Em Tóquio, atletas paralímpicos terão uniformes com acessibilidade
O novo traje foi desenvolvido pela própria equipe de design da CPB e teve a acessibilidade como princípio básico
A história do esporte paraolímpico se baseia na luta por reconhecimento e equidade. Algumas demandas, porém, são menos perceptíveis para as pessoas sem deficiência. É o caso da acessibilidade em roupas e assessórios, que afinal costumam ser desenhadas para elas.
Por causa disso, mesmo em grandes competições esportivas, era comum que atletas do paradesporto precisassem trajar vestimentas que não consideravam suas deficiências e limitações motoras.
Isso mudará para aqueles que representarão o Brasil nos Jogos Paraolímpicos de Tóquio-2020, com início marcado para 24 de agosto.
Leia também
• Em teste para Tóquio, Isaquias mostra que é favorito a duas medalhas
• Copa do Mundo de Paracanoagem: Cowboy leva mais um ouro e dupla feminina vai para Tóquio
• Vacinação para Jogos de Tóquio gera alívio e desconforto entre atletas
O CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) lançou nesta segunda-feira (17), dia que marca a contagem de cem dias para o evento, os uniformes da delegação que irá ao Japão.
O lançamento oficial ocorreu durante uma live no Facebook e no YouTube do CPB.
Uma galeria para vocês apreciarem mais de perto os uniformes que nossos atletas irão vestir em Tóquio. Já são lindos e vão ficar ainda mais com as medalhas de acessório . pic.twitter.com/2cLeXp29rg
— Comitê Paralímpico Brasileiro - CPB (@cpboficial) May 17, 2021
O novo traje foi desenvolvido pela própria equipe de design do comitê e teve a acessibilidade como princípio básico. Nas edições de Londres-2012 e do Rio-2016, a fornecedora de material esportivo da entidade era a Nike, mas o contrato com a empresa americana terminou em 2017.
O CPB assumiu a produção dos uniformes e, em 2019, nos Jogos Pan-Americanos de Lima, implementou as primeiras peças adaptadas.
Entre os itens colocados agora como acessórios está um zíper com puxador ergonômico, que possibilitará manuseio mais confortável e autonomia aos atletas com limitação motora ou articular nas mãos. Já as calças levam uma abertura lateral na barra, para facilitar a passagem da prótese no caso dos amputados de membros inferiores.
"O importante para o atleta paraolímpico é ele se sentir bem dentro do uniforme. Isso vale tanto para as cerimônias de abertura e de encerramento quanto para as provas de competição. Ao mesmo tempo, buscamos colocar um propósito nesses uniformes para que o mundo inteiro possa ver o quanto uma pessoa com deficiência pode ser veloz, ter precisão, força, técnica apurada", afirma Mizael Conrado, bicampeão paralímpico de futebol de cinco e presidente do CPB.
Yohansson Nascimento, velocista campeão paraolímpico em Londres, não possui as mãos e é um exemplo claro de para quem as adaptações são bem-vindas. "Às vezes é complicado eu usar um zíper que foi feito para pessoas que têm os dez dedos nas mãos", conta. Ele estava classificado para Tóquio-2020, mas abriu mão da vaga para se candidatar a vice-presidente do CPB, cargo que hoje ocupa.
Os produtos da linha passeio, para todos os atletas da delegação, possuem uma etiqueta interna com braille (sistema de escrita tátil utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão) para que deficientes visuais identifiquem as cores.
Leggings de algumas modalidades, como atletismo, canoagem e remo, terão a barra diferenciada para assegurar mais segurança de movimento. Todos os tops contarão ainda com as alças retas, sem cruzamento nas costas, o que facilitará vesti-lo para os atletas com deficiência visual.
"As etiquetas em braile foram um grande diferencial. Com certeza, vai dar mais autonomia. Geralmente, tinha que pedir para os nossos guias auxiliarem no momento de me arrumar. Agora, vou conseguir preparar o uniforme sozinha", diz Lorena Spoladore, velocista bronze nos 100 m e 200 m no Mundial de Dubai e no Parapan de Lima, ambos em 2019, na classe T11 (atletas com deficiência visual).
"O uniforme tem uma representação muito forte para o atleta. E para mim, especialmente, quando vesti pela primeira vez foi que acendeu a minha vontade de ser atleta. Gostei bastante de tudo, ficou bem mais prático vestir a calça, por exemplo", afirma Vinícius Rodrigues, velocista da prova dos 100 m pela classe T63 (para amputados de perna) e medalhista de bronze no Mundial de 2019.
Raissa Rocha, campeã parapan-americana em Lima e bronze no Mundial em Dubai no lançamento de dardo, pela classe F56 (para cadeirantes), também comemorou: "Pensar na pessoa com deficiência na hora de desenvolver uma roupa é promover a inclusão e, ao mesmo tempo, o desempenho esportivo".
Além de Lorena, Vinícius e Raissa, participaram do ensaio de apresentação Gabriela Mendonça (classe T12), João Victor (F37), Washington Assis (T47) e o atleta-guia Renato Ben Hur, todos do atletismo.
O ensaio foi realizado na Japan House São Paulo, de acordo com o CPB seguindo protocolos sanitários e com todos os envolvidos submetidos a testes de Covid-19. As peças não serão comercializadas.
O Brasil tem 127 vagas garantidas na Paraolimpíada de Tóquio e estima chegar a 230 competidores no Japão.