Desafios e oportunidades na logística de e-commerce
O e-commerce brasileiro quintuplicou desde 2016 e movimentou R$ 196,1 bi em 2023
Responsável por movimentar R$ 196,1 bilhões em 2023, o setor de comércio eletrônico no Brasil está em constante crescimento. Segundo o Observatório do Comércio Eletrônico Nacional do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o e-commerce brasileiro mais que quintuplicou desde o ano de 2016.
Impulsionado pela digitalização, o comércio eletrônico no Brasil está presente na rotina da população. Se antes, realizar uma compra exigia um planejamento que envolvia fatores como disponibilidade de horário ou até mesmo deslocamento entre bairros ou cidades, agora ela pode ser concluída de forma rápida e prática com um dispositivo que está na palma da mão.
Segundo o MDIC, os produtos mais comprados por meio do comércio eletrônico no Brasil variam de smartphones a refrigeradores e congeladores. Essa diversidade, aliada às dificuldades naturais a serem enfrentadas em um país com dimensões continentais e restrições de possibilidade de uso de alguns modais, acabam contribuindo para o aumento dos desafios a serem enfrentados pelo setor.
DEMANDAS
Para dar conta da nova realidade que exige entregas mais rápidas para a manutenção da competitividade, as empresas precisam estar prontas para atender tanto às demandas interestaduais quanto as do próprio Estado.
Segundo o especialista em logística e professor da Faculdade Senac-PE, Over Montes Causil, essa atual massificação do comércio eletrônico contribui para fomentar a demanda por adaptações significativas e que são necessárias no setor.

Entre elas, Causil aponta a necessidade de oferecer um maior treinamento especializado para quem atua nas empresas, especialmente no uso de ferramentas tecnológicas. Além disso, o especialista destaca a necessidade de repensar os canais de distribuição para entrega de produtos e serviços e aumentar a integração e otimização do uso de diferentes modais logísticos que podem melhorar a experiência da entrega.
Segundo o professor, entre os principais desafios enfrentados pelos operadores de e-commerce estão a gestão de estoques, a previsibilidade da demanda, a logística reversa e a necessidade de oferecer entregas rápidas e flexíveis.
“É essencial equilibrar os níveis de estoque para evitar tanto rupturas quanto excessos de produtos, além de garantir que não haja atrasos nas entregas, já que tudo isso impacta diretamente nos custos e na satisfação dos clientes. Também vejo o gerenciamento das devoluções como um aspecto crítico, pois ele precisa ser conduzido de forma eficiente para assegurar uma experiência positiva para o usuário e preservar a confiança na plataforma”, comenta o especialista.
ÚLTIMA MILHA
Outra dificuldade está no enfrentamento da última milha - termo usado para descrever o processo de saída do centro de distribuição até a chegada ao cliente. “Os engarrafamentos urbanos, agravados pelo aumento de transportadores, representam um desafio logístico significativo que demanda planejamento estratégico, inovação e uma abordagem centrada no cliente para que o negócio consiga prosperar em um mercado cada vez mais competitivo”, explica Over.
Para o professor, a tecnologia pode ser uma importante aliada para auxiliar na resolução das questões que envolvem o setor. No entanto, é essencial que sejam realizados investimentos em soluções capazes de impactar a área de forma direta, levando até mesmo a transformação de todo o modelo de negócio.
“É preciso investir em soluções tecnológicas, redes de internet robustas e soluções como chatbots, entre outras inovações. Todo o modelo de negócio precisa ser repensado para operar de forma eficiente e competitiva no ambiente digital. Esses desafios, se enfrentados de maneira estratégica e bem implementados, tornam-se diferenciais que podem transformar empresas em líderes no mercado, oferecendo uma vantagem competitiva”, observa.
De acordo com o especialista, a inovação pode ser usada especialmente para a criação de ferramentas que tenham a capacidade de otimizar as operações logísticas, reduzir custos e melhorar a experiência do cliente.
“Soluções como sistemas de gestão de transportes (TMS), sistemas de gerenciamento de armazéns (WMS), automação de equipamentos nos armazéns, uso de inteligência artificial para roteirização e previsões de demanda, além do rastreamento em tempo real, tornam os processos mais eficientes”, afirma.
Para ele, as plataformas digitais e o seu alto grau de inserção no cotidiano da população também podem facilitar na integração de parceiros na cadeia de suprimentos, promovendo maior agilidade e transparência nos negócios realizados.
Over destaca, ainda, que essas soluções são essenciais para promover um impacto positivo na economia, impulsionando a representação que a operação logística já possui em estados como Pernambuco.
“A construção no Estado de galpões de grandes empresas como Amazon e Shopee criou vagas de trabalho durante a fase de obras, fortalecendo ainda mais a economia local. Na Região Metropolitana, houve um aumento significativo no número de distribuidores dedicados ao transporte dessas mercadorias, que agora chegam aos clientes em menos de 24 horas. Esse modelo de negócio impulsionou uma especialização na logística de distribuição nos últimos anos, contribuindo para a modernização e a eficiência do setor na região”, completa o professor.
Atento ao potencial que a logística possui no Estado, o administrador e empreendedor Murillo Albuquerque criou a Entrega+. A startup pernambucana, que iniciou sua atuação no ano de 2023, usa a tecnologia para oferecer soluções para área.
Com atuação predominante no polo de confecções do Agreste de Pernambuco, a empresa identificou as necessidades tanto de empresas de confecções quanto de transportadoras por uma maior fiscalização e acompanhamento das entregas.
“Eu atuei durante muito tempo na área da confecção, e uma das minhas dores com relação à parte da logística estava no fato de que cerca de 90% das mercadorias que saem daqui são enviadas pelas excursões que ainda trabalham de uma forma muito analógica. O comprovante de entrega da mercadoria costumava ser uma foto do dono da empresa com o pacote, por exemplo”, relembra Murillo.
PLATAFORMA
Para enfrentar a questão, o empreendedor, em conjunto com três sócios, desenvolveu uma plataforma capaz de digitalizar todo o processo e que atualmente é usada por mais de 100 transportadoras. “O aplicativo do talão digital informa quem está entregando, quem está recebendo, qual o valor do frete (...) tudo de forma digital e com o envio de comprovantes de forma automática pelo WhatsApp”, explica Murillo.

