Cuida PE: programa do Governo de Pernambuco tem ações em várias áreas
Lançando mão de várias ações estratégicas, programa do Governo do Estado quer diminuir filas, aumentar leitos, acelerar cirurgias e dar estrutura às unidades de saúde
Prestes a completar dois anos à frente da Secretaria de Saúde de Pernambuco, a médica geriatra e paliativista Zilda Cavalcanti não minimiza a complexidade do trabalho que vem gerenciando. Em um Estado onde 88% da população - cerca de 7,5 milhões de pessoas - é de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), oferecer os serviços e a assistência necessária a um público tão numeroso exige investimentos contínuos em ações bem estruturadas.
“O desafio da saúde é gigante, porque ele é multifatorial, envolvendo também outras áreas, como educação, moradia, segurança e trabalho. Ainda mais em um Estado que sofre com uma série de problemas históricos e levando em conta também que a pandemia de Covid-19 veio intensificar essas dificuldades”, pondera a secretária de Saúde de Pernambuco.
CUIDA PE
Uma das heranças negativas deixadas pelo período de crise sanitária global foi o aumento nas filas de pessoas à espera de cirurgias eletivas, exames e consultas especializadas. Pensando em reduzir essa retenção, o Governo de Pernambuco lançou, ainda em março de 2023, o programa Cuida PE, que contempla diferentes ações estratégicas.
As consultas e exames ocorrem através de mutirões nas Unidades Pernambucanas de Atenção Especializada (UPAEs) em todo o Estado, agindo na perspectiva de regionalização do atendimento médico. Outra medida neste sentido foi a aquisição de 24 vans para transportar os pacientes até as sedes das Gerências Regionais de Saúde do Estado (Geres), onde ficam as unidades especializadas.
“O absenteísmo nas consultas e exames é enorme, porque as pessoas têm dificuldade de ir do seu município até as sedes das Geres e acabam perdendo as marcações. Transportamos cerca de 2.500 pacientes por mês com esses veículos”, explica.
Os números mostram o avanço progressivo da fila. Em 2022, foram feitos cerca de 61 mil exames de ressonância magnética através da rede estadual de saúde. No ano seguinte, esse quantitativo foi para 82 mil. A meta atual é encerrar 2024 próximo de 90 mil. Algo parecido ocorreu com as tomografias, que saltaram de 196 mil para 242 mil, entre 2022 e 2023, e têm a estimativa de ultrapassar a casa dos 300 mil até o final de dezembro.
CIRURGIAS
No caso das cirurgias, Zilda Cavalcanti conta que o foco da secretaria está nas maiores filas. Inicialmente, a ideia é diminuir o tempo de espera para a realização de intervenções como colecistectomia (remoção da vesícula biliar), cirurgias de hérnia, histerectomia (remoção do útero), vasectomia (esterilização masculina) e laqueadura (esterilização feminina), sendo alguns desses procedimentos considerados de média e baixa complexidade.
Para a realização das cirurgias, a gestão estadual aposta não somente na sua própria rede de atendimento médico. “Os nossos grandes hospitais têm uma complexidade alta e já funcionam com capacidade máxima. Então, para que a gente consiga atender à demanda, é importante utilizar a rede complementar ao SUS. Isso vem sendo feito. Inclusive, recentemente, a gente publicou um termo de credenciamento que está vigente”, informa.
Em 2023, Pernambuco registrou um recorde de 71.361 cirurgias eletivas realizadas. O número representa o maior quantitativo dos últimos nove anos. Só entre fevereiro e junho de 2024, o Estado contabilizou 32.033 procedimentos. A meta é fechar o ano com um índice superior ao alcançado anteriormente.
OBRAS
Enquanto o volume de atendimentos na área de saúde cresce, o Governo do Estado tem se preocupado também em estruturar suas unidades. Por isso, foi anunciado, em setembro deste ano, o investimento de R$ 84 milhões em obras de manutenção preventiva e corretiva nas seis maiores emergências hospitalares de Pernambuco.
“Nunca houve no nosso Estado um contrato de manutenção de hospitais dessa forma. Existiam pequenas iniciativas de cada um dos hospitais, de forma heterogênea. Mas a governadora Raquel Lyra queria que a Secretaria de Saúde, de forma centralizada, custeasse essas obras. Com o valor disponibilizado, vamos dar uma melhorada em todos os hospitais, trazendo sensação de acolhimento, limpeza e cuidado, com redução de vazamentos e problemas elétricos, na intenção de prestar assistência à saúde da forma mais adequada possível”, aponta.
Serão contempladas com a contratação as emergências dos hospitais Getúlio Vargas, Otávio de Freitas, Barão de Lucena, Agamenon Magalhães e Restauração, todos no Recife, além do Regional do Agreste, em Caruaru.
