Campeonato Brasileiro: "Escondida" e sem transmissão, Série D corre risco de manipulação
Após três rodadas disputadas, com direito a goleada suspeita, CBF está perto de acordo para transmissão de jogos
Em meio ao escândalo de manipulação de partidas revelado pela Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás, uma preocupação rondava os clubes que disputam a Série D do Brasileirão.
Sem direitos de transmissão negociados, as três primeiras rodadas da competição não tiveram televisionamento. Algumas equipes estavam dispostas a fazer transmissões por conta própria, mas a operação não foi autorizada naquele momento. Agora, o torneio está perto de “ver a luz do sol”.
Detentora dos direitos de transmissão da Série D, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) finaliza um acordo para a exibição ao vivo das partidas da quarta divisão nacional.
A confederação ainda não revela nomes, mas diz que o acordo, que está em vias de ser assinado, é com um canal de TV e um serviço de streaming, e ainda inclui a cessão das imagens das partidas à TV Brasil e demais canais públicos, numa tentativa de ampliar o acesso em nível nacional.
A CBF explicou ainda que a operação é complexa e que em breve os detalhes do negócio serão divulgados.
Os principais temores entre as diretorias eram a falta de exposição de patrocinadores e a vulnerabilidade do campeonato à manipulação de partidas para apostas, dada a pouca audiência externa. Agora, a entidade promete que as partidas não exibidas nos veículos do acordo encaminhado serão transmitidas por ela própria ou por clubes e federações envolvidos.
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Divisões inferiores em níveis nacional e estadual, pela pouca visibilidade e suscetibilidade financeira, são algumas das mais visadas por criminosos que buscam cooptar atletas. A própria Série D chegou a ter denúncia de tentativa de manipulação de resultado em 2021. Em fevereiro deste ano, o STJD colocou uma partida da Série C e outra da Série D de 2022 sob suspeita de manipulação, sem especificar quais jogos.
No último dia 16, o presidente do Interporto-TO, Renato Godinho, anunciou que abriu boletim de ocorrência e faria uma investigação interna no elenco após derrota por 8 a 1 para o Iporá-GO na segunda rodada, que levantou suspeitas de manipulação de resultado. A partida, que teve as imagens registradas pela TV Nova Visão, de Iporá, terminou em pedido de demissão do técnico Wesley Edson.
Ao Globo, a CBF explicou que mantém preocupação constante com o tema e explicou que o trabalho de monitoramento das partidas contra manipulação independe de haver ou não transmissão. A entidade diz ainda que subsidiou contratos para federações monitorarem campeonatos por meio da SportRadar — empresa de tecnologia e monitoramento com a qual tem contrato — e que os jogos monitorados pela empresa passaram de 1,5 mil para 6 mil.
Na última edição, a competição foi transmitida pela internet, no serviço de streaming Instat TV, que optou por não seguir com um novo acordo. Diferente das séries A e B, os direitos de transmissão da Série D são negociados diretamente pela CBF, e não pelos clubes, que em troca recebem por custos de logística, como viagens e hospedagens, entre outras questões de operação.
Disputam esta edição clubes tradicionais como Santa Cruz, Santo André, Caxias e Brasil de Pelotas, além de finalistas e semifinalistas de estaduais como Athletic-MG, Retrô-PE, Cascavel-PR e Jacuipense-BA. Do Rio de Janeiro, jogam Nova Iguaçu, Portuguesa e Resende.
A quarta rodada da competição acontece já neste fim de semana, em primeira fase com 14 rodadas prevista para durar até o fim de julho.
A Série D coloca em disputa quatro vagas para a Série C do ano seguinte. Na primeira fase, regionalizada, se classificam quatro equipes em cada um dos oito grupos. Posteriormente, se segue uma fase mata-mata. Os semifinalistas garantem o acesso. O América-RN foi campeão na edição passada, que também teve Amazonas, Pouso Alegre-MG e São Bernardo promovidos à terceirona.