Etanol, uma segurança energética
Biocombustível produzido principalmente da cana-de-açúcar emite 80% menos gases de efeito estufa que a gasolina
O etanol, por ser mais sustentável e versátil, principalmente comparado à gasolina, assumiu um papel fundamental na transição energética para um modelo de economia global de baixo carbono e menor impacto ambiental. Para se ter uma ideia, o biocombustível produzido por meio da cana-de-açúcar emite, em média, 80% menos de gases de efeito estufa (GEE) quando comparado à gasolina.
Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), mais de 515 milhões de toneladas de gases de efeito estufa deixaram de ser despejadas na atmosfera desde o lançamento dos carros flex no Brasil, em 2003, por conta do etanol. Trata-se de um tipo de energia renovável porque sua fonte é inesgotável ou pode ser regenerada, como é o caso das plantações de cana-de-açúcar.
Com o tratamento adequado do solo, matérias-primas vegetais (a cana, o milho, a beterraba, a mandioca, a batata etc.) podem ser plantadas e replantadas em safras. Por isso, diz-se que elas não se esgotam. É também uma fonte de energia mais limpa. Esses são alguns motivos que explicam o interesse do mercado automotivo em contemplar o etanol nas inovações que contribuem para a descarbonização.
“O que estamos vivendo é uma discussão muito grande no mundo quando se fala da eletrificação dos motores, uma tendência mundial que o setor vai ter que se adaptar. E temos um segundo movimento no mundo, motivo da eletrificação ser tendência, que é o da descarbonização dos processos produtivos do sistema de consumo”, lembra o presidente do Fórum Nacional Sucroenergético e da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos.
No caso do Brasil, o assunto ganha contornos ainda mais otimistas, pois, em função da produção de etanol, tem-se alternativas muito melhores do que a da eletrificação com bateria. “A gente tem a possiblidade de fazer no Brasil a eletrificação dos motores consociados com motores à combustão de forma a entregar ao consumidor não só um produto mais eficiente, mas que possa utilizar o biocombustível”, acrescenta Campos.
Alguns investimentos, inclusive, já vêm sendo anunciados de automóveis sendo lançados na direção do que passou a ser chamado de veículo híbrido flex, que tem um motor à combustão e elétrico, mas pode ser abastecido com etanol. É uma tecnologia que a Toyota já está vendendo com grande aceitação, mas outras montadoras, como a Stellantis, já anunciaram também a intenção de lançar já em 2024.
“A gente está vendo essa tendência dentro da área dos veículos leves para se adaptar a esse processo. Temos números hoje que demonstram que o veículo elétrico no Brasil, se considerar o cômputo de emissões, o que se chama de ‘do poço à roda’ (que considera não apenas a emissão de CO associada à propulsão, mas as emissões correspondentes a todo o ciclo de geração e consumo da energia utilizada), o híbrido flex abastecido com etanol é tão limpo quanto o veículo elétrico”, explica.
Com esse modelo, as fábricas entregam ao consumidor um carro mais barato que o elétrico, tão eficiente quanto e com um consumo de combustível produzido no Brasil. Abre-se, então, um caminho no mundo para o etanol brasileiro porque a molécula do biocombustível (CHOH) contém hidrogênio, tido como o combustível do futuro.
“Temos a possibilidade de fornecer no futuro um hidrogênio que os sistemas de consumo de energia vão precisar para os seus processos. Então, abre-se um mundo de possibilidades para o etanol. Especificamente no sistema de aviação, já se vê muitas coisas sendo estudadas e anunciadas para que se tenha, no futuro, o que a gente chama de SAF (Sustainable Aviation Fuels), combustíveis de aviação sustentáveis”, lembra.
Segundo o presidente da Siamig, as companhias aéreas mundiais também têm o compromisso de entregar uma pegada de carbono menor ao longo dos anos. A forma de fazer isso é produzir SAF, e uma das rotas mais promissoras é a que utiliza o etanol dentro do processo produtivo. “Quando a gente observa o futuro da mobilidade da descarbonização nesses sistemas energéticos, vê o etanol muito bem inserido, não só no que já se tem hoje, mas nas possibilidades futuras”, acrescenta.
O presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco (Sindaçúcar-PE) e presidente executivo da NovaBio, Renato Cunha, lembra que o Brasil conta com valiosos recursos naturais que se completam em aptidões no empreendedorismo, nos recursos humanos e na ciência gerada na academia. “A biomassa, o etanol, o biodiesel, o biometano, o biogás, o hidrogênio verde, o combustível marítimo e o SAF, além das energias hidráulica, solar, eólica e muitas outras fontes renováveis são ativos de uma realidade energética plural que assegurará mais segurança energética para o planeta”, afirma Cunha.