Entenda, passo a passo, como racismo sofrido por Vini Jr. na Espanha revoltou o mundo
Jogador vem sofrendo ofensas raciais desde 2021 na Espanha, mas caso do último domingo reverberou ao redor do globo
A trajetória de Vinícius Júnior no futebol é marcada tanto pelas conquistas — como o gol que deu o título ao Real Madrid de campeão da Champions League em 2021/2022 — quanto os casos de racismo que sofre na Espanha por parte de torcedores, jornalistas e até dirigentes de futebol.
O caso do último domingo, em jogo do Real contra o Valencia pelo Espanhol, foi o 11º registrado em que o jogador foi alvo de ofensas raciais, em um histórico de falta de punição pela LaLiga. Veja o passo a passo do que aconteceu e como foi a repercussão.
Antecedentes
Entre outubro de 2021 e março de 2023, foram 10 jogos diferentes em que o Vini Jr. foi vítima de racismo. Desde insultos nas arquibancadas chamando o jogador de “macaco”, passando por cânticos da torcida desejando sua morte, até um boneco com seu uniforme aparecendo pendurado enforcado em um viaduto em Madri, o brasileiro convive com ataques racistas em praticamente todos os jogos fora de casa.
Chegada
Antes mesmo de a bola rolar, os torcedores do Valencia foram até a entrada dos jogadores no estádio Mestalla. O ônibus do Real Madrid que levou os atletas para a partida foi recebido por uma multidão que gritava “Você é um macaco, Vinícius”. Eles ocupavam lugares cercados pela polícia local, que acompanhou a movimentação mas não tomou atitudes contra os torcedores.
Jogo paralisado
Aos 24 minutos, Vinícius Júnior reclamou com a arbitragem sobre um lance em que um jogador do Valencia atrapalhou o reinício da partida. A torcida localizada atrás do gol, formada pelo grupo fascista Yomus, intensificou as ofensas racistas contra o jogador, chamando-o de “macaco” repetidas vezes. O brasileiro rebateu as ofensas e chamou o árbitro Ricardo De Burgos Bengoetxea para apontar os torcedores racistas, mas eles não foram expulsos, mesmo com a chegada da polícia espanhola no local.
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Avisos sonoros
A partida ficou paralisada durante oito minutos, e foram emitidos avisos sonoros no estádio para que os torcedores parassem com as ofensas, mas antes que o aviso seguinte fosse sinalizado, o que suspenderia o jogo de acordo com o código disciplinar da Fifa, o juiz autorizou o reinício.
Expulsão
Aos 47 minutos do segundo tempo, Vini Jr se desentendeu com o goleiro do Valencia, Mamardashvili, e os jogadores dos dois lados se envolveram em uma briga generalizada. Inicialmente, Vinícius e o goleiro levaram cartão amarelo, mas o juiz responsável pelo VAR indicou que o brasileiro deveria ser expulso por acertar o rosto do atacante Hugo Duro, e o árbitro acatou a decisão. Duro, que deu uma espécie de mata-leão em Vini durante a confusão, não foi advertido.
Coletiva
O treinador do Real Madrid, Carlo Ancelotti, usou a entrevista coletiva após a partida para falar sobre o caso. “Não quero falar de futebol. Quero falar do que aconteceu aqui. Creio que é mais importante que uma derrota. O que aconteceu hoje não tem que acontecer. É evidente. Quando um estádio grita "mono" a um jogador e um treinador pensa a tirar o jogador por isso, é sinal que tem algo ruim acontecendo nessa liga. A Liga tem um problema. Esse episódio de racismo para mim tem que parar a partida. Não pode passar”, afirmou o treinador.
Posicionamentos
Nas redes sociais, Vini Jr. publicou um texto criticando a ineficiência da LaLiga na punição aos responsáveis pelas ofensas racistas. “O prêmio que os racistas ganharam foi a minha expulsão. Vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui”, indicando uma possível saída do clube. Javier Tebas, presidente da LaLiga, rebateu o jogador, afirmando que ele precisava “se informar adequadamente”, mas Vini não recuou. Em nova publicação, declarou: “Quero ações e punições. Hashtag não me comove.”
Repercussão
O caso ganhou notoriedade, e houve posicionamentos de diversas instituições. O Real Madrid afirmou que irá acionar a justiça espanhola através da Procuradoria-Geral da Espanha e o Valencia informou que irá banir os torcedores racistas. Os Ministérios do Esporte; da Igualdade Racial; das Relações Exteriores; da Justiça e Segurança Pública; e dos Direitos Humanos e da Cidadania assinaram uma nota conjunta na qual insistem para “as autoridades governamentais e esportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos. Apela, igualmente, à FIFA e à Liga a aplicar as medidas cabíveis”. Durante um discurso no G7, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que “é importante que a Fifa e a liga espanhola tomem sérias providências, porque nós não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem conta dos estádios de futebol". O alto comissário para os Direitos Humanos, Volker Turk, condenou o episodóio e anunciou um guia para atuação em casos de racismo no esporte.
A Real Federação Espanhola de Futebol anulou a expulsão de Vinícius Júnior, puniu o Valencia com uma multa de 45 mil euros (cerca de R$ 270 mil) e anunciou o fechamento da torcida do clube que fica atrás do gol, de onde saíram as maiores ofensas racistas, por cinco jogos.
Prisão de suspeitos
Na manhã da última terça-feira, a polícia da Espanha prendeu sete pessoas envolvidas em dois casos de racismo diferentes. Quatro foram presos acusados de pendurar o boneco enforcado de Vini Jr. em uma ponte Madri, em janeiro, e outros três torcedores identificados em vídeo após falarem ofensas racistas ao jogador. Eles foram soltos após prestarem depoimento.