FÓRUM NORDESTE 2023

Combustíveis fósseis são os maiores contribuidores para a mudança climática global

Cada vez mais inundações e alertas climáticos vêm chamando a atenção do mundo por se tornarem frequentes

Gases de efeito estufa produzidos pela utilização dos combustíveis fósseis estão acelerando as mudanças climáticas Gases de efeito estufa produzidos pela utilização dos combustíveis fósseis estão acelerando as mudanças climáticas  - Foto:

Inundações e alertas climáticos vêm chamando a atenção do mundo por estarem cada vez mais frequentes. A luta para frear as altas variações de temperaturas e zerar a emissão de carbono, assim como encerrar a utilização de combustíveis fósseis, como o petróleo, carvão mineral e gás natural, vem se tornando mais feroz à medida em que as consequências do uso indiscriminado de energias não renováveis começa a cobrar seu preço.

Mudanças climáticas são alterações de longo prazo nos padrões do clima, que podem ser naturais ou causadas pelo ser humano. Porém, as atividades humanas têm superado as causas naturais. Os combustíveis fósseis são os maiores contribuidores para a mudança climática global. À medida que as emissões de gases de efeito estufa cobrem a superfície da Terra, esses gases contribuem para aumentar a retenção de calor do Sol na atmosfera.

As temperaturas mais altas estão mudando os padrões climáticos e interrompendo o equilíbrio normal da natureza, representando muitos riscos para os seres humanos e outras formas de vida na Terra. Essas mudanças não se resumem apenas ao aquecimento global, mas a várias mudanças que estão acontecendo em nosso planeta.

Um relatório da OMM (Organização Meteorológica Mundial), que faz parte da Organização Nacional das Nações Unidas (ONU), indicou que entre 2023 e 2027 a população mundial sofrerá com altas temperaturas jamais vistas em anos anteriores. Pesquisadores alertam que o principal motivo desse aumento é o aquecimento global.

AUMENTO DA TEMPERATURA
Entre 2011 e 2020, a superfície da Terra atingiu 1,1ºC a mais que no século anterior. À primeira vista isso parece pouco, mas, na prática, essa elevação pode levar a consequências graves e avassaladoras que afetam não só o clima do planeta, mas as formas de vida que aqui residem.

“Os combustíveis fósseis são os maiores contribuidores para a mudança climática global. À medida que as emissões de gases de efeito estufa cobrem a superfície da Terra, esses gases contribuem para aumentar a retenção de calor do sol na atmosfera”, explica a professora e doutora Doris Veleda, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). As temperaturas mais altas, disse ela, estão mudando os padrões climáticos e interrompendo o equilíbrio normal da natureza, “representando muitos riscos para os seres humanos e outras formas de vida na Terra”.

Entre as soluções que pode[1]riam servir de substitutas aos combustíveis fósseis, estão os biocombustíveis como o etanol e o biodiesel. O primeiro é feito no Brasil, principalmente a partir da cana-de-açúcar, e o segundo, de óleos vegetais como o girassol e a soja. O Brasil é um dos principais países quando o assunto é biocombustíveis, sendo referência mundial na sua produção.

“O etanol é uma commodity ambiental. Ele vem da agricultura, do processo de fotossíntese que se transforma num combustível que acarreta bônus ambiental e não ônus ambiental. Ele tem uma capacidade de promover melhoria ambiental infinitamente superior aos outros combustíveis. Um combustível limpo, que está bastante agregado à questão da sustentabilidade”, esclarece o presidente do Sindaçúcr-PE, Renato Cunha.

MUDANÇAS E IMPACTOS
Para a professora da UFPE, as mudanças não se resumem apenas ao aquecimento global, mas a várias alterações que estão em curso no nosso planeta. Isso inclui o aumento do nível do mar, derretimento de geleiras, aumento das temperaturas oceânicas, diminuição de oxigênio nos oceanos, extremos de chuvas e secas, entre outros fenômenos.

De acordo com Doris Velada, estudos recentes mostram que o aquecimento do planeta está causando uma expansão da circulação global atmosférica na região dos trópicos, indo em direção às regiões polares. Associado a isso, as correntes marítimas que fluem no oeste das bacias oceânicas estão se intensificando e transportando mais calor das regiões equatoriais para as altas latitudes. Esse transporte acaba aumentando as temperaturas dos oceanos nas regiões subtropicais (como o Sul e parte do Sudoeste do Brasil), impactando a vida marinha e a atmosfera.

“A mudança climática também pode impactar a saúde humana ao piorar a qualidade do ar e da água, aumentar a propagação de doenças e alterar a frequência ou intensidade de eventos climáticos extremos”, alerta a especialista.

