Como times "sem objetivo" podem influenciar disputas por título e permanência no Brasileirão
Campeões e com vagas garantidas na Libertadores, Fluminense e São Paulo são alguns dos clubes que brigam apenas por premiação. Rebaixado, América-MG também não tem pretensões
O Brasileirão caminha para as rodadas derradeiras com cenários indefinidos, tanto no topo quanto na parte de baixo da tabela. Fluminense e São Paulo, campeões da Libertadores e da Copa do Brasil, afastados de chances de título ou rebaixamento, estão garantidos na principal competição sul-americana no ano que vem.
A dupla faz parte de um grupo de times sem grandes objetivos no campeonato, que incluem também equipes já afastadas da zona de rebaixamento e longe da Libertadores, como o Cuiabá (Corinthians e Fortaleza seguem esse caminho) e outras com o rebaixamento definido matematicamente, como América-MG, ou virtualmente, como o Coritiba, com 0,03% de chances de escapar da Série B. E que enfrentarão rivais que buscam título e permanência nas próximas rodadas.
O líder Palmeiras, por exemplo, tem pela frente três dessas equipes: Fortaleza (35ª rodada) América-MG (36ª) e Fluminense (37ª). Na última rodada, visita o Cruzeiro, hoje primeiro integrante da zona de rebaixamento. O alviverde e o Flamengo são quem têm mais confrontos contra equipes “sem compromisso” na parte de cima da tabela — o rubro-negro enfrenta América-MG (35ª), Cuiabá (37ª) e São Paulo (38ª). Já na luta contra queda, é o Bahia, que tenta se afastar do Z4 e ainda enfrenta Corinthians (35ª), São Paulo (36ª) e América-MG (37ª).
Se analisado de forma histórica, são oportunidades em que os times “com interesses” estarão mais propensos a pontuar. O GLOBO vasculhou os caminhos de equipes que ficaram sem objetivo nas cinco últimas rodadas das três edições mais recentes do Brasileirão, de 2020 a 2022. O levantamento revela uma tendência a jogos acessíveis: foram 68 partidas — excluindo confrontos diretos — dessas equipes, com 33 derrotas, 18 vitórias e 17 empates. Ou seja: os “coadjuvantes” têm um aproveitamento de apenas 34,8% no momento derradeiro do campeonato, um número que levaria um time à Série B.
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Motivação financeira
Se não há objetivo competitivo em jogo, existe uma motivação: a financeira. No atual modelo do Brasileiro, a diferença de posições na tabela vale muito para a premiação final, que em alguns clubes pode até chegar direta ou indiretamente ao elenco. Mas que também é importantíssima para que equipes sigam com capacidade de manter a folha e se reforçar na temporada seguinte. No caso do Cuiabá, por exemplo, é de suma importância num quarto ano seguido na Série A.
No Fluminense, há recomendação interna para que a equipe chegue o mais longe possível no Brasileiro, mesmo com o Mundial de Clubes no horizonte (o time estreia na competição no dia 18 de dezembro). Hoje na oitava colocação, o tricolor embolsaria cerca de R$ 29,2 milhões de premiação, valor que poderia subir R$ 2,3 milhões caso termine uma posição acima (atualmente, à distância de quatro pontos). Ao mesmo tempo, a distância do Flu para a 13ª colocação, hoje com o Internacional, é de apenas quatro pontos. Uma diferença de posições que vale R$ 12,2 milhões, comparadas as premiações.
— Vamos pensar no que é importante com o Fluminense. Se precisar mexer no time, pensando no Mundial, vamos fazer isso. Mas a gente vai respeitar a competição até o final. Ser um fiel da balança não passa na cabeça. O que passa é jogar com o máximo de seriedade possível e pensar nas coisas do Fluminense — afirmou o técnico Fernando Diniz após o empate em 1 a 1 com o Flamengo, segundo jogo após o título da Libertadores, quando escalou os titulares. Contra o Internacional (0 a 0), primeiro, já havia colocado parte deles em campo.
No São Paulo, houve comoção inicial para eliminar as chances de rebaixamento, mas o time segue com boa campanha no Brasileiro: foram dez jogos depois da final, com cinco vitórias, dois empates e três derrotas. A premiação também é importante para o tricolor (hoje seria de 24,7 milhões pela 10ª colocação), que ainda não vive situação financeira confortável.
— Não pretendo antecipar (férias) de maneira nenhuma. Temos um cronograma que já foi para a diretoria. Quem manda em férias é a diretoria, não tem o envolvimento da comissão técnica. Tudo que for determinado vamos cumprir — afirmou o técnico Dorival Júnior no último domingo.