'Dinheiro novo é dinheiro bom, não importa se muito ou pouco', diz gerente do Atlético-MG
Felipe Ribbe, palestrante da Rio Innovation Week e responsável pelo primeiro fan token e leilão de NFT de um clube de futebol no Brasil fala sobre a necessidade de trazer novas receitas para os clubes
No fim de maio do ano passado, um colecionador de arte nos Estados Unidos arrematou uma obra que retrata a histórica defesa do goleiro Victor contra o Tijuana, na Libertadores de 2013, por cerca de US$ 5 mil. Seria só mais um leilão se não fosse o primeiro promovido por um clube de futebol no Brasil no universo NFT (token não fungível, na sigla em inglês, uma espécie de certificado de autenticidade de um objeto digital, seja ele um vídeo, um gif, um card). Ou seja, o quadro “2013 – São Victor”, na verdade, é virtual e foi arrematado em criptomoedas. A experiência digital que tem sido cada vez mais recorrente no mundo das artes plásticas teve o Atlético-MG como o segundo clube do mundo a participar — o primeiro foi o PSG.
A ideia veio de Felipe Ribbe, de 36 anos, gerente de inovação do clube desde março de 2021. Jornalista e especializado em gestão de inovação, ele foi o primeiro profissional do Brasil a ocupar tal cargo num clube de futebol e o pioneiro em inserir um time nacional no universo cripto. Ele estará na Rio Innovation Week, maior evento de inovação da América Latina, na próxima quinta-feira, às 11h30, no Jockey Clube, falando sobre inovação no futebol e os desafios de criar novos produtos dentro de um esporte tão tradicional.
O que faz um profissional de inovação dentro de um clube de futebol?
A principal função é trazer novas fontes de receita. No Atlético, falamos muito a frase: “Dinheiro novo é dinheiro bom, não importa se muito ou pouco”. Há outros pontos nos quais trabalhamos que ainda não trazem receita, mas queremos experimentar pois acreditamos haver ligação com tecnologias que irão modificar bastante a sociedade no futuro. Posicionar o clube como pioneiro é muito importante também em termos de marca, traz oportunidades de negócio.
Que tecnologia entra nesse exemplo de “experimentação que ainda não traz dinheiro”?
É o caso da realidade aumentada. Queremos aprender fazendo para transformar isso numa fonte de receita depois. Hoje, no nosso aplicativo, você consegue colocar o Hulk para fazer embaixadinha na sua casa, tirar foto e fazer vídeo com alguns dos jogadores e jogadoras. Apesar dessas funcionalidades não gerarem dinheiro direto, fizeram crescer demais o uso do aplicativo. E o objetivo era aumentar a atratividade do app, muito maisdo que gerar dinheiro diretamente agora.
Dentro das ações da área de inovação, o que tem trazido dinheiro?
As iniciativas do universo de criptomoeda. Fomos o segundo clube do mundo, só atrás do PSG, a fazer um leilão de uma obra de arte em formato NFT. Lançamos um conjunto de camisas históricas do Atlético, também em NFT, e vendemos mais de seis mil. Quem completasse a coleção desbloqueava prêmios no mundo real também. Ainda fomos o primeiro clube do Brasil a lançar o fan token que, no dia do lançamento, rendeu US$ 850 mil direto para os cofres (o chamado “token de utilidade” permite aos torcedores participarem de ações como escolha da decoração do ônibus, da braçadeira de capitão, sorteios de ingressos e outros benefícios). Hoje, Corinthians, Flamengo e São Paulo já têm fan token também, que é uma ação complementar ao sócio torcedor.
Quais as maiores dificuldades da área de inovação nesse meio? Muitos torcedores, afinal , querem ver é o time se dando bem no campeonato.
O grande desafio é fazer com que as nossas ações sejam cada vez menos dependentes do que acontece dentro de campo. Afinal, só um time é campeão, não é? Se olharmos somente por essa ótica, teoricamente só um clube conseguiria fazer alguma coisa fora de campo. Quando lançamos nossa primeira iniciativa de NFT, armamos uma coletiva, explicamos tudo certinho e a primeira pergunta, de fato, foi: “Tudo bem, mas quanto o Atlético vai ganhar nisso?” A minha resposta foi: “Não faço a menor ideia”. O pessoal ficou um pouco chocado, afinal, como estávamos entrando numa coisa sem saber quanto íamos ganhar? Mas é muito disso: com algo novo, você só vai saber se fizer. E teve uma situação engraçada. Anunciamos o acordo para ter realidade aumentada uma ou duas semanas antes do jogo contra o Cruzeiro no estadual do ano passado. Perdemos de 1 x 0. Teve gente me marcando no Twitter dizendo “que realidade aumentada o que, eu quero é bola na rede” (risos). Mas, sem dúvida nenhuma, o grande desafio são os clubes conseguirem que suas gestões não sejam pautadas pelo imediatismo que o campo geralmente tem.
Então, ainda dá para dizer que a ótima temporada do clube ajudou o seu setor nesse ano?
Foi um ano maravilhoso, sim. Obviamente, influencia. De repente, se não tivesse sido bom, eu poderia estar contando uma história diferente. Por isso, repito: esse é o grande desafio. Inovar, criar novos produtos e fontes de receita, sem depender tanto assim do que acontece dentro do campo.
Entre 13 e 16 de janeiro, o Jockey Club, na Gávea, recebe a Rio Innovation Week, maior encontro de inovação da América Latina. O GLOBO, CBN e Valor Econômico são parceiros de mídia do evento, que terá, na programação, nomes como Richard Branson, fundador do grupo Virgin, e Steve Wozniak, cofundador da Apple. Nos diversos palcos, haverá discussões sobre saúde, sustentabilidade, agronegócio, startups e diversos outros assuntos.