Rússia acusa COI de tomar partido no conflito com a Ucrânia
Declaração remete ao caso recente em que a esgrimista ucraniana Olga Jarlan se recusou a cumprimentar adversária russa após duelo
A Rússia acusou o Comitê Olímpico Internacional (COI), nesta sexta-feira (28), de agir "no interesse" da Ucrânia, depois que este órgão lançou um apelo para mostrar "sensibilidade" aos atletas ucranianos.
Este pedido do COI parece uma rejeição implícita à decisão da Federação Internacional de Esgrima (FIE) de excluir a esgrimista ucraniana Olga Jarlan dos Mundiais de Milão por se recusar a apertar a mão de sua adversária russa, Anna Smirnova, após derrotá-la na quinta-feira.
Para o chefe do Comitê Olímpico Russo, Stanislav Pozdniakov, "o COI (...) tomou partido no conflito político, passou a agir no interesse desse partido", lamentou em comunicado publicado no Telegram.
O COI pediu às federações internacionais que mostrem "sensibilidade" aos atletas ucranianos.
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"Ambiguidade"
As autoridades ucranianas haviam acabado de autorizar Jarlan, tetracampeã mundial e bronze olímpico em Londres-2012 e Rio-2016, a enfrentar a Rússia, uma mudança na política sobre esta questão aprovada na quarta-feira em decreto do ministério do Esporte da Ucrânia.
Antes, os ucranianos eram proibidos de participar de competições que envolvessem cidadãos russos ou bielorrussos, com exceção do tênis, onde os jogadores competem individualmente.
Foi o caso do esgrimista Igor Reizlin, compatriota de Jarlan, que não pôde enfrentar o russo Vadim Anojin na quarta-feira, horas antes da aprovação do decreto.
Agora, os atletas ucranianos podem participar de competições internacionais com a condição de que russos e bielorrussos participem sob bandeira neutra. Para o COI, esta nova diretriz "permitirá" que os ucranianos "se classifiquem para as Olimpíadas de Paris de 2024".
Esta nova alteração está alinhada com a recomendação do COI, seguida por várias federações internacionais, como a de esgrima (FIE), de reintegrar russos e bielorrussos nas competições mundiais.
Mas, para Pozdniakov, o apelo do COI à "sensibilidade" ilustra "a ambiguidade das chamadas recomendações" internacionais.
"Demandas russofóbicas"
O chefe do Comitê Olímpico Russo mais uma vez acusou o COI de aceitar as "demandas russofóbicas" de Kiev nos últimos meses. Segundo Pozdniakov, a reação do COI mostrou "a atitude que qualquer russo enfrentará daqui para frente nas competições internacionais".
A desclassificação de Olga Jarlan, de 32 anos, ditada pelos regulamentos da FIE em caso de recusa em apertar a mão de seu adversário, foi rotulada na quinta-feira como "absolutamente escandalosa" por Mikhailo Podoliak, assessor próximo do presidente ucraniano Volodimir Zelensky.
Suspensa automaticamente "pelo resto do torneio e pelos próximos 60 dias de temporada ativa", ela não poderá participar do torneio por equipes e suas chances de classificação para os Jogos Olímpicos Paris-2024 diminuem bastante.
Embora o regresso da Ucrânia às competições em que russos e bielorrussos participam sob bandeira neutra abra caminho à sua participação nos Jogos Paris-2024, a Rússia, por sua vez, garante que ainda não sabe "em quais condições" os atletas de seu país poderão participar do evento olímpico, de acordo com Stanislav Pozdniakov.
Kiev ainda não tomou uma decisão sobre boicotar ou não os Jogos. "Estamos esperando a decisão final e se (russos e bielorrussos) poderão participar ou não", disse o ministro ucraniano de Esportes e presidente do Comitê Olímpico Nacional, Vadym Gutzeit, ao jornal Le Monde na terça-feira.
Na quarta-feira, em Paris, o COI não incluiu russos e bielorrussos no convite a atletas de todo o mundo para participar dos Jogos. Seu presidente, Thomas Bach, ainda não forneceu uma data para anunciar a decisão a respeito.