Com lives e games, irmãos Fittipaldi rejuvenescem público da F1
Ao entrarem nesse mundo, eles conheceram streamers como Gaules, dono do canal brasileiro sobre games com maior audiência na Twitch
Com o carro da Ferrari, Enzo Fittipaldi largou em terceiro no GP Brasil, logo atrás do inglês George Russell e do belga Stoffel Vandoorne. Quando as luzes vermelhas se apagaram, o brasileiro partiu melhor do que os rivais, mas acabou acertando o seu carro na traseira da Mercedes de Russell. Era fim de prova para os dois em Interlagos.
Esses fatos nunca aconteceram na vida real, mas foram vistos por milhares de espectadores que assistiram à transmissão de uma corrida virtual de F1 na plataforma Twitch e no YouTube, em março.
Era uma das primeiras transmissões do streamer Alexandre Gaules em parceria com Enzo e Pietro, netos do bicampeão mundial da categoria Emerson Fittipaldi.
Em março, pouco depois do início da pandemia de coronavírus, Enzo, que correu a última temporada da F3 pela HWA Racelab, e seu irmão Pietro, piloto reserva da Haas e que substituiu Romain Grosjean nas últimas duas etapas da F1 em 2020, decidiram criar um canal para exibir corridas virtuais e bastidores das duas categorias.
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. Com 2,2 milhões de seguidores, ele costuma ter, em média, em suas lives, cerca de 14 mil espectadores por transmissão e já atingiu picos de 387.315 visualizações, segundo o site especializado Sullygnome.
"O Gaules gosta de automobilismo e tem uma comunidade gigante. Está entre os maiores streamers do mundo e nos ajudou muito", diz Pietro à reportagem. "Ele passou a transmitir todas as nossas corridas [virtuais]."
Apadrinhados pelo streamer, os irmãos batizaram o canal de "Fittipaldi Brothers" e começaram a ganhar destaque numa aposta em que a própria F1 passou a investir nos últimos anos, com o objetivo de rejuvenescer o seu público.
Desde o início de 2017, quando a Liberty Media assumiu o controle da FOM (Formula One Management), braço comercial da categoria, atrair audiência jovem passou a ser um dos principais objetivos.
O diretor de pesquisa global da F1, Matt Roberts, afirmou em entrevista recente à Forbes que 14% do público que acompanha as corridas tem menos de 25 anos.
Até a aquisição feita pelo grupo americano, o antigo proprietário, Bernie Ecclestone, ignorava os jovens que gostam de automobilismo. "Prefiro atingir um senhor de 70 anos que tem dinheiro em abundância", chegou a dizer. "Se os marqueteiros almejam essa audiência [mais nova], deveriam anunciar com a Disney."
Depois da saída de Ecclestone, essa visão foi completamente transformada. A Liberty passou a produzir conteúdo para Youtube, Twitter e Instagram. Somados, os perfis nessas redes sociais têm 21,4 milhões de seguidores, que acompanham entrevistas e melhores momentos de treinos e corridas.
A F1 também chegou à Netflix, com a série documental "Drive to Survive", e criou um campeonato virtual. A primeira edição ocorreu em 2017. No ano seguinte, as escuderias oficiais das pistas entraram na competição. Para a temporada 2020, 237 mil gamers tentaram se classificar, segundo a organização.
Na Twitch, onde as etapas são exibidas, o canal da categoria tem pouco mais de 200 mil seguidores, com média de 12 mil espectadores em cada transmissão, e já atingiu picos de cerca de 60 mil.
No início da pandemia, a F1 promoveu corridas virtuais para angariar fundos para vítimas da Covid-19. As provas reuniram pilotos do grid de 2020, como Alexander Albon, Charles Leclerc, Pierre Gasly e Sergio Pérez.
Pilotos reservas e convidados de outros esportes disputaram as corridas, promovidas no jogo F1 2019 para computador.
O game que reproduz o Mundial foi desenvolvido pela Codemasters, estúdio britânico comprado no último dia 14 pela americana EA Sports, em uma transação de US$ 1,2 bilhão (R$ 6,1 bilhões).
Pietro Fittipaldi disputou a etapa beneficente. "Foi um minicampeonato, e foi legal participar para ajudar as vítimas da Covid. O público que assistiu às transmissões se engajou nas doações", afirma o brasileiro.
A pandemia também retardou o início da temporada regular. Com isso, a organização do mundial resolveu promover oito corridas virtuais, novamente com alguns dos pilotos do grid.
Os irmãos Fittipaldi participaram e transmitiram ao vivo em suas lives na Twitch.
Segundo Pietro, participar dessas corridas contribuiu para o seu desempenho nas pistas reais. "Se você faz uma corrida grande no jogo, quer ser competitivo, então toda a preparação é igual para uma corrida real. A gente treinava quarta, quinta, sexta e sábado, para jogar no domingo."
Pietro e Enzo moram na Itália, mas se mudaram temporariamente para os EUA no início da pandemia para ficarem juntos com seus pais, na Carolina do Norte. Lá, compraram simuladores profissionais para treinar e participar das provas.
Quando retornaram à Europa, também passaram a investir na criação de conteúdo sobre suas rotinas, com vídeos nos quais mostram o trabalho junto às equipes. "Faço isso para aproximar o público do nosso mundo, que é bem restrito, principalmente na F1", diz Pietro. "Às vezes, esse público nem estava interessado em F1 antes. Era um público que também veio do Gaules e está começando a gostar."
O neto de Emerson pôde experimentar o resultado dessa aproximação. Enquanto ele disputava os GPs de Sakhir e de Abu Dhabi, substituindo Grosjean, que havia sofrido um acidente, seguidores do seu canal criaram uma torcida chamada Fittiforce.
"Nossas lives tiveram a presença de pessoas com uma energia positiva muito grande, e a gente acabou ganhando torcida na vida real também", comemora o piloto. Na primeira etapa, ele ficou em 17º e, na segunda, em 19º.
Por enquanto, Pietro ainda não definiu junto à Haas se continuará como piloto reserva da equipe em 2021. A vontade dele é conciliar essa tarefa com uma vaga na Indy. Independentemente da categoria em que estiver, ele e o irmão pretendem manter as lives.