Prefeitura do Recife: colhendo os frutos que foram semeados
Em 2024, a Prefeitura do Recife começou a ver os resultados de todo o trabalho feito nos últimos quatro anos, marcados por dificuldades como Covid, H3N2 e ômicron
No modelo tripartite que faz rodar as engrenagens do Sistema Único de Saúde (SUS), cabe aos municípios administrar a atenção primária. A Capital pernambucana encontrou, nos últimos quatro anos, grandes desafios para concretizar essa missão, mas conseguiu contorná-los e avançou significativamente na entrega de serviços de saúde à população, graças aos investimentos na área e a soluções inovadoras.
“Nossa gestão teve início em 2021, um ano ainda muito difícil da pandemia de Covid-19. De lá para cá, passamos por um surto de H3N2, pela ômicron e por uma crise na pediatria com Síndrome Respiratória Aguda Grave em crianças. No meio de tudo isso, conseguimos lançar o programa Recife Cuida e tantas outras ações importantes, e em 2024 é quando a gente começa a colher os frutos do que foi semeado neste período”, recapitula Luciana Albuquerque, secretária de Saúde do Recife.
RECIFE CUIDA
Recife Cuida é o nome do plano estratégico lançado pela Prefeitura do Recife com o objetivo de reestruturar a saúde pública da cidade. Lançado ainda em agosto de 2022, o programa aperfeiçoou a atenção primária na cidade, aumentando o número de profissionais de saúde em atividade na rede municipal e melhorando a infraestrutura das unidades que atendem à população, entre outras medidas.
Para conseguir recompor a rede de atendimento básico do município, a gestão turbinou seu quadro de servidores. Foram chamados 3.520 profissionais aprovados em concurso, entre médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, dentistas, agentes comunitários de saúde e outras categorias, o que representa um recorde de nomeações, levando em conta os últimos 12 anos.
Dos mais de três mil convocados, 350 foram destinados à implantação de 89 novas equipes de Saúde da Família (ESFs). Esse acréscimo faz parte da meta de universalizar a cobertura da Estratégia de Saúde da Família - modelo de atenção básica à saúde adotado no Brasil - para todo o território da Capital, que até novembro do ano passado era de apenas 59%. Aumentando o número de ESFs de 281 para 370, a cobertura na cidade já subiu para 80%, desde o final de 2023. A expectativa é chegar aos 100% em meados de 2025.
“Lançamos as Unidades de Saúde da Família Mais (USF+), praticamente dobrando o número de profissionais atendendo nelas. O horário de atendimento foi ampliado. Agora, é das 7h às 19h, sem intervalo para o almoço, com procedimentos que antes não eram realizados nesses locais”, detalha Luciana.
Ao todo, 59 USF+ integram a rede municipal, o que engloba espaços requalificados e outros construídos do zero, como a USF+ Guilherme Robalinho (Encanta Moça), no Pina, que recebeu investimento de R$ 4,4 milhões e beneficia 12 mil pessoas das comunidades do Bode, Areinha e Beira-Rio.
UPAE
Olhando para a infraestrutura, a prefeitura inaugurou importantes serviços de saúde desde 2021, como a Unidade Pública de Atendimento Especializado (UPAE) da Mustardinha, as Unidades de Saúde da Família Mais (USF +) Encanta Moça e do Poço da Panela, e as Academias da Cidade do Polo Mangue e do Jardim do Poço.
Além disso, 176 unidades de saúde passaram por requalificação e ainda há outras 60 em andamento. Os serviços incluíram reformas do piso ao teto, climatização e compra de novos equipamentos e mobília.
“A gente também investiu em um novo modelo de gestão. Tínhamos 100 unidades da rede sem gestor. Fizemos um grande processo seletivo, contando com uma parceria da Escola Nacional de Administração Pública (Enap). Hoje, temos todas as nossas unidades com gerente e fazemos um monitoramento, vinculando parte do salário desses gestores ao alcance de metas. Além disso, quando o paciente sai do atendimento, já recebe no celular uma avaliação de satisfação do usuário. Pelos indicadores, podemos dizer que tem dado super certo”, celebra.
Em mais uma frente de atuação do Recife Cuida, a prefeitura promoveu mutirões de serviços de saúde, como exames, cirurgias e consultas especializadas, totalizando 160 mil procedimentos. O objetivo era reduzir a fila de espera do SUS, que havia crescido graças à demanda reprimida durante a pandemia de Covid-19. Mais de 70 mil pessoas já foram beneficiadas com as ações, que devem ser mantidas como um complemento ao que já é oferecido cotidianamente na rede de saúde municipal.
