Logo Folha de Pernambuco

Jogos Paralímpicos de Inverno

Do asfalto à neve: conheça Cristian Ribera, esperança do Brasil na Paralimpíada de Inverno

Esquiador de Rondônia foi prata no Mundial, na Noruega, e pode conquistar primeira medalha do país

Atleta Cristian Ribera em preparação na neve Atleta Cristian Ribera em preparação na neve  - Foto: Marcio Rodrigues/CPB

O Brasil, que nunca conquistou medalha em Jogos Olímpicos de Inverno, pode quebrar o tabu com o esporte paralímpico. É que o país tem esperança de pódio inédito com Cristian Ribera, de 19 anos, do esqui cross-country. Atual nº 6 do mundo, ele acabou de conquistar a prata no Mundial de Esqui Paralímpico, na prova de velocidade, disputado em janeiro, na Noruega.

Cristian já é dono da melhor colocação do país na neve: em PyeongChang-2018, ele foi sexto, aos 15 anos. O melhor resultado olímpico é o nono lugar de Isabel Clark, no snowboard, em Turim-2006. A Paralimpíada de Pequim começa na próxima sexta-feira (04).

Será a terceira participação do Brasil em Jogos Paralímpicos de Inverno. A primeira foi em 2014, em Sochi, na Rússia, com dois atletas. Em PyeongChang, na Coreia do Sul, foram três. Segundo Gustavo Haidar, supervisor técnico paralímpico da Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN), a confederação investe no paralímpico há 12 anos (R$ 1,5 milhão por ano).

Além de Cristian, o Brasil terá Aline Rocha, Guilherme Cruz Rocha, Robelson Moreira Lula e Wesley dos Santos (esqui cross-country) e André Barbieri (snowboard).

Dos seis, apenas Cristian tem doença congênita. Os outros tiveram lesões na medula ou precisaram amputar após acidentes ou doença. Cristian nasceu em Cerejeiras (RO) com artrogripose, doença nas articulações das extremidades. Pequeno, passou por 21 cirurgias nas pernas. Ele disputará quatro provas, sendo três individuais, e é favorito no sprint de 1 km.

Cristian e a família saíram de Rondônia para que ele tivesse acesso a tratamento. Com a mãe Solange, que era doméstica, se mudou para Jundiaí (SP). O pai Arão, caminhoneiro, e os quatro irmãos chegaram depois. Além de Fábio, de 27 anos, que é treinador, a irmã caçula Eduarda, de 17 anos, também é atleta do esqui. Ela substituiu Bruna Moura, que sofreu acidente de carro, nos Jogos Olímpicos de Inverno.

— Até os 9 anos eu tinha o sonho de andar... Foi uma infância turbulenta, mas consegui aproveitar também. Aprendi que era diferente e que isso não necessariamente era ruim — contou o atleta, que começou no esporte de inverno aos 13 anos.

— Sempre fui curioso. E quando me falaram de uma “vivência de esporte de inverno” quis entender como ia esquiar sem neve. Gostei muito porque requer equilíbrio, força e agilidade.

Cristian conta que sua preparação para a Paralimpíada foi feita quase inteiramente no Brasil, no calor do asfalto do interior paulista. A CBDN tem um centro de treinamento em São Carlos e os atletas usam rollereski (esqui de rodinhas) para simular os movimentos do esqui convencional. Cristian compete sentado, em equipamento confeccionado para ele.

— Simula bastante a técnica, mas tem diferença nas curvas. No roller, é preciso empinar a cadeirinha para depois guiar. Na neve, se fizer mais força para um lado do que para outro, a cadeirinha vira. É preciso mais equilíbrio — diz Cristian, que entre os feitos conquistou a primeira medalha em Copa do Mundo para o Brasil (prata e bronze Finlândia , em 2018).

Os atletas da seleção passam de três a quatro meses na neve. Geralmente ficam um mês na América do Sul, em Ushuaia, e de dois a três na Europa, entre Finlândia, Suécia, Noruega e Alemanha.

— Fico feliz com a possibilidade de estar entre os medalhistas paralímpicos e olímpicos. Não são muitos. Mas não penso nisso nem em quebrar tabu. Se a medalha não vier, terei muitos anos para tentar ainda.

O projeto da CBDN do qual ele faz parte tem apoio da Fundação Agitos, braço de desenvolvimento do Comitê Paralímpico Internacional e tinha como meta ver um brasileiro disputando medalha nos Jogos de 2030. Cristian está à frente do tempo e já é uma realidade.

Veja também

Preparação física projeta elenco do Náutico "90% apto" já no início do Pernambucano
Futebol

Preparação física projeta elenco do Náutico "90% apto" já no início do Pernambucano

Holanda bate a Alemanha, avança à sua 1ª final de Copa Davis e aguarda Itália ou Austrália
Tênis

Holanda bate a Alemanha, avança à sua 1ª final de Copa Davis e aguarda Itália ou Austrália

Newsletter