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SELEÇÃO BRASILEIRA

De choro e tristeza a figura internacional de luta: Vini Jr. é o protagonista de Espanha x Brasil

Atacante encabeça campanha de CBF e RFEF contra o racismo no futebol, motivadora do amistoso

Vinicius com Yamal (esquerda), Nico Williams e Rodrygo (direita) Vinicius com Yamal (esquerda), Nico Williams e Rodrygo (direita)  - Foto: Divulgação/RFEF

O gramado em que Vinícius Júnior pisará hoje não é novo. Depois de boa atuação na vitória sobre a Inglaterra, sábado, o jogador volta a campo pela seleção brasileira num segundo amistoso, contra a Espanha, às 17h30, no Santiago Bernabéu.

Se o estádio é sua casa quando veste a camisa do Real Madrid, a Espanha, pelo menos em suas arquibancadas, não tem sido um grande lar para Vini, alvo de uma série de ataques racistas desde que virou protagonista em Madri.

Ontem, em entrevista coletiva antes da partida, o camisa 7 da seleção brasileira chorou ao comentar o que tem vivido nos últimos anos. Perguntado sobre a luta antirracista, ele disse brigar por um futuro de igualdade e respeito.

— Se fosse por mim, eu já teria desistido. Fico dentro de casa, ninguém vai me xingar, fazer nada comigo. Vou com a cabeça centrada nos jogos, para que eu possa fazer o melhor para minha equipe. Nem sempre é possível, tenho que me concentrar muito, todos os dias... (choro) Eu só quero jogar futebol, fazer de tudo pelo meu clube e pela minha família — desabafou, sob aplausos.

Em outro momento da entrevista, Vini fez críticas à imprensa da Espanha e se disse “cada dia mais triste”.

— Não podem ver o que realmente está acontecendo, que cada vez estou mais triste, tenho menos vontade de jogar. Mas vou seguir lutando.
 

O amistoso de hoje é uma iniciativa conjunta da CBF e da RFEF, a federação espanhola, no combate ao racismo no futebol. A partida foi anunciada em junho do ano passado, sob o lema “uma só pele”. Ontem, Vini e Rodrygo, companheiros de Real Madrid, posaram ao lado dos atacantes Lamine Yamal (Barcelona) e Nico Williams (Athletic Bilbao), jogadores da seleção da Espanha, com as camisas das duas equipes. Dirigentes de ambas as seleções também se encontraram, e a CBF fala em campanha de impacto global de combate ao racismo.

Vini também posou para vídeos com agasalho especial da seleção, na cor preta, com o escudo da CBF transformado em uma impressão digital. "Uma só identidade", diz a peça.

— Não há mais espaço para racistas no futebol. Esse será o recado claro que vamos dar nesta terça-feira para todo mundo — destacou Ednaldo Rodrigues, presidente da confederação brasileira, primeiro negro a ocupar o cargo.

Pelos vários ataques racistas que Vinícius sofreu, La Liga já ultrapassou dez denúncias, mas, até aqui, não houve punições esportivas às equipes envolvidas. Em maio do ano passado, a polícia do país chegou a prender sete suspeitos de injúria racial contra o atleta, mas liberou três deles após depoimento. Sempre que é alvo de racismo, o atacante se posiciona publicamente e cobra providências das autoridades.

— A cada denúncia, cada vez mais as pessoas me insultam. Eles pensam que estou contra a Espanha, mas não estou contra a Espanha, estou contra os racistas do mundo, de toda parte. Quero igualdade. Depois de um ano, tive muitos contatos, reuniões, conversas com pessoas que querem fazer as coisas evoluírem e outras que só querem escutar o que eu tenho para falar, mas não querem colocar nada para frente. Todo dia tenho que botar minha cara aqui, quem gosta de mim vai falar bem, quem não gosta vai falar mal — relata o jogador, que diz pedir sempre ajuda a confederações e instituições do futebol mundial. — LaLiga está evoluindo, tentando melhorar, mas as coisas (leis) da Espanha não deixam eles fazerem tanta coisa. Às vezes é complicado, não posso falar da Liga, eles tiveram reuniões comigo, querem evoluir, mas aqui o racismo não é crime. É meio complicado para eles. Os jogadores também estão me ajudando.

Endrick no banco
Em outubro, Vini foi condecorado com o prêmio Sócrates, na cerimônia da Bola de Ouro, pela luta antirracista. O atacante, que afirmou não pensar em deixar a Espanha — “Se saio daqui, dou aos racistas o que eles querem”, disse — também tem ganhado força do Real Madrid, que inclusive o recebeu, no mesmo Bernabéu, com homenagem após o caso de ataques mais pesados que sofreu, em Valencia, em maio do ano passado. Agora, pisa pela primeira vez no estádio vestindo a Amarelinha, com toda a importância que merece, como figura e atleta.

Ontem, o técnico Dorival Júnior descartou iniciar a partida com Endrick como titular, mas sinalizou que o jovem de 17 anos, já negociado com o Real e autor do gol da vitória sobre a Inglaterra, terá minutos na partida.

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