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FÓRUM NORDESTE 2023

Hidrogênio verde: o futuro perto de nós

Fonte energética renovável, inesgotável e não poluente, o H2V traz benefícios à humanidade e pode fazer do Brasil o destaque mundial na produção e exportação do combustível

O hidrogênio verde pode ser usado tanto nos transportes, indústrias e residências e na geração de eletricidadeO hidrogênio verde pode ser usado tanto nos transportes, indústrias e residências e na geração de eletricidade - Foto: EDP / Divulgação

Em um futuro bem próximo, quando o mundo contará com a produção de hidrogênio verde (H2V) em larga escala, uma fonte energética renovável, inesgotável, não poluente, trazendo benefícios ao meio ambiente e à humanidade, o Brasil terá tudo para assumir um papel de destaque na produção e exportação do biocombustível. 

A abundância de recursos naturais como água, vento e sol, imprescindíveis à geração de energia renovável (hídrica, eólica ou solar), eleva o País a um patamar de destaque, especialmente em uma era em que ações em prol da sustentabilidade do planeta ditam as relações socioeconômicas globais.

O hidrogênio é o elemento químico mais abundante na natureza, mas na Terra ele só existe a partir da combinação com outras substâncias, como gases, carvão, petróleo e água. Para utilizá-lo como combustível, então, é preciso fazer a separação. 

O H2V quando consumido libera vapor de água e não carbono, como faz o hidrogênio cinza, hoje produzido a partir de combustíveis fósseis para produção de moléculas químicas maiores, como, por exemplo, amônia, fertilizantes nitrogenados e metanol, e os combustíveis fósseis. 

Uma das principais vantagens do hidrogênio verde é a versatilidade de aplicações: pode ser usado em diversos setores - tanto nos transportes, indústrias e residências como na geração de eletricidade. A principal delas ainda é o transporte, já que o combustível pode ser usado para alimentar veículos elétricos.

No agronegócio, além de colaborar para a descarbonização, é projetado como fonte abundante de matéria-prima para a produção de fertilizantes. A produção do H2V por meio da eletrólise consiste em utilizar a corrente elétrica para separar as moléculas de água (H2O) em hidrogênio e oxigênio. O método, no entanto, demanda uma quantidade alta de energia elétrica. Por isso, é essencial que a fonte dessa energia seja limpa e renovável.

Quando utilizadas fontes renováveis para a realização do processo de eletrólise, produz-se energia sem emitir dióxido de carbono na atmosfera. Além da água, são consideradas matérias-primas renováveis fornecedoras de átomos de hidrogênio a biomassa e os biocombustíveis líquidos e gasosos, como o etanol e o biogás/biometano, por exemplo.

INTERESSE ESTRANGEIRO

O Brasil, por possuir uma geração robusta de energia renovável, tem despertado o interesse de países com dificuldade de cumprir suas metas de descarbonização. Exemplo disso foi o recente anúncio do Comitê Europeu, de investir R$ 10 bilhões em projetos brasileiros de hidrogênio verde. 

Requerer grande volume de energia na fabricação do combustível torna o Brasil o favorito também quando se leva em conta projetos de eólicas offshore (aproveitando a força do vento que sopra em alto-mar, onde alcança uma velocidade maior e mais constante, devido à inexistência de barreiras), que podem dobrar a geração de energia elétrica brasileira.

Suape deve se transformar em espaço de pesquisa, desenvolvimento e inovação para o hidrogênio verdeSuape deve se transformar em espaço de pesquisa, desenvolvimento e inovação para o hidrogênio verde

“Existem oportunidades no País para todos, porque a demanda vai ser muito grande, inclusive para exportação. A Europa vai ter que fazer a neutralização das emissões dela e, pelos cálculos das projeções, eles estão muito longe de ter o quanto precisam. Então, estão de olho na produção do Brasil, tanto é que a gente recebe comissões de lá para conhecer o nosso projeto para buscar parcerias”, afirma a diretora de Inovação e Transformação Digital do Porto de Suape, Adriana Martin.

O Brasil, terceiro país que mais produz energia renovável no mundo, atrás apenas dos EUA e da China, está também entre os mais competitivos em termos de preço. Um estudo da BloombergNEF projeta o País como um dos únicos capazes de oferecer hidrogênio verde a um custo inferior a US$ 1 por quilo até 2030. Considerando o longo prazo (2050), a cifra pode cair para US$ 0,55/kg.

Atualmente, o Brasil não fabrica efetivamente o hidrogênio verde, mas possui plantas-piloto conduzidas em parcerias público-privadas. Um estudo internacional, realizado pela consultoria alemã Roland Berger, aponta que o País tem potencial para se tornar o maior produtor mundial em H2V.

A pesquisa Green Hydrogen Opportunity in Brazil (Oportunidade de Hidrogênio Verde no Brasil), publicada em janeiro deste ano, mostra que o Brasil poderá faturar R$ 150 bilhões por ano com o mercado de H2V até 2050, sendo que R$ 100 bilhões seriam provenientes das exportações da commodity.

