Atleta transgênero pioneira na Olimpíada enaltece apoio da Nova Zelândia
A halterofilista Laurel Hubbard se tornará a primeira mulher sabidamente transgênero a competir nos Jogos Olímpicos
A halterofilista Laurel Hubbard se tornará a primeira mulher sabidamente transgênero a competir nos Jogos Olímpicos após a confirmação da Nova Zelândia de sua participação na equipe nacional de levantamento de peso em Tóquio.
Hubbard, 43, vai competir na categoria superpesado (acima de 87 kg) e será a atleta mais velha dos Jogos em seu esporte. Ela iniciou a transição de gênero aos 35 anos e passou a competir em nível internacional em 2017. Desde então, ganhou oito eventos e seus resultados recentes a credenciam a subir ao pódio no Japão. A favorita ao ouro será a chinesa Li Wenwen.
Leia também
• Primeiro grupo de brasileiros embarca para a Olimpíada de Tóquio
• Rafael Nadal está fora de Wimbledon e da Olimpíada de Tóquio
• FINA valida participação de Etiene Medeiros em mais provas na Olimpíada
"Estou grata pela gentileza e pelo apoio que me foi dado por tantos neozelandeses", disse Hubbard, que não costuma dar entrevistas, em um comunicado divulgado pelo Comitê Olímpico da Nova Zelândia (NZOC) nesta segunda-feira (21).
Após ter quebrado o braço durante a competição nos Jogos da Commonwealth de 2018, ela pensou que sua carreira havia acabado ali. "Seu apoio, seu encorajamento e seu aroha [amor em Maori] me carregaram através da escuridão."
A chefe do NZOC, Kereyn Smith, afirmou se tratar de um "momento histórico no esporte e para a equipe da Nova Zelândia". "Sabemos que há muitas dúvidas sobre a justiça dos atletas transgêneros competindo nos Jogos Olímpicos, mas gostaria de aproveitar essa oportunidade para lembrar a todos que Laurel atendeu a todos os critérios exigidos."
"Como equipe da Nova Zelândia, temos uma forte cultura de inclusão e respeito por todos", completou.
O governo da Nova Zelândia endossou o apoio. "Estamos orgulhosos dela, assim como de todos os nossos atletas, e a apoiaremos em todo o caminho", disse o ministro do Esporte, Grant Robertson.
Hubbard é elegível para competir nos Jogos desde 2015, quando o COI (Comitê Olímpico Internacional) emitiu diretrizes que permitem a atletas transgêneros competir nas categorias femininas desde que seus níveis de testosterona estejam abaixo de 10 nanomoles por litro por pelo menos 12 meses antes de sua primeira competição -e sejam mantidos assim posteriormente.
Por outro lado, algumas pesquisas argumentam que essas diretrizes são insuficientes para mitigar as vantagens biológicas das pessoas que passaram pela puberdade como homens.
Os defensores da inclusão transgênero defendem que o processo de transição diminui essa vantagem consideravelmente e que as diferenças físicas existente entre quaisquer atletas significam que nunca existe um campo de jogo verdadeiramente nivelado.
O grupo de defesa Save Women's Sport Australasia disse que a seleção de Hubbard foi permitida por causa de uma "política falha do COI". "Eles [homens] nos superam em todas as métricas: velocidade, resistência, força. Escolher testosterona é uma pista falsa... Estamos esquecendo a anatomia, o músculo, os órgãos maiores", argumentou a cofundadora do grupo Katherine Deves à Reuters TV.
O COI tem afirmado consistentemente que está comprometido com a inclusão, mas a organização também está revisando suas diretrizes para levar em consideração a "tensão percebida entre justiça/ segurança e inclusão/não discriminação".
A medalha de ouro de Hubbard nos Jogos do Pacífico-2019, em Samoa, quando ela liderou o pódio à frente da campeã dos Jogos da Commonwealth, Feagaiga Stowers, gerou indignação no país anfitrião.
A ex-levantadora de peso da Nova Zelândia Tracey Lambrechs disse que precisou abrir caminho na categoria superpesado para Hubbard. "Quando me disseram para abandonar a categoria porque Laurel obviamente seria a número um, foi de partir o coração", afirmou à TVNZ. "E é uma pena que alguma mulher, em algum lugar, diga: 'Bem, vou perder a oportunidade de ir à Olimpíada, de realizar meu sonho, representar meu país porque uma atleta transgênero é capaz de competir'."
Uma das rivais de Hubbard, a belga Anna Van Bellinghen declarou apoiar a comunidade transgênero e reconheceu que "definir um quadro legal para a participação transgênero em esportes é muito difícil, pois há uma variedade infinita de situações". Para ela, porém, "qualquer pessoa que tenha treinado levantamento de peso em alto nível sabe que essa situação particular é injusta".
Outra atleta transgênero, a ciclista do BMX Chelsea Wolfe viajará para Tóquio como parte da equipe dos Estados Unidos, mas é indicada como suplente e não tem garantia de competir.