Após cirurgia, Jade quer Los Angeles-2028 e já faz transição de carreira
Ginasta, formada em marketing e com MBA em gestão de pessoas, fala, sem perceber, como uma gestora: 'Sou de uma geração que fazíamos tudo'
Jade Barbosa, de 33 anos, a atleta mais experiente da seleção brasileira de ginástica artística, falou pela primeira vez sobre buscar vaga no time que disputará a Olimpíada de Los Angeles, em 2028. Desde que voltou de Paris-2024, quando o Brasil conquistou o histórico bronze por equipes, ela não havia cravado sua vontade de uma quarta participação em Jogos Olímpicos. Como em dezembro, ela se submeteu a uma cirurgia no joelho, muito se especulou que a edição na capital francesa pudesse ser a sua última participação olímpica.
Em entrevista no CBC & Clubes Expo, evento que foi organizado pelo Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), na última semana, a ginasta afirmou que Los Angeles-2028 está no radar e que, ao mesmo tempo, faz uma transição de carreira.
Jade é formada em marketing e fez MBA em gestão de pessoas. Além disso, é integrante da comissão de atletas da confederação e do Comitê Olímpico do Brasil (COB), ajuda na coreografia das mais jovens e desde 2019 é a designer dos collants da seleção.
— Eu fiz essa cirurgia realmente visando Los Angeles em 2028. Pelo nível de ginástica que eu gostaria de continuar tendo, é importante fazer (a cirurgia) por segurança. Se eu fosse parar eu poderia claramente ficar sem (a cirurgia) — declarou a ginasta, que só irá competir no segundo semestre. — A gente sai de uma Olimpíada e já quer outra, só não falamos. Mas, precisamos entender sobre o corpo, cabeça, e se faz sentido. Porque falando de ginástica, tenho os elementos que são possíveis.
Jade mostrou em Paris-2024 que tem de fato séries e técnica para se manter em alto nível. Ela só não disputou a final do individual geral porque Rebeca (classificada em segundo lugar) e Flávia Saraiva (11º) avançaram e há limite de duas ginastas por país. Jade ficou em 20º no geral.
— Estou muito bem para tudo que tive na carreira. As meninas também querem (competir em LA-2028) e se minha equipe quer...
Transição de carreira
Em suas entrevistas, Jade já costuma falar como "uma gestora", mesmo sem perceber. É jeito como fala, a maneira como mostra estar disponível para o crescimento da modalidade.
Durante o CBC & Clubes Expo, Jade comentou sobre o camp de treinamento da seleção e sobre ajudar na preparação das ginastas para os ciclos olímpicos que virão. Ela se coloca como uma das responsáveis pelo cuidado e ensinamentos para as crianças que estão lotando as escolinhas. Tem olhar diferenciado, para além da competição.
— A cada quatro anos a gente tem a renovação da seleção no primeiro ano do ciclo. Então nós tivemos lá 33 meninas. Há muito tempo que não tínhamos esse número. Estou bem animada para este novo ciclo porque vem muitas crianças e a gente tem de prepará-las, não só para Los Angeles como para muitos (ciclos) que seguirão — disse a ginasta — Sou de uma geração que a gente fazia tudo dentro do ginásio e hoje temos uma equipe multidisciplinar que cada um faz sua função. Por isso a gente se ajuda em todas as etapas e (desenhar o) collant veio muito disso.
Entre as conquistas da modalidade, ela celebra a procura por vagas nas escolinhas de ginástica. Segundo dados do Flamengo, clube da Jade, são 1.500 vagas para meninas a partir dos 3 anos. E há 3 mil em lista de espera.
— É desesperador... uma loucura. No Flamengo tem crianças a partir dos 3 anos, às vezes estão de fralda e collant. Para mim é muito difícil treinar no clube porque eu gosto muito da nova geração. E às vezes tenho de me concentrar para não ficar olhando as crianças. Eu sempre quis popularizar o nosso esporte e ver isso acontecendo para mim é magnífico.
Jade comenta que a questão da transição de carreira está acontecendo de forma natural e com apoio tanto da seleção quanto da confederação.
— Entende-se que em algum momento vamos precisar fazer isso e eles nos deixam confortáveis para a gente fazer quando a gente decidir. Estou contente com o fato de que nos apoiam em qualquer decisão. Eu fiz faculdade e MBA, tudo quanto é curso que aparece no comitê eu agarro. Tenho a formação de ginásio, mas eu também quero ter outra formação para que eu possa fazer o diferencial para frente. Estou buscando isso ao mesmo tempo também estou me preparando (para Los Angeles). Eu me preocupo muito com o futuro da seleção.
Segundo ela, a longevidade no esporte é uma realidade principalmente em função das comissões técnicas multidisciplinares que trabalham no detalhe, segundo a necessidade de cada uma. Jade é de uma geração em que as ginastas mal podiam beber água durante os treinos.
— A gente fazia apresentação na frente do sinal para ganhar alguns trocados para comprar um colchão novo para o ginásio, por exemplo. A gente entende o valor de cada etapa. E a minha filosofia é que tem de estar (na seleção) a melhor equipe possível. Em 2024 eu fiz parte desta melhor equipe. Quando falo que quero dar essa oportunidade para as meninas, é porque tem uma geração muito nova e que a gente tem de tirar tudo dela, para a gente decidir qual é a melhor possibilidade de medalha do Brasil em 2028. Tenho muito esse senso de responsabilidade porque aprendi com a Dani (Hypólito), Daiane (dos Santos) e Laís (Souza). Tenho muito cuidado com a nova geração e feliz que temos tantas crianças para trabalhar. Eu quero ir até Los Angeles, eu vou fazer o máximo.
CBC Expo
Jade foi uma das atrações do Flamengo no CBC Expo. Durante cinco dias, o evento recebeu cerca de 12.500 pessoas, em Campinas (SP). Ao todo, estiveram presentes 515 clubes, 31 Confederações e Ligas Nacionais, 27 Secretarias Estaduais de Esporte e 24 Secretarias Municipais de Esportes de Capitais.
O evento teve cerca de 150 horas de ativações, 140 palestras e 61 reuniões. Além da organização realizada pelo CBC, 18 marcas também estiveram presentes com investimentos em exposições e ativações.