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COB elege presidente com Nuzman fora de ação após 40 anos

Acirrado, pleito não contará com Nuzman pela primeira vez em mais de quatro décadas

Eleição também escolherá integrante para Conselho de Ética e oito para Conselho de AdministraçãoEleição também escolherá integrante para Conselho de Ética e oito para Conselho de Administração - Foto: Rafael Bello/COB

O Comitê Olímpico do Brasil (COB) define nesta quarta-feira (7) o seu presidente para os próximos quatro anos, numa disputa acirrada e, pela primeira vez em mais de quatro décadas, sem a presença de Carlos Arthur Nuzman como candidato ou ao menos figura importante na política esportiva nacional.

Desde 1979, o poder do COB não é decidido nas urnas. Na ocasião, Nuzman, que havia assumido a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) quatro anos antes, perdeu a disputa para Sylvio de Magalhães Padilha. O major comandou a entidade por quase três décadas, de 1963 a 1990, período em que teve Nuzman como seu grande opositor.

Jogador de vôlei nas décadas de 1960 e 1970, ele cursou faculdade de Direito e prosperou como dirigente esportivo com a CBV, a partir de 1975. Sob sua gestão, o vôlei se tornou uma das mais modalidades mais populares do país, principalmente depois da seleção masculina que ficou conhecida como "geração de prata", nos Jogos de Los Angeles-1984, e mais tarde com o inédito ouro em Barcelona-1992.

Com popularidade em alta, Nuzman chegou ao cargo máximo do esporte olímpico brasileiro em junho de 1995. O presidente na ocasião era André Richer, ex-vice de Padilha e que após uma articulação passou a ser vice de Nuzman.



Figura centralizadora e visto por críticos como autoritário, o cartola prometia fazer do Brasil uma potência mundial do esporte. Não chegou a tanto, mas o patamar do país nos Jogos se elevou nos últimos anos. Graças principalmente à sanção da Lei Agnelo/Piva, em 2001, que garantiu a destinação de recursos das loterias federais para entidades esportivas.

Ápice do projeto de Nuzman, a realização dos Jogos do Rio, em 2016, provocou também a ruína do dirigente. Um ano depois da realização do evento, ele teve seus bens apreendidos sob suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Investiga-se sua participação em um esquema para compra de votos na escolha da cidade carioca como sede da Olimpíada.

A pedido do Ministério Público Federal, Nuzman chegou a ser preso em 5 de outubro de 2017 e renunciou ao COB dias depois, por meio de uma carta enviada do presídio José Frederico Marques, em Benfica, no Rio de Janeiro.

No documento, ele disse que defenderia sua honra e provaria sua inocência. Em liberdade desde o dia 20 de outubro daquele mesmo ano, após o STJ (Superior Tribunal de Justiça) conceder habeas corpus mediante cumprimento de medidas cautelares, ainda tem esperança de ser absolvido.

Entre as medidas, não pode deixar o país, nem manter contato com os demais investigados. Também está proibido de acessar sedes de entidades esportivas. Por orientação do seu advogado João Francisco Neto, mantém-se praticamente isolado de pessoas ligadas ao esporte.

O ex-presidente do COB costuma fazer caminhadas pelo Leblon e tem como uma de suas paradas preferidas a livraria Argumento, na rua Dias Ferreira. Nessas ocasiões, rechaça quando lhe fazem perguntas relacionadas aos tempos em que foi um dos principais nomes da política esportiva brasileira. A reportagem pediu para entrevistá-lo por meio do seu advogado, mas Nuzman não quis.

Na última das eleições que venceu no comitê, após a Rio-2016, o ambiente político estava conturbado, e o pleito foi parar na Justiça. Alaor Azevedo, presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, chegou a obter uma liminar para competir com Nuzman, mas depois ela foi revogada, já que o opositor não tinha o apoio mínimo de dez confederações -uma exigência da época e que caiu em 2017.

O cartola garantiu o seu sexto mandato, ao lado do vice Paulo Wanderley, 70, que assumiu o posto de mandatário após a renúncia e agora busca a reeleição pregando o fim da "velha política" na entidade, que em 2020 tem um orçamento aprovado de R$ 322 milhões. A assembleia-geral desta quarta será realizada em um hotel na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, a partir das 10h.

Potiguar e ex-presidente da Confederação Brasileira de Judô (2001-2017), Paulo tentará se reeleger diante da concorrência do carioca Helio Meirelles, 68, e do catarinense Rafael Westrupp, 40. Meirelles preside a Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno desde 2002, e Westrupp a de tênis, desde 2017.

O mandato terá duração de quatro anos, de 2021 a 2024. Como a pandemia adiou os Jogos de Tóquio, o período englobará de forma excepcional duas edições olímpicas, no Japão e em Paris.

O voto será secreto e no papel, com a possibilidade de até dois turnos para confirmar o novo presidente, que precisará conquistar a maioria dos 49 votantes. Caso no primeiro turno nenhum dos três concorrentes alcance mais de 25 votos, o que tiver menos apoio será eliminado da disputa.

O colégio é composto pelos dirigentes das 35 confederações olímpicas, 12 representantes da Comissão de Atletas (Cacob) e os dois integrantes brasileiros do Comitê Olímpico Internacional (COI): o ex-jogador de vôlei Bernard Rajzman e Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional.

Ao menos 17 confederações declararam apoio oficialmente a Paulo Wanderley (ele estima ter 22 a seu lado). Westrurpp conseguiu até o momento sete confederações e o voto de Parsons. Meirelles registra cinco apoios. A Cacob, que ainda planeja votar em bloco e deve ser decisiva, tem sido a esperança dos opositores para desbancar o candidato à reeleição.

Tal poder é um marco para os atletas. Desde a oficialização das três candidaturas, no dia 8 de setembro, a comissão sabatinou todos os postulantes aos cargos. "Essa nova realidade, com os atletas sendo ouvidos e sendo importantes nas tomadas de decisão, é histórica e de enorme responsabilidade", diz a ex-nadadora de águas abertas Poliana Okimoto, medalhista de bronze nos Jogos do Rio-2016.

O colégio eleitoral também escolherá nesta quarta um novo integrante para o Conselho de Ética do COB e oito para o Conselho de Administração, sendo sete representantes de confederações e um considerado independente.

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