Projeto social

Campo do Café, na Linha do Tiro, é terra onde sonhos do futebol são fomentados

Ex-atacante de Santa Cruz e Sport, Maurício Pantera dá vida a projeto social que visa lapidar e descobrir futuros talentos

Mais de 60 garotos fazem parte da iniciativa, que necessita de ajuda de terceiros para se manterMais de 60 garotos fazem parte da iniciativa, que necessita de ajuda de terceiros para se manter - Foto: Rafael Furtado

 Longe dos gramados desde 2013, quando se aposentou da carreira de jogador de futebol, Maurício Pantera, ex-atacante de Santa Cruz e Sport, decidiu dar o pontapé inicial a um sonho que tinha desde os tempos de boleiro: criar uma escolinha de futebol. Hoje trabalhando como porteiro, o ex-jogador vem conseguindo realizar seu sonho, pouco a pouco, todas as terças e quintas-feiras, no Campo do Café, na Linha do Tiro, onde recebe crianças e adolescentes da região, repletas de sonhos, desejos, mas também cercadas de barreiras e dificuldades.

O projeto é comandado por Pantera e pelo ex-jogador de futsal Luciano Pica-Pau, auxiliados pelo também ex-boleiro Janeilton e por Alejandro, filho de Pantera. Ambos são crias do Alto José Bonifácio, bairro vizinho à Linha do Tiro, um celeiro de jogadores, tanto para o futebol de campo, quanto para o de salão.

"Desde que eu parei de jogar eu tinha esse sonho de fazer uma escolinha. E o Alto José Bonifácio é celeiro de jogadores, seja em campo ou no salão, como Almir Fernandes, Pica-Pau e Paulo Ricardo. Todos eles ajudaram a fazer esse projeto acontecer, além de Janeilton, que também foi jogador, e meu filho, que tentou carreira e não conseguiu. Usamos o campo do bairro, com a permissão do vereador da região, Almir, que cuida aqui do campo", disse.

Todas as terças e quintas, Pantera e Pica-Pau recebem mais de 60 garotos, de diferentes categorias. No momento, ainda estão sem divisão estabelecida, a não ser entre os mais novos, que jogam na terça, e os mais velhos, que jogam na quinta. Pantera, que nunca foi professor, agora se vê na dura tarefa, incluindo comandar mais de 30 crianças entre 5 e 10 anos. “Tem uns pequenos que dão trabalho, mas a gente tem que se impor, falar algumas coisas”, contou.  

Projeto é sonho antigo de Maurício Pantera, ex-jogador de Santa Cruz e SportProjeto é sonho antigo de Mautício Pantera, ex-jogador de Santa Cruz e Sport. Foto: Rafael Furtado

Ensinando fundamentos

As atividades com as crianças não se resumem ao tão aguardado “coletivo”. Com eles, Pantera trabalha jogadas, posicionamentos e explica com detalhes os jeitos de bater na bola. O agora “tio Pantera” destaca que o grande objetivo dentro do futebol no projeto é ensinar os fundamentos para os garotos, que muitas vezes chegam sem saber os básicos, como bater um arremesso lateral.

“Aqui a gente quer ensinar fundamentos do futebol. Tinham alguns que nem sabiam bater na bola, não sabiam bater lateral. Agora, graças a Deus, eles já estão sabendo. Os meninos até perguntam 'tio, vai ter rachão?' e eu digo que não, vai aprender o básico, vai bater pênalti, falta, trabalhar passe. Hoje, graças a Deus, a cada dia que passa, vem chegando mais meninos pra treinar. Aí eu pergunto se já jogou e vejo como eu faço pra trabalhar com mais detalhe os fundamentos", explica.

Os mais de 30 garotos que chegam para os treinos na terça-feira são observados de forma atenciosa por Pantera e sua equipe. Mesmo sem saber de forma detalhada as situações de cada um, sempre levam frutas e outros alimentos para os treinos, para garantir o café da manhã, que alguns meninos não tem em suas casas.