Segundo o Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a cada 0,5°C de aumento na temperatura global poderemos perceber aumentos na frequência e severidade do calor extremo, além do surgimento de tempestades e secas.

LIMITAR O AQUECIMENTO
Para tentar mitigar esses efeitos, o IPCC afirma que “limitar o aquecimento global a 1,5°C em vez de 2°C acima dos níveis pré-industriais tornaria muito mais fácil alcançar muitos aspectos do desenvolvimento sustentável, com maior potencial para erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades”.

Segundo a professora da UFPE, o aumento da temperatura dos oceanos e a elevação do nível do mar são indicadores do aquecimento do planeta. Devido à alta capacidade térmica da água, se ela apresentar aquecimento acima do normal isso poderá intensificar os processos meteorológicos. O oceano forneceria mais energia para a atmosfera, causando instabilidades e eventos extremos de precipitação em algumas regiões.

“Essas alterações, seja de seca ou extremos de precipitação, afetam a população. As regiões costeiras podem ser afetadas pelo aumento do nível do mar, erosão da linha de costa, enchentes nas cidades etc. O interior dos continentes também seria afetado diferentemente, dependendo dos fatores climáticos locais”, afirmou a professora.

PRODUZINDO ENERGIA LIMPA
Para controlar o aquecimento global, o objetivo principal é que as emissões de gases de efeito estufa diminuam em 43% até 2030 e que haja uma redução quase que total até 2050. Os países estão articulando planos de ação para reduzir as emissões e se adaptarem aos impactos climáticos por meio de contribuições determinadas nacionalmente.

Em julho, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu um acordo entre as nações para zerar a emissão líquida de carbono até 2050. Parar o lançamento de gases de efeito estufa na atmosfera é um dos principais objetivos que impactam diretamente no controle da temperatura global. Nos cenários idealizados pelo IPCC, que mantêm o aquecimento global dentro de 1,5°C, o uso de carvão terá diminuído em 95%, o de petróleo, 60% e da gasolina, cerca de 45% até a data limite estipulada pelas Nações Unidas.

Os cientistas climáticos alertam que a população mundial tem até o ano de 2030 para controlar o contínuo aquecimento global do planeta. Caso isso não seja feito, os especialistas preveem sobre os efeitos irreversíveis que virão, com a ocorrência de mais furacões, chuvas intensas, derretimento de geleiras, aumento do nível do mar, inundações, incêndios florestais, insegurança alimentar, aumento de doenças, desigualdade social, entre outros.

“Basta ver que durante a pandemia, por exemplo, as cidades passaram a melhorar muito com a redução do uso de combustíveis fósseis. Isso ocorreu na fauna, na flora, que conseguiram se regenerar”, aponta Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar-PE, relembrando informações do Relatório de Qualidade do Ar Mundial de 2020, publicado pela IQAir, empresa global de tecnologia e informações sobre qualidade do ar.

Durante o período crítico de lockdown, com a diminuição de veículos movidos a gasolina circulando pelas ruas, assim como a diminuição das demandas industriais, 65% das cidades globais analisadas tiveram uma melhora na qualidade do ar em comparação com 2019. Além disso, aproximadamente 84% dos países pesquisados relataram melhorias gerais na qualidade do ar.

“No aspecto da saúde pública, doenças asmáticas e outras doenças respiratórias podem ser completamente evitadas com o uso do etanol. Daí realmente esse sucesso. É um combustível que nasceu dessas iniciativas, com um ciclo de produção completamente limpo”, reforça Cunha.

REDUÇÃO DO DESPERDÍCIO
Segundo a pesquisadora da UFPE, individualmente existem diversas iniciativas que podem ser tomadas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Entre as ações do dia a dia estão a redução do desperdício de água e alimentos, do uso de plásticos e do desperdício de energia.

Porém, em grande escala, o surgimento do ESG (Environmental, Social, Governance, ou governança ambiental, social e corporativa) tem contribuído no sentido de controlar o avanço das mudanças climáticas. O termo foi cunhado em 2004, em uma publicação da ONG Pacto Global, em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins. Surgiu de uma provocação do secretário-geral da ONU à época, Kofi Annan, a 50 CEOs de grandes instituições financeiras para que tomassem medidas pró-ambientais.

O ESG reúne um conjunto de padrões e boas práticas que visa definir se uma empresa é socialmente consciente, sustentável e corretamente gerenciada, com o intuito de medir o desempenho de sustentabilidade de uma organização. Os três pilares são utilizados como critérios para entender se uma empresa possui sustentabilidade, se é realmente uma opção viável de investimentos sustentáveis, capazes de gerar impactos positivos, financeiros, sociais e ambientais.

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