Entrevista: "Se não for pelo ouro, nem vale a pena competir", diz skatista Rayssa Leal
Em conversa com O Globo, medalhista de prata em Tóquio fala de amadurecimento e expectativa para os Jogos de Paris, daqui a menos de um ano
Na última quarta-feira, o mundo celebrou a expectativa para Paris-2024. A um ano — agora um pouco menos — dos Jogos Olímpicos, uma das grandes esperanças de medalha do Brasil, aos poucos, acostuma-se à capital francesa.
Além de colecionar títulos desde a prata conquistada no street feminino em Tóquio-2020, há dois anos, Rayssa Leal virou uma celebridade do esporte. Só neste ano, em Paris, participou da semana de moda, virou parceira de uma marca de luxo — a Louis Vitton — e foi indicada ao prêmio Laureus, onde conversou com O Globo.
Com a mesma simpatia dos seus 13 anos, agora aos 15, ela conta que quer mais. E de ouro, desta vez.
Estamos em Paris, onde você deve competir no ano que vem já ambientada. Participou de semana de moda, está como garota-propaganda de marca de moda em outdoors...
Chique, né? Estou quase virando parisiense na real, né (risos)? Estou me acostumando pouquinho a pouquinho com o clima, sei que vai estar muito diferente nos Jogos, quando a gente vier. Espero que eu venha, né? Porque não tem nada confirmado ainda (a classificação depende da colocação no ranking, no fim de junho de 2024. Hoje, ela é líder). Mas a expectativa está alta, está sendo bem legal. Já tinha vindo antes a Paris, foi aqui meu primeiro campeonato fora do Brasil. Então, estou feliz de poder turistar, conhecer comidas, cultura e pessoas novas.
O que chama a atenção de uma menina de 15 anos aqui?
O jeito que as pessoas se vestem. É bem diferente da moda do brasileiro. O brasileiro é mais bermudinha, chinelinho, camisa de time, e está tudo certo... Aqui, se vestem como se estivessem sempre em uma festa de fim de ano. É bem engraçado.
Na sua primeira Olimpíada, em Tóquio, você parecia muito tranquila. E não havia torcida, por causa da pandemia. Em Paris, haverá público. Acha que a pressão aumenta?
Depende. Quem sente mais pressão talvez se sinta mais desconfortável, mas eu acho que em Tóquio eu estava me sentindo tranquila por ser muito novinha. Agora, eu prefiro com torcida, porque me passa uma tranquilidade bem maior.
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O mundo se surpreendeu com o clima entre as competidoras do skate: uma torcendo pela outra; você quase ganhando o ouro, mas feliz com a prata. Para o ano que vem, o objetivo é uma medalha ou o ouro?
No momento em que você entra em uma competição, você está buscando o primeiro lugar. Se não for pelo ouro, nem vale a pena competir. Tem a questão de se divertir, e eu vou me divertir, mas vou pensar na medalha, no meu desempenho. Quero acertar minhas manobras e, acertando, com fé em Deus, dará tudo certo.
Logo após Tóquio, houve polêmica sobre a idade das atletas, com gente querendo proibir meninas tão jovens, como você era em Tóquio. O que acha disso?
Esporte não tem idade, é o que eu acho. Se você quiser participar de uma Olimpíada quando tiver 40 anos, se você tiver vontade, tem que fazer de tudo para isso. Igual a agora: eu tenho 15 e farei de tudo para vir a Paris em 2024 (ela terá 16 durante os Jogos). Depende é do sonho, e sonho não tem idade. Se você sonha ser um atleta profissional, ter uma profissão renomada, tem que correr atrás. Se fosse parar, por exemplo, quando eu era pequenininha, diante do tanto de gente que falou que skate era para homem, provavelmente nem estaria aqui.
Com 13 anos, era difícil, mas com 16, em Paris, você acha que terá uma noção maior de tudo o que representa por ser um atleta mulher, nordestina?
É sempre importante, nos Jogos Olímpicos ou não. No Street League em Seattle, eu competi com a camisa da seleção brasileira para representar toda a nação. Sei que, em todo campeonato, quando a gente está lá, está representando nosso esporte, nosso estado, nossa cidade, nosso país e as pessoas que estão em casa assistindo. Fico feliz com isso e por receber o apoio de quem eu estou podendo representar.