REVOLUÇÃO DIGITAL
Outro legado deixado pela atual gestão de saúde na Capital é a revolução digital promovida no sistema. Durante a pandemia, quando a orientação era manter o distanciamento social, o Atende em Casa foi responsável por promover consultas remotas para quase 300 mil pessoas. Por meio do Conecta Recife, plataforma digital da prefeitura, a população pôde agendar de forma online a vacinação. Mesmo com o fim da crise sanitária global, esse processo de digitalização foi mantido e, com o suporte da Empresa Municipal de Informática (Emprel), outros aplicativos e ferramentas digitais foram criados.
“Hoje, temos quase 100% da nossa rede informatizada, com prontuários eletrônicos e uma plataforma que integra todos os dados dos pacientes, desde medicações que ele já tomou, vacinas e exames laboratoriais. Além do profissional, o usuário também pode ter todo o seu histórico na palma da mão com o Minha Saúde Conectada, que fica hospedado no Conecta Recife”, comenta.
GESTANTES
A experiência de consultas remotas na pandemia evoluiu para projetos como o Atende Gestante. “Isso não substitui o pré-natal, mas sabemos o quanto as gestantes - principalmente as de primeira viagem - têm dúvidas que podem ser esclarecidas rapidamente. A gente dá todo o suporte virtualmente, para que ele vá até a unidade de saúde apenas quando for necessário”, pondera.
No que diz respeito às futuras mamães, a Prefeitura do Recife tem focado também em estratégias para reduzir a mortalidade materna e perinatal, ou seja, período que compreende a gravidez, o parto e o puerpério. Com base em estatísticas e estudos científicos, todas as maternidades municipais dispõem de uma Central de Parto Normal (CPN), oferecendo atendimento humanizado e de baixo intervencionismo às gestantes.
Antes e após o nascimento do bebê, as mulheres podem frequentar um dos 22 Espaços Mãe Coruja espalhados pela cidade. Esse local, que visa fortalecer os vínculos familiares e sociais como estimuladores do desenvolvimento infantil, oferece atividades como aulas de yoga para grávidas, shantala para bebês e oficinas educativas. Segundo estimativas do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), o programa já evitou cerca de quatro mil óbitos em dez anos de história.
Pensando também no planejamento familiar da população, a gestão municipal ampliou a oferta de métodos contraceptivos. Desde junho de 2024, as recifenses contam também com o implante anticoncepcional subdérmico, também conhecido como Implanon, que é inserido sob a pele e tem duração de até três anos.
“Esse é um investimento inovador, porque não é um método com custo baixo, mas que traz resultados muito positivos. Começamos com públicos mais vulneráveis, que são as adolescentes e mulheres em situação de rua, para depois ir ampliando”, observa.
SAÚDE MENTAL
Para cuidar da saúde mental de sua população, o Recife conta com uma rede robusta de Centros de Atenção Psicossocial (Caps). São 17 unidades, com a previsão de inauguração de mais uma - dedicada ao público infantil e localizada no bairro do Pina - até o final de 2024. Além de requalificar 11 desses centros, a prefeitura ainda inaugurou, desde 2021, novos serviços de saúde mental.
“A lógica do Centro de Convivência Recomeço Fátima Caio, que é inédito aqui no Recife, é fazer com que os pacientes que já passaram pelo Caps não entrem em crise de novo ou, pelo menos, retardem isso. Lá ele encontra uma equipe multiprofissional, em que o foco não é apenas a psiquiatria. A gente une o acompanhamento psiquiátrico à arte, à atividade física, à terapia com psicólogo e outras possibilidades que vão garantir o bem-estar desse paciente”, aponta.
Estão em funcionamento três Centros TEA - nas UPAEs da Mustardinha, Ibura e Arruda - e mais três serão abertos nos próximos anos. Apesar do nome, esses espaços não atendem apenas crianças e jovens com Transtorno do Espectro Autista, mas também outras condições neurológicas, como TDAH, dislexia e TOD.
Finalizado em dezembro, o Hospital da Criança estará em pleno funcionamento em janeiro de 2025. Com mais de 12 mil m2 de área construída e localizada no bairro de Areias, a unidade conta com 60 leitos, sendo 50 destinados à enfermaria e dez à terapia intensiva (UTI), mais de 14 especialidades e mais de 26 tipos de exames diferentes. Só em 2024, a Prefeitura do Recife aplicou R$ 670 milhões no seu sistema público de saúde.