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Grupo Acolher: um espaço para pessoas com autismo

Grupo Acolher oferece 11 tipos de terapias para contribuir com o desenvolvimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Grupo Acolher - localizado no município do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do RecifeGrupo Acolher - localizado no município do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife - Foto: Júnior Soares / Folha de Pernambuco

Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) possuem demandas específicas para conviver em sociedade.

Apresentar habilidade para conversar, demonstrar comportamentos comuns para certas idades ou até compreender algumas situações é algo complexo para esses pequenos.

O Grupo Acolher - localizado no município do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife - oferece terapias capazes de transformar a esperança da convivência social funcional em uma realidade para crianças com TEA. 

Com 11 tipos de terapia disponíveis e mais de 70 funcionários, o Grupo Acolher atende 85 crianças atualmente. Até o fim de 2024, graças à demanda de famílias de Jaboatão dos Guararapes que levam suas crianças para atendimento no Cabo, o grupo abrirá uma unidade em Jaboatão Velho.

Segundo Elizabeth Chagas, coordenadora técnica do Grupo Acolher, as terapias têm como principal objetivo trazer para a realidade a esperança de tornar a vida em sociedade mais factível para crianças com TEA. 

“O autismo não é uma doença que tem cura, é um transtorno que vai permanecer ali sempre. Mas uma pessoa com autismo pode deixar de ter os sinais de transtorno e passar a ser uma pessoa mais funcional, com uma condição de vida melhor para se integrar em todos os ambientes”, explica. 

NÍVEIS
O TEA é dividido em três níveis, classificados de acordo com a necessidade de suporte e gravidade das características que a pessoa demonstra, sendo o nível 1 o de mais baixo suporte, o nível 2 de médio suporte e o nível 3 o de mais alto suporte.

O Grupo Acolher oferece tratamento para TEA O Grupo Acolher oferece tratamento para TEA - Júnior Soares / Folha de Pernambuco

“Pessoas com TEA podem transitar entre esses níveis. Então, uma criança no nível de suporte 1  sem estimulação pode chegar a ser um nível de suporte para três e vice-versa”, esclarece a supervisora de ABA (Análise do Comportamento Aplicada) e psicóloga, Vanessa Vieira. 


DIAGNÓSTICOS TARDIOS
Por conta do tanto que se fala do Transtorno do Espectro Autista, há quem diga que é algo recente ou que está sendo super notificado.

A realidade, contudo, é que pessoas com TEA não diagnosticadas estão em todos os lugares, e boa parte aprendeu “na marra”, e nem sempre do jeito certo, como driblar as dificuldades sociais que fazem parte do transtorno. 

Muitas pessoas que recebem o laudo do TEA tardiamente fazem parte do nível 1 de suporte, pois precisaram criar estratégias mentais de forma autônoma para ser funcional em sociedade.

Isso não significa que elas não precisavam de tratamento antes, significa apenas que a vida foi mais difícil por não saber o motivo de todas as dificuldades enfrentadas. 

Wellinton Fabrício, sócio-diretor do Grupo Acolher, foi uma dessas pessoas. Ele recebeu o diagnóstico de TEA nível 1 aos 49 anos. Hoje, aos 50, o diretor consegue perceber o motivo de diversos comportamentos que apresentou durante a vida e que foram alvos de bullying. 

“Descobri que não era para ser daquele jeito. Eu fiquei 15 dias mal, porque eu não deveria ter passado por isso tudo que passei. Mas também naquela época, você não tinha diagnóstico, não tinha nada. Era algo muito raro. Eu era só uma criança diferente em sala de aula, recebia aqueles apelidos pejorativos. Então, hoje em dia está todo mundo muito mais integrado sobre o que é o autismo, as pessoas são mais informadas e há mais cuidado com o diagnóstico”, relata Wellinton Fabrício. 

ETAPAS
Segundo a psicóloga Vanessa Vieira, cada etapa da vida de um bebê ou de uma criança conta com um comportamento típico.

Geralmente essas definições são enumeradas no Cartão de Vacina dos pequenos, para que os pais fiquem atentos tanto a esses comportamentos quanto à frequência das vacinas. 

“Teorias e estudos foram realizados para saber o que a criança deveria estar fazendo e não estar fazendo para a idade. Tudo tem comprovação científica”, esclarece. 

Assim como em uma gestação - na qual o crescimento e desenvolvimento de um feto é comparado a um padrão estabelecido como típico para que o profissional de saúde que atende a gestante possa direcionar o melhor condicionamento e tratamento para que a gravidez seja a mais saudável possível-, a vida de um bebê, de uma criança, de um adolescente e de um adulto também possui uma comparação com o que é considerado típico.

A especialista reforça que TEA não é algo que você desenvolve durante a vida, a pessoa nasce com a condição e apresenta sinais durante a vida. Independentemente de estímulos considerados inadequados, como tempo de exposição à TV ou ao celular, existem marcos que a criança realiza de forma autônoma. 

“O bebê precisa, por exemplo, abrir o olho e virar a cabeça com dois meses de vida. Com seis meses a criança precisa estar sentando. Muitos falavam assim: ‘Vamos esperar o momento da criança falar, cada criança tem seu tempo’. Não. Cada criança deve apresentar um certo comportamento em um determinado momento. Se isso não está acontecendo, há o atraso do desenvolvimento”, detalha Vanessa Vieira. 

IDENTIFICAÇÃO
Graças à atenção a essas fases da vida do bebê, é comum a identificação cada vez mais precisa e precoce do transtorno. Com isso, tratamentos especializados se iniciam ainda na primeira infância (período que vai do nascimento até os seis anos de idade). 

O Grupo Acolher atende todas as idades e, até o momento, a pessoa mais jovem atendida é um bebê de 8 meses, diagnosticado recentemente com TEA. Quanto mais cedo o tratamento é iniciado, mais a neuroplasticidade cerebral é aproveitada. 

“A neuroplasticidade, que está presente em toda a vida da pessoa, faz o cérebro se modelar conforme a estimulação. Mas existe uma faixa etária na qual ela acontece de uma forma muito mais acelerada, até os seis anos. Nessa idade, o cérebro está a todo vapor, por isso a importância da estimulação precoce”, diz Vanessa. 

Nas terapias, as crianças são estimuladas de acordo com suas limitações sociais. Se uma criança tem dificuldade de fala, por exemplo, essa será uma atividade trabalhada através de uma conversação direcionada por um terapeuta. 

TRATAMENTO

Tratamentos oferecidos pelo Grupo AcolherTerapias oferecidas pelo Grupo Acolher - Artes/Folha de Pernambuco

“Após receber o laudo de um neurologista, a criança é indicada para algumas terapias, já especificadas em quantidade e tipos por esse médico”, comenta Elizabeth Chagas.

 Com a definição de quantidades e tipos de terapia recomendados, a família pode buscar o atendimento na Clínica Acolher, que pode ou não sugerir outras abordagens durante o tratamento, sempre em uma conversa com o neurologista responsável pela criança e a família. 

Segundo a coordenadora, o intuito de todos os tratamentos é o mesmo.

“A gente dá uma condição de mostrar para a pessoa com TEA que ela pode, que é capaz, que pode se desenvolver e que pode trabalhar. Essa é a intenção das terapias aqui aplicadas”, reforça Elizabeth Chagas. 

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