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TÊNIS

Bia Haddad consolida sua evolução na semifinal de Roland Garros

Tenista brasileira, muito elogiada pelo ex-treinador Larri Passos, enfrenta nesta quinta-feira a polonesa Iga Swiatek, número 1 do mundo

Bia Haddad Maia comemora ponto na vitória sobre Ons Jabeur Bia Haddad Maia comemora ponto na vitória sobre Ons Jabeur  - Foto: Thomas Samson/AFP

Ao final do jogo contra Ons Jabeur, número 7 do mundo e conhecida como uma das atletas mais talentosas do tênis, Bia Haddad, de 27 anos, colocou a mão à cabeça, parecia não acreditar no que estava vivendo.

A brasileira que já havia marcado a história ao avançar às quartas de final de Roland Garros, venceu a favorita tunisiana e está na semifinal do Grand Slam francês.

Ao superar início de muitos erros, a brasileira foi virou o jogo por 2 sets a 1: 3/6, 7/6 (7/5) e 6/1. Bia é a primeira tenista mulher do país desde Maria Esther Bueno a chegar a esta fase em um Grand Slam — o US Open de 1968 —, a primeira na Era Aberta.

Sua adversária desta quinta-feira, não antes das 11h (de Brasília), será a polonesa Iga Swiatek, número 1 do mundo e bicampeã do torneio, que bateu a americana Coco Gauff em sets diretos: 6/4 e 6/2.

— Desde o começo da minha carreira passei por muitas barreiras. De ganhar o primeiro Future, o primeiro Challenge, de passar para o top 100, depois top 50, top 20, depois ganhar WTA. Tudo isso na minha carreira sempre foi aos poucos. Eu tive que ir me consolidando. Nunca fui uma pessoa rompedora e fenômeno, sempre tive que trabalhar muito duro para confiar em mim —disse Bia, ainda na quadra Philippe Chatrier, a principal do torneio.
 

Superação
Bia, que está apenas na segunda temporada completa da WTA, sofreu com contusões importantes e em 2019 foi suspensa por doping. A atleta, que até agora não havia passado da segunda rodada de um Grand Slam, se reergueu em todas estas situações adversas. Ao GLOBO contou que costuma usar uma ampulheta ou passinhos de cachorro em suas postagens nas redes socias porque “representa o processo”, a caminhada o dia após dia: “É a jornada, a forma como enxergo o tênis e a vida. Dias ruins, dias bons... se entregar ao processo é de fato o que me move.”

O processo é longo, muitas vezes dolorido, ainda mais para uma tenista mulher. Larri Passos, ex-treinador de Bia e de Gustavo Kuerten, o Guga, ex-número 1 do mundo, tricampeão de Roland Garros, lembra parte desta caminhada da atleta. Conta que aos 14 anos ela pediu para os pais para morar em Balneário Camboriú (SC), para treinar com ele, em seu CT de Tênis de alta performance e rendimento.

— A Confederação Brasileira de Tênis havia mandado a Bia para treinar comigo, eu tinha um grupo juvenil forte. E ela passou uma semana, voltou para São Paulo, e disse aos pais que queria treinar lá. Ela era novinha, tinha 14 anos, como ela iria morar lá? Foi. Ela começou a se desafiar aos 14 anos. Ficou com a gente até os 19. Para mim, ela é muito especial, uma menina que entrou na minha vida assim, sempre me desafiando — disse Larri ao Globo, por videochamada dos Estados Unidos.

— Foi incrível. Liguei para o Guga e ele disse: “deu zebra” — completa, ao risos, referindo-se à frase que Guga sempre dizia para sua mãe quando saía vitorioso de quadra.

Chance real de título
Larri Passos afirma que Bia tem total chance de avançar à final. Não apenas pelo tênis apresentado, mas também porque, segundo ele, ela aprendeu a se perdoar durante as partidas e seguir em frente após pontos perdidos. Costuma dizer que circuito ensinou a Bia a jogar ponto a ponto.

— A Bia é a jogadora mais completa do circuito. Poucas sabem jogar como ela. Quem sabe dar slice? Ela voleia, tem saque kick, aberto, invertida, é canhota... Todas as qualidades de que uma jogadora precisa. Está dominando as frustrações e se ajustando após os erros. Acho que ela tem todas as condições de vencer a Iga Swiatek. Tem um jogo muito rápido que a polonesa não gosta — destacou, acrescentando:

— A Bia é destemida, mas é ansiosa. Precisa controlar aquele sorriso que exibe de vez em quando. É concentrar. Tudo o que está acontecendo é mérito dela, da formação dela.

Menina de ouro
Larri fala como se estivesse orientando sua ex-atleta assistindo aos jogos pela TV. Elogiou a equipe atual de Bia Haddad e se emocionou ao lembrar de episódios antigos com a sua “menina de ouro”.

— A mulher jogadora de tênis precisa ser muito guerreira. Vive uma solidão muito grande. Lembro de uma passagem nossa sozinhos na Europa, praticamente nove semanas viajando. Entre Itália e Suíça, ela fez finais em ambos torneios. Eu deixei a minha família em casa e ela tinha 15 anos. Porque eu acreditava — revelou.

Bia teve exemplo em casa. Desde cedo conviveu em um ambiente de esporte. Os avós maternos jogaram tênis por hobby e passaram isso às filhas. O avô paterno era do basquete, assim como o pai. Aos 3 anos ela começou a brincar de tênis com mãe, tia e primos no clube. Também praticou judô, natação e futebol.

—Estou muito feliz pela Bia. Tenho certeza que essa é a primeira de muitas semifinais. Ela pode ir mais longe. É duro? Sim, mas em Grand Slam é sempre assim. Acredito muito no potencial dela — disse Luisa Stefani, medalhista de bronze em Tóquio ao lado de Laura Pigossi, que deixou Roand Garros após eliminações nas duplas feminina e mista.

Próxima do Top 10
Para o ex-tenista e hoje comentarista da ESPN Fernando Meligeni, Bia está em excelente fase e tem conseguido juntar habilidades técnicas e mentais.

— Vejo a Bia preparada, achando saídas durante os jogos. Ela já passou por diversas situações diferenciadas neste processo. Jogos que estava perdendo e virou, que estava ganhando e perdeu set. Mas a verdade é que o resultado final está sendo favorável a ela e isso traz, embora as partidas sejam muito longas, uma confiança extra — destacou, em entrevista ao Globo.

Na Era Aberta do tênis, também conhecida como era profissional, Bia é a primeira brasileira a atingir uma semifinal de Grad Slam. Entre os homens, o último foi o tricampeão de Roland Garros Gustavo Kuerten em 2001. Até agora, a tenista brasileira, que está em 14º, poderá entrar no top 10 no ranking que será divulgado na segunda-feira.

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