H2V NO NORDESTE  

O Nordeste concentra a maior movimentação em torno do H2V. A região quer se posicionar como um polo produtor devido ao alto potencial para geração de energia solar e eólica, além da localização estratégica dos portos em relação ao mercado europeu, o que facilita a exportação. Ceará, Bahia, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte partiram na frente e têm projetos em estágio avançado.

Em Pernambuco, as ferramentas para viabilizar a produção e armazenamento do combustível em larga escala e para exportação estão em fase de desenvolvimento. Com esse foco, foi lançado, em 2022, o TechHub, laboratório de hidrogênio verde, produzido a partir de fontes renováveis e não do combustível fóssil. A iniciativa pioneira transforma o Complexo Industrial Portuário de Suape, no Grande Recife, em um espaço de pesquisa, desenvolvimento e inovação com foco no hidrogênio verde. 

“Pela necessidade que é dada ao hidrogênio verde, há espaço para todos. Aqui (TechHub), estamos do lado do porto. Se a gente quiser exportar, transportar, temos essa facilidade. Temos também energia solar, eólica, energias renováveis que são necessárias para a fabricação do hidrogênio verde, e isso tudo facilita”, lembra Adriana. 

Adriana Martin diz que a regulamentação de como será a comercialização do H2V é o grande desafio no BrasilAdriana Martin diz que a regulamentação de como será a comercialização do H2V é o grande desafio no Brasil

Para a executiva, o Brasil enfrenta três desafios até a produção em grande escala do hidrogênio verde. Um deles diz respeito à regulamentação. “Hoje, o grande desafio é a regulamentação de como será a comercialização do hidrogênio verde. Por exemplo, se eu produzir, posso fazer leilão? Qual o regramento para isso?”, indaga. 

Ela cita alguns esforços do poder público para resolver essas questões, como a criação da Comissão Especial para Debate de Políticas Públicas sobre Hidrogênio Verde (CEHV) e a da comissão especial para estudar medidas para a transição energética no Brasil (ampliação do uso de fontes renováveis e produção de hidrogênio verde) na Câmara Federal, além das iniciativas do Ministério das Minas e Energia. 

UMA ASSOCIAÇÃO

No final de julho último, um grupo de empresas líderes nos setores de energia, tecnologia e agro, que inclui Fortescue, Eletrobras, Comerc Energia, European Energy, Air Products, Messer, Voltalia, Yara, Siemens e Thyssenkrupp, anunciou, em São Paulo, a criação da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV). O objetivo é atuar como uma voz unificada e representativa no desenvolvimento e fomento da produção de H2V e seus derivados no Brasil. 

Todas essas companhias compartilham a visão de impulsionar o H2V como uma solução crucial para a neoindustrialização e sustentabilidade econômica, ambiental do País, bem como para a descarbonização da economia mundial. 

A missão principal da ABIHV é incentivar a criação de condições para que o H2V seja produzido e comercializado de forma mais competitiva e ampla no Brasil, acreditando no potencial dessa indústria emergente para promover um desenvolvimento econômico sustentável e diversificado que, ao mesmo tempo, assegure uma matriz energética mais limpa e de baixo carbono para o País.

“Essa iniciativa é crucial para atrair investimentos e incentivar a implementação de tecnologias inovadoras que impulsionam o desenvolvimento sustentável da indústria”, afirmou Italo Freitas, VP da Eletrobras e membro do Conselho de Administração da ABIHV, no lançamento da associação.

A ABIHV também estabelecerá parcerias de cooperação com instituições internacionais e nacionais que compartilhem objetivos semelhantes aos da associação, de forma a fortalecer as discussões sobre o H2V e promover intercâmbio de conhecimentos e melhores práticas.

CARROS EM TESTE
 
Fora do Brasil, três exemplos mostram o quanto o hidrogênio verde é uma realidade próxima. Em setembro do ano passado, a Siemens e Deutsche Bahn realizaram teste de um trem movido a hidrogênio. A primeira viagem com passageiros deve ocorrer em 2024. Ao longo de 30 anos, cada veículo economizará até 45 mil toneladas de emissões de CO2. 

No final do ano passado, começou a ser testado o primeiro motor de avião movido a hidrogênio verde pela fabricante automobilística Rolls-Royce junto à EasyJet Airlines, companhia aérea britânica. Em Munique, na Alemanha, o BMW Group lançou, em fevereiro último, uma frota piloto de 100 veículos a hidrogênio. O modelo BMW iX5 Hydrogen entra em serviço para fins de demonstração de teste para diferentes grupos-alvo.

No início de julho, a China Petrochemical Corporation, do grupo Sinopec, anunciou o início das operações na sua fábrica de hidrogênio verde na cidade de Kuqa, no noroeste do país. Trata-se da maior usina do tipo em operação na China, sendo capaz de produzir 20 mil toneladas por ano.

O projeto, que começou em março de 2022, é o primeiro da China a produzir mais de 10 mil toneladas de hidrogênio verde usando energia fotovoltaica. Estima-se que isso reduzirá em até 485 mil toneladas as emissões de dióxido de carbono por ano.
 

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