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Saúde

Como o ciclo menstrual afeta o rendimento das atletas olímpicas?

Tema da menstruação ainda continua sendo um tabu no esporte

Caroline Jouisse, nadadora olímpica, anota seus ciclos mensturais no celularCaroline Jouisse, nadadora olímpica, anota seus ciclos mensturais no celular - Foto: Vincenzo PINTO / AFP

Desde o ano passado, a nadadora olímpica francesa Caroline Jouisse anota frequentemente os seus ciclos menstruais em seu celular, uma informação preciosa para seus treinadores a poucos meses das Olimpíadas de Paris e um parâmetro cada vez mais estudado pelas federações esportivas.

Esta informação permite o planejamento de sessões intensivas de musculação, preferencialmente no meio e no final de cada ciclo, quando o nível de testosterona está em seu máximo.

"É importante saber quando são os meus picos e testosterona, no momento em que você se sente melhor e no qual será mais forte nos treinos", disse a nadadora de 29 anos que irá disputar a modalidade 10 km em águas abertas nas Olimpíadas de Paris 2024.

Recentemente, o Insep (Instituto francês de Esporte, Especialização e Desempenho) divulgou o programa 'Empow'her', criado para entender melhor o ciclo menstrual e o rendimento esportivo das atletas.

"Você não deve sentir vergonha da menstruação, é um elemento de rendimento como a nutrição e o treinamento", que pode provocar tanto elementos positivos como negativos, afirma Carole Maître, ginecologista do INSEP.

- Apenas 9% dos estudos dedicados à fisiologia feminina -

No ano passado, os treinos de Jouisse foram analisados diariamente por seis meses, (medidas hormonais, cardíacas e psicológicas) e comparados entre as diferentes fases de seu ciclo menstrual.

"Antes de começar o programa, não sabia que havia todas essas fases", disse a nadadora, que realiza 10 sessões de natação e três treinos de musculação por semana nesta etapa de preparação para os Jogos.

Segundo a atleta do esqui cross-country Juliette Ducordeau, o programa 'Empow'her' permitiu que ela descobrisse "tendências bastante impressionantes" sobre seu desempenho e "conhecesse melhor" o seu corpo.

"Os momentos em que minhas sessões são ótimas são durante a fase de ovulação, do primeiro ao 15º dia do ciclo", enquanto os últimos dias são mais difíceis, contou a atleta de 25 anos.

Desde que foi lançado em 2020, 130 atletas francesas de nove federações esportivas participaram da iniciativa, que também busca preencher o vazio a nível científico sobre a fisiologia feminina.

Segundo a coordenadora do programa, Juliana Antero, apenas 9% dos estudos sobre ciências do esporte são focados em mulheres, enquanto 71% são dedicados à fisiologia masculina.

"Existem muito poucos estudos de alta qualidade, por isso, até o momento não há um consenso sobre o impacto da menstruação no desempenho esportivo", afirma a pesquisadora, acrescentando que os sintomas são relativamente semelhantes (dores de cabeça, dores no abdômen, etc), embora a temporalidade e intensidade variem de uma atleta para outra.

 

- Tabu -

O tema da menstruação continua sendo um tabu. A atleta do esqui Clara Direz, ex-participante do programa 'Empow’her', percebeu que seus treinadores, a maioria homens, "se sentem desconfortáveis ao falar sobre o ciclo menstrual e não estão muito envolvidos nem interessados".

"É importante conscientizar as atletas, mas antes de tudo é preciso conscientizar os treinadores", afirma Caroline Jouisse.

Com a proximidade dos Jogos, as federações francesas parecem mais preocupadas: a de ciclismo participou recentemente de um estudo que indica que suas atletas têm um melhor desempenho na metade do ciclo.

Já a federação de natação constatou uma diminuição da frequência cardíaca durante o período menstrual de 14 nadadoras que participaram do programa em 2023.

"Antes era necessário que ela tivesse desconfortos para atender às demandas da paciente esportiva. Agora, estamos sistematizando o acompanhamento", afirma Carole Maître.

Para ampliar o acesso do programa 'Empow’her', Juliana Antero está criando um "kit científico" para acompanhar atletas amadoras.

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