Preocupação com saúde mental cresceu durante a pandemia
Psicóloga Conceição Pereira observa que tema nunca foi tão falado quanto agora. Procura por atendimentos teve aumento no início da crise sanitária.
Uma das questões mais debatidas desta primeira metade do século 21, a saúde mental ganhou ainda mais destaque durante a pandemia.
Logo no início da crise sanitária, quando o apelo principal era que as pessoas ficassem em casa o máximo de tempo possível, tornou-se comum ver publicações nas mídias e nas redes sociais compartilhando conteúdos com dicas e mensagens sobre como trabalhar as emoções diante de um dos períodos mais desafiadores da História recente.
Para constatar o quanto cresceu o interesse pelo assunto, basta uma olhada rápida nas estatísticas. Uma pesquisa do Instituto Ipsos para o Fórum Econômico Mundial divulgada em abril e realizada em 30 países destacou o Brasil como a quinta nação onde mais pessoas relataram ter percebido uma piora na própria saúde mental após o primeiro ano de pandemia.
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Não à toa, uma análise feita por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) com base em dados do Google Trends já havia notado um aumento de 88% na busca por atendimento psicológico apenas na última semana de março de 2020.
“Nunca se falou tanto em saúde mental e nas questões que envolvem o ser humano. Isso trouxe um certo ganho porque as pessoas, de uma maneira muito geral, ficaram com menos medo de falar o que sentiam”, avalia a Conceição Pereira, psicóloga especialista em Gestão de Crises, Urgências e Catástrofes e integrante do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco (CRP-02).
Ela lembra que o bem-estar psicológico não deve ser visto de forma separada da saúde em geral e que isso explica, em parte, por que o tema adquiriu tanta relevância. “Precisamos pensar a saúde como algo integral. Nosso corpo ‘físico’ sempre vai dar respostas que são também de ordens ‘não físicas’ e que passam pelas emoções, pelas percepções sobre o mundo e si mesmo”, observa.
Desafios à humanidade
Ao trazer à tona desafios e debates complexos como a necessidade de adaptação a mudanças, o agravamento da desigualdade social e a vulnerabilidade diante da morte, a pandemia agravou sintomas psicológicos relativos à ansiedade e à depressão, mas também demonstrou a capacidade de resiliência da humanidade.
“O aparecimento do Sars-Cov-2 nos colocou numa situação em que, às vezes, dentro da nossa casa, não nos sentíamos seguros o suficiente. A vida não tem um abrigo pleno”, avalia a psicóloga Conceição Pereira.
Um dos grandes trunfos que alimentaram essa capacidade de resiliência diante de um cenário trágico foi o avanço da tecnologia digital, que permitiu a comunicação a distância. E com o crescimento das sessões remotas, a psicologia pôde se fortalecer enquanto ciência e prática clínica.
“As pessoas começaram a se dar conta de que as questões da saúde são maiores que a dor física e que a gente tem outras dores que também precisam ser cuidadas”, conclui a especialista.