“Paralelamente a isso, há a reforma do Hospital da Restauração, em curso; a construção do novo Getúlio Vargas, que a governadora divulgou em junho; a reforma do Otávio de Freitas, com a construção de uma emergência; a reforma do Barão de Lucena, na área da hemodiálise e das UTIs; a reforma do Agamenon Magalhães, na emergência cardiológica e emergência clínica”, elenca.
Contabilizando as entregas já feitas pelo Governo de Pernambuco, Zilda Cavalcanti lista o prédio do novo ambulatório do Agamenon Magalhães; cinco salas cirúrgicas equipadas no Hospital Alfa; e um Centro de Imagens no Hospital Dom Moura, em Garanhuns.
Também estão previstas cinco novas maternidades nas cidades de Caruaru, Igarassu, Serra Talhada, Ouricuri e Garanhuns. Estas duas últimas serão financiadas pelo Novo PAC, com investimento de R$ 220 milhões do Governo Federal. As demais serão construídas com recursos estaduais.
“O Hospital da Mulher do Agreste, em Caruaru, começou a ser construído há dez anos, mas nossa gestão encontrou tudo parado. Foram investidos R$ 67 milhões para a conclusão das obras”, relata a secretária, que ainda explica o critério de escolha dos demais municípios contemplados com novas maternidades. “Fizemos uma análise no Estado, levando em consideração mortalidade neonatal e materna, população de mulheres em idade fértil e a distância geográfica até a maternidade mais próxima”, detalha.
NOVOS LEITOS
Neste ano, já foram abertos 252 leitos permanentes pelo Governo de Pernambuco. “Aumentamos muito a quantidade na ortopedia e na pediatria, trabalhando a retaguarda da rede. Com o Cuida PE, temos ainda a previsão de novos leitos cirúrgicos”, adianta. Além disso, foram abertos 48 leitos de assistência ventilatória para os pacientes pediátricos nas UPAs do Estado, atendendo à demanda temporária do período da sazonalidade dos vírus respiratórios.
“Depois da pandemia, a sazonalidade na pediatria se intensificou, e este ano não foi diferente. A gente viveu um período difícil, mas fizemos algumas ações além da abertura dos leitos. Havia pediatra 24 horas atendendo e tirando dúvidas dos médicos generalistas, telessaúde com quase 1.300 consultas, antecipação da vacina da gripe com o Ministério da Saúde e capacitações dos médicos das urgências e emergências para intubação em criança. Foi um investimento de R$ 9 milhões por mês, durante cerca de três meses”, relembra.
Tais estratégias estão contempladas no “Infância Protegida”, plano de contingência pensado para reduzir a mortalidade infantil e a morbidade relacionada à sazonalidade dos vírus respiratórios. O documento tem finalidade semelhante à do Plano Estadual de Contingência das Arboviroses de Pernambuco, lançado ainda no final de 2023, com estratégias para controlar doenças como dengue, zika e chikungunya, mobilizando ações em conjunto com os municípios.
Seguindo uma tendência nacional, os números da dengue no Estado ao longo de 2024 já superaram os apresentados em 2023. Até o mês de setembro, foram aproximadamente 29,7 mil casos confirmados e oito óbitos pela doença. No ano anterior, foram 7,8 mil casos, com três mortes. Apesar do aumento, Pernambuco ficou bem atrás de outras unidades federativas do Brasil, como o Distrito Federal, que já confirmou 277.169 casos e 440 óbitos.
CAPACITAÇÃO
O conjunto de estratégias desenhado pela Secretaria de Saúde envolveu, entre outras ações, a capacitação dos municípios para o combate aos vetores das arboviroses. Essa parceria foi fundamental na busca ativa pelos focos do mosquito Aedes aegypti e também no trabalho educativo nas escolas, visando fortalecer as informações sobre a prevenção às doenças.
O ano de 2024 trouxe uma nova preocupação em relação a arboviroses: a febre do oropouche. Em Pernambuco, de janeiro a setembro, foram 137 pessoas infectadas pela doença e três mortes fetais confirmadas, acendendo um alerta para 2025.
“Temos um desafio gigante pela frente com o oropouche, especialmente pela possibilidade de transmissão vertical (da mãe para o feto). Seguimos ainda com uma dificuldade adicional, que é vetor do vírus ser o maruim. Não existe nenhum inseticida conhecido para esse mosquito, que mede menos de 2 milímetros. Um mosquiteiro ou tela de proteção não consegue barrá-lo. É preocupante, mas temos uma comunidade acadêmica empenhada em conhecer e publicar mais sobre o vírus”, comenta.