que reformamos e deixamos com apenas dois. Também quebramos as paredes da cozinha, fazendo a integração com uma coluna de marcenaria, com parte voltada para a própria cozinha e outra para a sala, escondendo equipamentos tecnológicos. Isso já dispensa o rack, que muitas vezes é um impedimento à circulação”, pontua Luiz.
Outra solução que traz amplitude aos ambientes é a porta em painel. Com moldura e puxador embutidos, a porta se confunde com o próprio revestimento da parede, dando a ideia de ser tudo uma coisa só.
Uma demanda cada vez mais comum entre os clientes atendidos pela dupla é a existência de espaços de convivência para receber amigos e familiares em momentos descontraídos.
As chamadas varandas gourmet se tornaram uma forte tendência no mercado imobiliário, vistas primeiro em apartamentos de grande porte, mas agora replicadas também em imóveis menores. São áreas dedicadas ao entretenimento e à socialização, muitas vezes com bar, adega refrigerada e churrasqueira.
“A gente tem essa cultura nordestina da varanda, que tem a ver também com o imaginário de quem morou em casa e teve seu terraço. O desejo de ter esse espaço gourmet virou uma unanimidade. Já houve casos no escritório em que ampliamos a varanda, entrando um pouco com as esquadrias e tirando espaço da sala”, exemplifica João.
Casais
Ao projetar ambientes para um casal, os arquitetos precisam conciliar gostos diferentes. João e Luiz exemplificam com um projeto desenhado para recém-casados que se mudaram para o seu primeiro apartamento.
“O marido gostava muito de filmes. Então, ele pediu uma TV grande e um sofá confortável. Escolhemos um bem bonito e, ao mesmo tempo, retrátil. Ela era louca pela cor laranja, que nós levamos para as cadeiras na varanda, ao redor de uma mesa mais neutra”, detalha Luiz.
Neste mesmo projeto, os arquitetos deram destaque à pequena coleção de obras de arte herdadas pelos moradores de seus familiares, expondo as peças em uma estante próxima à mesa de jantar.
A proposta confere personalização ao projeto, assim como o desenvolvimento de peças únicas. Para o casal em questão, os profissionais criaram uma mesa de centro com desenho que lembra curvas de nível de uma planta topográfica.
Há uma demanda crescente pela incorporação de plantas nas casas, criando um sentimento de conexão com a natureza. Isto pode ser conseguido através de jardins verticais ou mesmo integrando a vegetação exterior por meio de janelas amplas, que valorizem a vista.
Escritórios
O aumento do trabalho remoto, mesmo após a pandemia de Covid-19, levou a uma maior necessidade de escritórios domésticos. Pode ser um cômodo separado, um canto da sala ou até mesmo um espaço de trabalho na varanda, pensando sempre na ergonomia dos móveis e na iluminação correta.

No que diz respeito à escolha das cores, é possível utilizá-las de forma estratégica e sem medo, sempre que o cliente permite. A cor pode ser usada, por exemplo, para diferenciar os planos, fazendo com que o espaço pareça maior ou menor conforme a necessidade.
“Quando a gente cria uma distinção dos volumes, conseguimos resultados muito significativos. Posso querer propositalmente deixar paredes e teto em um tom mais escuro, para diminuir o ambiente, deixá-lo mais aconchegante ou trazer uma unidade. Mas é uma questão que envolve técnica para atingir o resultado”, ressalta Luiz.
Crianças
Com a chegada de um filho a uma casa, outras preocupações entram em cena. Para além do quarto da criança, surgem necessidades mais objetivas, como materiais resistentes às peripécias próprias da infância e soluções de segurança, como telas de proteção instaladas nas janelas. Tudo isso é levado em conta ao projetar espaços para famílias com crianças.
Até mesmo a necessidade de brincar é uma questão a ser pensada pelo arquiteto. Para imóveis que não dispõem de espaço para uma brinquedoteca ou algo semelhante, os profissionais apontam soluções práticas e adaptáveis à realidade de cada família.
“Uma opção é fazer uma espécie de baú com rodízio, que possa ir para a sala enquanto a criança estiver brincando lá e, depois, voltar para o quarto dela. Na própria sala, pode-se fazer gavetões já embutidos na marcenaria, para guardar os brinquedos”, sugere Luiz.
João diz que uma casa com criança tem que ser pensada de forma mais prática e durável. “A preocupação com limpeza é uma constante e, dos últimos anos para cá, têm surgido no mercado tecidos para a forração de móveis muito interessantes, tecnológicos, que você derrama uma taça de vinho, por exemplo, e não mancha nada. Também há tintas que são como uma lousa, permitindo à criança desenhar na parede à vontade”, aponta.
A dupla de arquitetos relembrou um projeto em que os pais solicitaram que a brinquedoteca fosse integrada à sala, algo considerado inusitado. “Normalmente, as pessoas pensam nesse espaço como um quartinho separado, mas eles queriam que os filhos estivessem brincando junto deles. A gente terminou pensando em uma porta de correr, que permitisse essa integração”, comentou João.
Acessibilidade
Pensar integralmente na família é também incluir os membros mais velhos dela no planejamento. “É engraçado que todo mundo se prepara para o nascimento, mas poucos pensam na velhice. Temos que pensar sim em um piso antiderrapante, nas alças de apoio. Há elementos bonitos, leves, elegantes e que podem ser usados não só como itens decorativos, mas também como elementos funcionais”, alerta João.
Para o arquiteto, a acessibilidade deve ser pensada desde o princípio, não só por quem fará o projeto de interiores, mas desde a construção dos imóveis. “Não estamos falando só de pessoas com deficiência ou idosos, mas também da possibilidade de alguém ter problemas temporários de mobilidade. Existem normas técnicas que regem essas construções e devem ser seguidas”, destaca o especialista.