Em meio à resistência à eleição virtual, Sport pode virar mês sem presidente
Clube foi ordenado pela Justiça, em dezembro, à realizar o pleito de forma online; Conselho Deliberativo também sugeriu ideia em agosto do ano passado
Noventa dias. Este é o tempo de indefinição da eleição do Sport. Antes previsto pelo estatuto para acontecer no dia 18 de dezembro, o pleito já foi adiado em duas oportunidades neste mês e segue sem uma nova data, segundo a Comissão Eleitoral. Remarcado para o dia 5 de março e, posteriormente, reagendado para esta quinta-feira (18), o evento teve que ser atrasado por conta das medidas restritivas do Governo de Pernambuco, no intuito de evitar a disseminação da Covid-19. Em meio ao imbróglio, torcedores se questionam: por que a votação para a escolha do novo presidente do Executivo para o biênio 2021/22 não acontece de forma remota? Em 2020, Vasco, Bahia e Santos adotaram a medida pela primeira vez. No Sul, Inter e Grêmio utilizam a opção desde 2012 e 2014, respectivamente. Além disso, o Fluminense já confirmou que a escolha do novo chefe do Executivo, em 2022, acontecerá virtualmente.
Ainda em dezembro, logo após o Conselho Deliberativo (CD) adiar as eleições para março deste ano, dois candidatos ao pleito, Eduardo Carvalho e Nelo Campos, buscaram a Justiça para que o evento fosse realizado na data antes prevista. Enquanto a liminar do ex-diretor de futebol foi suspensa pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), a do advogado da chapa Uma Razão para Viver segue vigente na 12ª Vara Cível da Capital, através do juiz Dario Rodrigues Leite de Oliveira. O documento assinado pelo magistrado no dia 07 de dezembro de 2020 ressalta que, em meio ao período de pandemia, a eleição "poderá preferencialmente ser realizada no ambiente virtual, sob ônus de incidência de multa diária que arbitro em R$ 1.000,00 (mil reais), limitada essa a R$ 100.000,00 (cem mil reais) em caso de inobservância". Procurado pela reportagem, o juiz informou "não ter condições de atender hoje (quarta)" para falar sobre o tema.
Na última quarta-feira (17), o candidato da chapa Sport na Raça protocolou um requerimento solicitando à Comissão Eleitoral a realização do pleito no âmbito virtual. De acordo com Nelo, o Sport é o único prejudicado com toda indefinição. "O adiamento da eleição (dezembro) foi ilegal. Do mesmo jeito que eles 'viraram a mesa' para adiar a eleição, poderiam convocar para uma eleição online. A atitude que o conselho (deliberativo) teve não está no estatuto do clube. Usaram a desculpa da pandemia. O Sport está sendo prejudicado pelo que foi feito. Somos o único clube da Série A, e talvez até das Séries B e C, que não tem um presidente para a temporada. Não sabemos nem quando será a eleição", falou Nelo Campos.
Seguindo a linha do concorrente da oposição, Eduardo Carvalho afirmou que o ato político da situação para que a eleição não ocorresse se tratou de "um golpe". "O juiz expediu uma ordem judicial mandando o Sport adotar todas as providências para realizar as eleições virtuais. Essa liminar foi absolutamente desrespeitada. A diretoria não moveu um palito para tentar viabilizar as eleições virtuais, e nem vai. Peguei uma proposta de uma empresa especializada, mostrando que eram R$ 60 mil (o custo). Essa administração, que vem dizendo que está pagando tudo, não tinha R$ 60 mil? Dizia quanto o clube podia pagar. Falei com os candidatos para dividirmos o resto do valor, mas ninguém teve interesse", desabafou.
A Folha de Pernambuco tentou contato com o candidato da situação e presidente licenciado, Milton Bivar, e também com Delmiro Gouveia, da oposição, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
Responsável por conduzir a reunião que levou ao adiamento das eleições para este ano, o vice-presidente do Conselho Deliberativo, Ricardo de Sá Leitão, detalhou que já havia solicitado ao Executivo para que o pleito aconteça de forma remota meses antes de ocorrer a mudança de data. Agora, em meio ao momento difícil, o Rubro-negro pode entrar em abril sem presidente.
"Essa foi minha proposta desde agosto. Inclusive, fiz contato com o VP (vice-presidente) de TI (tecnologia da informação). Ele entabulou algumas tratativas com empresas que prestam esse serviço, pois estão compreendidos não só a realização da votação como a auditoria. A Executiva foi que não quis, pois confiava que seria possível fazer o pleito em dezembro - como, de fato, seria -, mas, infelizmente, o requerimento de adiamento foi acatado pelo Conselho, que autorizou essa transferência da data, justamente quando a pandemia dava sinais de crescimento em Pernambuco", explica Ricardo.
O dirigente diz ter manifestado o seu descontentamento com a decisão e demonstrou preocupação com o processo. "À época, fui contrário e externei isso na sessão que autorizou o adiamento. Alertei que se estaria gerando uma grave instabilidade. Semana retrasada, retomei o contato com a Executiva, insistindo na realização do pleito virtualmente. O presidente em exercício, Carlos Frederico, disse que faria contato com a TI para tratar disso. A situação preocupa ainda mais, pois o Conselho só autorizou a prorrogação do mandato até março, de modo que o clube ficará acéfalo a partir de 1º de abril", completou.
Procurado pela reportagem para falar sobre o relato do vice-presidente do Conselho Deliberativo do clube, o presidente em exercício do Sport, Carlos Frederico, limitou-se a falar que não tinha "nenhuma declaração a dar sobre as declarações dele (Ricardo)."
Na encontro realizado pelo Conselho Deliberativo no dia 30 de novembro, além do adiamento das eleições para março deste ano, ficou definido que o presidente em exercício do clube ficará no cargo até o próximo dia 31, baseado na Lei 14.030 de 28 de julho de 2020. Porém, em tese, a atual gestão poderá seguir à frente da instituição da Praça da Bandeira até julho, uma vez que a norma possibilita a "extensão, em até 7 (sete) meses, dos prazos para realização de assembleia geral e de duração do mandato de dirigentes". Para que isso aconteça, uma nova reunião no CD do Leão teria que ser convocada em abril.
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