"Aqui é para ajudar. Tem muita coisa que falta, a gente sabe da realidade. Eu compro banana, laranja, melancia, porque quando eles vêm para cá, muitos chegam sem tomar café da manhã. Mas aí tem ajuda da padaria e botamos do bolso da gente também”, conta.

campo do café 3Atividades no Campo do Café vão além do "coletivo". No local, garotos aprendem fundamentos básicos do futebol. Foto: Rafael Furtado

Muitos não têm tênis para treinar

Entre os garotos presentes no treinamento, alguns não possuíam os tênis adequados, outros jogavam sem cadarço, além de mais outros com calçados rasgados ou danificados. Ao final dos treinos, são vários os pedidos para Pantera, que, sempre que pode, leva os sapatos dos garotos para conserto. No entanto, pela dificuldade financeira, não pode garantir para todas as crianças os reparos ou tênis novos.

Pantera destaca o que já vem sendo feito, com apoio de amigos e investimento próprio no projeto, a fim de garantir o básico para o seu funcionamento, mas acredita que, a partir de janeiro, o projeto deverá atender de forma mais específica os garotos inscritos.

"São muitas dificuldades. Muitas crianças não têm um tênis para treinar. Colete, bola, essas coisas, a gente tem aqui, comprando ou com ajuda dos amigos. Em breve as coisas vão se organizando, vai ter uniforme próprio, estamos organizando uma rifa. Mas o que a gente precisa é de dentista, de acompanhamento, ir em casa para saber as condições dessas crianças, levar para exames médicos. Por enquanto, não temos como, mas pretendemos fazer isso a partir de janeiro, para olhar um por um", detalha.

Ainda de acordo com Pantera, as melhorias previstas para o projeto também tem como objetivo deixar os garotos em condições de disputar oportunidades em clubes. O ex-atacante reforça que nos campos de várzea existe qualidade.

"O que a gente quer fazer com esse projeto é que esses meninos fiquem bem e a gente possa chegar nos clubes e pedir que eles olhem direitinho, porque aqui na várzea tem muitos jogadores bons, sempre saem jogadores bons", afirma.

Pantera como inspiração

Criado nas categorias de base do Santa Cruz, Pantera ganhou a oportunidade no time principal em 1996, sob comando de Abel Braga. No ano, marcou 26 gols, entre Pernambucano e Série B. O incrível desempenho com a camisa tricolor chamou a atenção do mercado e, no mesmo ano, após a eliminação do Santa na segunda divisão, foi vendido ao Compostela, da Espanha, por R$ 1,3 milhão (R$ 6.423.685,19, após correção), onde disputou a elite do Campeonato Espanhol e esteve frente a frente com diversos craques do futebol mundial. No entanto, não conseguiu se firmar e logo foi emprestado ao Grêmio e, posteriormente, ao Sport, onde voltou a recuperar a fama de artilheiro, mesmo com a camisa do rival.

Apesar do sucesso repentino nos primeiros anos da carreira, Pantera praticamente rodou o país, após encerrar o contrato de quatro anos com o Compostela. Passou por Al-Jazira (EAU), ABC, Anapolina, Parnahyba, Icasa, Ferroviário, Barras, River-PI, Potiguar, Treze, Santa Quitéria-MA, Sampaio Corrêa, Baraúnas, Alecrim, América-RN, Botafogo-PB, Atlético-BA, Ypiranga-BA, Uruburetama, Vitória da Conquista, Potengi e Santa Cruz-RN.

Além de ensinar os caminhos dentro de campo, Pantera, sempre que possível, passa para as crianças ensinamentos sobre o que viveu nos 17 anos de carreira profissional.

"A gente sabe que muitos daqui não vão virar jogadores, mas que sejam homens, pais de família, que não irão para o caminho das drogas. Sempre tento passar as coisas boas para eles, contando que sempre fui um cara humilde, que nunca fiz coisas erradas, só coisas boas. Saí daqui com 21 anos, fui para a Europa, nunca sonhei em estar lá, joguei ao lado de craques. Acreditei no meu sonho e eu digo isso a eles", conta.

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