Segundo o empreendedor, um dos maiores desafios enfrentados durante o surgimento da empresa foi a resistência do mercado à mudança proposta. Para resolver a questão, Murillo conta que precisou buscar um “case” capaz de inspirar outras empresas.
“Buscamos empresas que relataram dificuldades e prejuízos com o formato existente, inclusive perdas de mercadoria ou dificuldade para montagem de rota. Elas se tornaram cases de sucesso que nos ajudaram como uma forma de validação quando a solução foi apresentada para outras empresas”, relembra.
Após o início das operações, outras demandas também foram identificadas pelos empreendedores que decidiram investir no desenvolvimento de outras tecnologias. Para facilitar a busca por transportadoras, foi criada a inteligência artificial IAgo, que está disponível no WhatsApp.
“Com ela, o confeccionista vai mandar uma mensagem e receberá detalhes sobre quem está realizando o envio da mercadoria para o local onde ele deseja, o horário e a data de quando a empresa estará na cidade, a localização de onde a excursão sairá e qual a taxa para embarque”, completa o empreendedor.
Segundo Murillo, as plataformas da Entrega+ já foram responsáveis por digitalizar mais de 750 mil inscritos. A estimativa da empresa é de que o volume movimentado durante o tempo de atividade já tenha ultrapassado a marca de R$ 1,2 bilhão em mercadorias de confecção.

Atualmente a empresa já atende clientes de estados como São Paulo e Ceará. Mas, o objetivo é garantir uma expansão para atender outros estados do Brasil que também apresentam demandas semelhantes relacionadas à logística.
“No primeiro momento conseguimos clientes com indicações. Agora, que conseguimos nos fortalecer no polo de confecções, queremos replicar nossa atividade em outros polos com mais transportadoras e modais”, conclui o empreendedor.