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Tênis

Em busca de mais apoio, tenista pernambucana de oito anos é exemplo de dedicação ao esporte

Agnely Araújo precisa de mais receita para disputar o Fest Tênis, de 12 a 14 de abril, em Natal

Agnely Araújo, tenista pernambucana de oito anos Agnely Araújo, tenista pernambucana de oito anos  - Foto: Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco

Há certos impulsos na vida que não conseguimos encontrar explicação. Logo no primeiro contato transformamos aquilo que nos mexeu em propósito e por mais que obstáculos surjam ainda no começo da caminhada, nada disso parece ser forte o suficiente para frear o sonho. Agnely Araújo, de somente oito anos de idade, anseia em viver a sua paixão pelo tênis, e mesmo tão nova é um grande exemplo de superação em face das dificuldades financeiras e pouco investimento nos esportes brasileiros. 

Solidariedade 

Contando com pouca disponibilidade de verba, a família recebe auxílio dos amigos para conseguir arrecadar dinheiro para cobrir as despesas com transporte, viagens, materiais e inscrições nas competições. “Não temos patrocínio, contamos com a ajuda de amigos. Tem um grupo do Parque Santana que nos ajuda arrecadando dinheiro para poder bancar alguns torneios dela, mas é algo que fica pesado para eles também e eu acabo pedindo para outros amigos”, começou Ronaldo Vicente, pai da atleta. 

“Se a gente não conseguir um apoio até o final do mês, nós não vamos para o Fest Tênis em Natal - 12 a 14 de abril -  ou em Brasília, que são os dois mais próximos”, relatou.  No ano passado, Agnely foi campeã do Fest Tênis, na categoria até 10 anos, na etapa do Recife. A disputa é uma das mais tradicionais da categoria de base.    

Origem  

Tudo começou como uma paixão à primeira vista. Ainda aos cinco anos de idade, durante um passeio com o pai no Parque Santana, na zona norte do Recife, Agnely se deparou com adultos jogando tênis nas quadras do local. Logo de imediato, as raquetes despertaram algo na pequena, que não exitou em pedir para jogar. 

Naquela oportunidade, Ronaldo teve que dizer não para filha, alegando que era necessário ter todo o material para conseguir jogar. Ainda assim, Agnely não se desanimou e, encantada com o esporte, contou para sua mãe, Maria José, sobre a vontade que tinha de experimentar a modalidade. “Naquele dia eu voltei correndo para casa e falei para a minha mãe de uma novidade, que eu tinha visto uma quadra de tênis e que eu queria jogar lá. Ela ficou sem entender do que eu estava falando, sem saber o que era aquilo”, relembrou. 

Mesmo passado algum tempo, Agnely ainda sonhava com o tênis e a possibilidade de desfrutar do esporte, independente se isso fosse com os melhores materiais ou não. 

“A gente falou que não tínhamos condições de comprar material para ela jogar, já que são caros. Aí uma vez, quando fomos comprar o material escolar dela, aproveitamos e compramos uma raquete de brinquedo, baratinha mesmo e isso para ela foi o maior presente do mundo. Hoje Agnely é o que é por conta desse empenho”, disse Ronaldo. 

A família é de origem humilde e não conta com um histórico de pessoas que puderam usufruir de um esporte como o tênis, que ainda é muito ligado à pessoas com maior poder aquisitivo. 

A mãe é empregada doméstica e tira uma parte do sustento fazendo diárias, enquanto que o pai está desempregado desde o tempo da pandemia. “Sou filho de pescadores, de Brasília Teimosa, vivíamos em palafitas. Depois ganhamos um apartamento no Conjunto Habitacional do Cordeiro (onde moram atualmente). Trabalhei com obras e com marcenaria. A vida é assim, muda, e a minha mudou com o tênis dela. Hoje eu estou indo aos clubes por conta de Agnely”, contou o pai. 
 

Rápido desenvolvimento

Segurando uma raquete de brinquedo, Agnely trocou as primeiras bolas brincando com o pai no parque. No intervalo de uma brincadeira e outra, a garota observava outras pessoas treinarem e foi num dia desse que a sorte dela mudou ao conhecer seu primeiro treinador. 

“Meu primeiro técnico foi Nilsinho, conheci ele no Parque Santana. Eu estava sentada na quadra, até que ele me notou e percebeu que eu estava há um bom tempo lá. Ele pediu para os amigos do Parque Santana que eu treinasse por um hora. Bati bola com ele, nisso acabou me convidando ao Compaz e desse jeito fizemos amizade”. 

A partir de então, Agnely passou a treinar no Compaz Ariano Suassuna, no bairro onde mora. No centro comunitário conheceu seu segundo treinador, Gabriel Lopes, que logo se encantou pelo talento dela.

“Eu acompanho Agnely desde os seis anos de idade. São dois anos com ela e vejo que é uma garota muito dedicada e talentosa. Ela já nasceu com esse dom para o tênis e o desenvolveu muito rápido. A cada dia a gente percebe a melhora dela, o seu desenvolvimento no esporte”, testemunhou Lopes.

Em seguida, a tenista recebeu um novo convite, o de treinar com o técnico Filipe Gomes, do Nacional Tênis, localizado na Ilha do Retiro. Nesse novo espaço, Agnely dispõe de uma estrutura mais completa, com quadras cobertas, algo importante nos períodos chuvosos do Recife. “Ela treina ainda com o professor Gabriel no Compaz Ariano Suassuna, porém a quadra é descoberta e quando chove ela não treina. Então aqui no Nacional nós temos uma estrutura que permite que ela treine mesmo em dias de chuva”, disse Filipe. 

Do ponto de vista técnico e tático, Agnely é bem assistida e conta com três treinadores que lhe dão suporte. Mesmo com a experiência deles e de ter passado muitas crianças por suas mãos, o talento da garota salta os olhos. “Agnely é uma jogadora agressiva, isso é algo raro para a idade dela. Ela tem uma potência que eu não consigo perceber em outras crianças da mesma idade e eu acho que ela tem tudo para continuar evoluindo e se tornar uma atleta de tênis”, comentou Filipe Gomes. 

Representatividade  

Como a maioria das crianças, Agnely buscou referências na sua vida. Mesmo somente aos oito anos, a pequena não hesitou em afirmar que se inspira na tenista japonesa Naomi Osaka, importante nome nas pautas raciais, dos direitos das mulheres e na procura por saúde mental no esporte. 

“A Naomi Osaka é uma das tops e eu gosto muito dela porque ela se parece muito comigo. A minha pele é igual a dela, meu cabelo é parecido com o dela. O meu estilo de jogo também é parecido, a batida na bola e a pegada na raquete também. Quando tem os jogos de Naomi Osaka, eu saio correndo para ver. As outras eu nem ligo tanto”, disse Agnely.

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