Busca por medicamento para Covid-19 encontra novas perspectivas
Depois de várias tentativas, inclusive com remédios que, posteriormente, se provaram ineficazes, a corrida científica por um remédio parece chegar a uma conclusão.
Fora a vacinação, que continua sendo a principal forma de enfrentar a circulação do novo coronavírus, uma das questões que apontavam para a saída ou, pelo menos, um maior controle da pandemia, ao longo desse mais de um ano e meio de crise sanitária, foi a busca por um medicamento que evitasse o agravamento da Covid-19. Agora, depois de várias tentativas, inclusive com remédios que, posteriormente, se provaram ineficazes, essa corrida científica parece chegar a uma conclusão.
As boas-novas vieram dos Estados Unidos. No início de outubro, a farmacêutica norte-americana MSD anunciou que a droga experimental contra a Covid-19 que ela produz, chamada de molnupiravir, reduziu à metade as possibilidades de internamento ou morte para pacientes vulneráveis a desenvolver a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
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A substância já foi aprovada no Reino Unido. Um mês depois, outro laboratório estaduninense, a Pfizer - a mesma que fabrica os imunizantes - divulgou dados preliminares de um estudo sobre a pílula antiviral Paxlovid, que mostrou uma queda de 89% nas chances de hospitalização.
Esperança
Assim como a chegada da vacina lá no começo de 2021, essas notícias lançam mais uma ponta de esperança pelo simples fato de que, durante todo esse tempo, nunca houve uma medicação comprovadamente eficaz para a infecção. Na falta dela, são usados medicamentos que tratam as complicações da doença, mas não impedem ou inibem a replicação do vírus que a causa.
É o caso, por exemplo, de alguns anti-inflamatórios e corticoides em baixa dose, fora os analgésicos para os sintomas gripais comuns na fase mais leve. Também foram desenvolvidos remédios como o redemsevir, que diminui a carga viral, mas tem aplicação intravenosa e é prescrito para casos graves.
Como explica o infectologista Filipe Prohaska, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), diferentemente dessas outras substâncias, as novas pílulas antivirais visam impedir a replicação do vírus antes que a infecção se agrave, devendo ser tomadas ainda na fase inicial. “Nós temos medicações que lidam com as consequências, mas uma medicação para impedir a replicação viral, não”, afirma.
Para chegar à manipulação nas unidades de saúde, a criação de um medicamento passa por etapas de testes que lembram muito o processo de desenvolvimento das vacinas. “A primeira e a segunda fases avaliam muito a segurança nos seres humanos, especialmente de forma laboratorial. Na fase 3, se fazem testes em humanos de forma controlada. Isso quer dizer que serão selecionados alguns hospitais autorizados onde será feito o protocolo da medicação, e os pesquisadores vão acompanhar os resultados”, detalha o infectologista, acrescentando que essa fase é realizada apenas em locais autorizados por um comitê de ética.
Depois dessa etapa, o medicamento é submetido à análise dos órgãos reguladores e, caso seja aprovado, pode ser administrado para a população. Apesar dessa liberação, a medicação continua a ser observado pelos cientistas, que vão avaliar se aparecem efeitos adversos no longo prazo bem como a eficácia.