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OPERAÇÃO PENALIDADE MÁXIMA

Clubes podem ser punidos? Tudo o que você precisa saber sobre a manipulação de jogos

Investigação do Ministério Público de Goiás começou no ano passado, com jogos da Série B, e já se estende até campeonatos nos Estados Unidos

FutebolFutebol - Foto: Unsplash

A Operação Penalidade Máxima, atualmente na segunda fase, já conta com 35 nomes entre investigados e citados, em um esquema de manipulação de jogos de futebol através de apostas esportivas. Com participações de jogadores que atuam até fora do Brasil, a investigação do Ministério Público de Goiás revela informações cruciais para desmontar o grupo criminoso. Confira abaixo perguntas-chave para entender o caso.

Como funcionam as apostas esportivas?
As apostas esportivas funcionam com uma cota fixa, com o valor do lucro em potencial já previsto no momento da escolha, e não podem sofrer alterações. O total é calculado com base na cotação da aposta (as chamadas "odds"), que é multiplicada pelo montante investido. É possível apostar em diferentes eventos que acontecem durante a partida, como placar final, time vencedor, quantidade de gols marcados, e também os chamados mercados secundários, que englobam número de escanteios, cartões, finalizações e outras estatísticas. Dentro dessas opções, também há outras divisões: as escolhas podem ser feitas direcionadas por jogador, por time, ou até por tempo de jogo em que o evento ocorre.

Como é possível manipular apostas?
A partir dos mercados disponíveis em cada partida, é possível escolher um evento e combinar antecipadamente com um jogador para fazer o resultado da aposta e já determinar o valor a ser pago para o atleta de antemão, levando em conta o lucro a ser recebido com a aposta. Por exemplo: o apostador acerta com determinado jogador que ele irá receber cartão vermelho num jogo específico. Naquela partida, a odd desse evento específico (jogador X vai receber cartão vermelho na partida Y) paga 10 vezes a cada real apostado. Ou seja, se o apostador investir R$ 1 mil nessa aposta terá um lucro de R$ 10 mil e repassará parte do valor ao jogador.

Para obter mais lucro, os apostadores fazem apostas casadas previamente combinadas com diversos jogadores. Dessa forma, o valor apostado será multiplicado pela soma das odds equivalentes à cada aposta. Por exemplo: o apostador faz acordo com jogadores de cinco clubes diferentes para que eles recebam cartão amarelo em suas respectivas partidas daquela semana. Se ele apostar R$ 1 mil e a soma das odds for 15, ele terá um lucro de R$ 15 mil.

Como funcionava o esquema denunciado pelo MP-GO?
Bruno Lopez, apontado como o chefe do esquema de manipulação de jogos, entrava em contato com jogadores, oferecendo uma quantia em dinheiro para cometer infrações. As denúncias mostram combinações para os atletas cometerem pênaltis e receberem cartões amarelos ou vermelhos. A esposa de Bruno, Camila Silva da Motta, era a responsável por fazer a transferência dos valores para os jogadores, em duas parcelas. Primeiro, um adiantamento era depositado na conta dos atletas, e o restante do valor era transferido caso o resultado se confirmasse. Alguns atletas, como Gabriel Tota, que era do Juventude e atualmente está no Ypiranga-RS, também estão sob investigação por aliciarem outros jogadores para participar do esquema criminoso.

Como o esquema foi descoberto?
Em novembro de 2022, o presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, recebeu informações de que Romário, volante do clube, havia sido cooptado por um grupo de apostadores para cometer um pênalti no duelo contra o Sport, na última rodada da Série B. A partir daí, ele iniciou uma investigação preliminar e chegou até Bruno Lopez, líder do grupo e responsável por entrar em contato com os atletas. Em fevereiro deste ano, o Ministério Público de Goiás deflagrou a primeira fase da operação Penalidade Máxima, apontando manipulação em quatro jogos da Série B e denunciando oito jogadores e mais seis integrantes da quadrilha.

As investigações continuaram e a segunda fase, deflagrada na última segunda-feira, revela que o esquema se estendeu até a jogos da MLS, liga de futebol dos Estados Unidos, além de manipular resultados de Estaduais e das Séries A e B do Brasileirão. Sete jogadores foram denunciados, quatro fizeram acordo com o MP para colaborar com a investigação e há ainda mais dezenas de atletas que são citados nas mensagens dos grupo, embora não tenham sido indiciados pelo MP.

O que acontece agora?
Oito jogadores, entre denunciados e citados na investigação, já foram afastados pelos clubes e não disputaram a quinta rodada da Série A, que começou nesta quarta-feira. O ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou que a Polícia Federal instaure um inquérito para realizar “as investigações legalmente cabíveis”. Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, corrobora com a ação da PF para “centralizar as ações” e informa que está “trabalhando em conjunto com a Fifa e outras esferas internacionais para um modelo padrão de investigação”. Ele afirmou ainda que “não há qualquer possibilidade de a competição atual ser suspensa”.

Os clubes podem ser punidos?
Não. Assim como as casas de apostas utilizadas para o esquema, os times que tiveram os jogadores envolvidos na denúncia são tratados como vítimas do grupo de apostadores, lesados pela organização criminosa. Os times também se colocaram à disposição do MP para colaborar com as investigações, além de repudiar os atos criminosos.

O Campeonato Brasileiro pode parar?
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) descarta paralisar o Campeonato Brasileiro. Também não há movimento nesse sentido por parte do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). A CBF deeja se reunir com os clubes para falar sobre o que já está sendo feito e quais medidas ainda pretende tomar para coibir a manipulação de jogos no país.

As apostas esportivas são legais no Brasil?
Em dezembro de 2018, um decreto assinado pelo então presidente Michel Temer (MDB) autorizou a operação das casas de apostas no Brasil. A Medida Provisória 13.756 estabeleceu algumas regras para o funcionamento das apostas de cota-fixa baseada em resultados de temáticas esportivas. A lei determina que as empresas que operam no Brasil sejam sediadas em outros países e não tenham pontos de venda físicos. Ou seja, funcionam apenas através de sites, hospedados em domínios de redes internacionais, e seguem a legislação do país de origem.

Em abril, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu com representantes de casas de apostas para definir as regras da regulamentação, mas a nova Medida Provisória, que deverá ser assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda não está em vigor.

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