Estudo projeta nova ordem para futebol brasileiro baseada em gestão
Consultor acredita que futebol brasileiro passará ser dividido em ao menos dois blocos: de times reverenciados por suas conquistas históricas e daqueles que despontam pela gestão eficiente
A conquista do Athletico na Copa do Brasil de 2019, diante do Internacional, acelerou o debate sobre como se mede o tamanho de um clube brasileiro. Paralelamente ao bom desempenho dentro das quatro linhas (ficou em quinto lugar no Brasileiro), a equipe paranaense registrou em 2019 o maior lucro entre os rivais da elite nacional, superando potências tradicionais, como Flamengo, Palmeiras e Grêmio.
Para César Grafietti, consultor de finanças e gestão do esporte, o futebol brasileiro passará ser dividido em ao menos dois novos blocos: de times reverenciados por suas conquistas históricas e daqueles que despontam pela gestão eficiente, independentemente do peso das camisas. Em sua anual análise econômico-financeira dos clubes brasileiros, publicada pelo Itaú BBA nesta terça-feira (28), Grafietti reforça esse argumento.
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"A força da gestão ocupa espaço de clubes que já não suportam o peso dos erros do passado, como Vasco, Botafogo, Fluminense, Cruzeiro, nem da má gestão do presente, casos de Corinthians, São Paulo, Internacional, Atlético Mineiro, Santos, que a cada ano cavam um pouco mais a vala no círculo vicioso dos gastos excessivos, das dívidas que se acumulam e não são pagas", escreve.
O consultor inclui Bahia, Fortaleza, Ceará e Goiás, além do Athletico e do Red Bull Bragantino (este último pelo modelo de clube-empresa) como candidatos a fazerem bons papéis na Série A do Campeonato Brasileiro nos próximos anos ao lado de Flamengo, Palmeiras e Grêmio. "Se essa situação se perpetuar, poderão ocupar a parte de cima da tabela do Campeonato Brasileiro em quatro ou cinco anos", estimou Grafietti em entrevista coletiva.
A maioria desses clubes apresentou nos balanços de 2019 dívidas de curto prazo abaixo de 45% em relação às suas receitas totais, fator apontado como característica de uma agremiação equilibrada. "Mas será sempre futebol, e sempre será possível montar um time que conquiste [títulos], mesmo com erros de gestão. Mas conforme o tempo passa, esses serão cada vez mais exceção que regra. E a regra da boa gestão e do equilíbrio será cada vez mais clara", ressalva.
Essa é a 11ª edição do estudo elaborado pelo banco, que analisa as demonstrações financeiras disponíveis dos 24 times mais bem colocados no ranking da CBF e traça cenários para o futebol nacional. São eles: Flamengo, Palmeiras, Internacional, Grêmio, Santos, São Paulo, Corinthians, Athletico, Cruzeiro, Atlético-MG, Fluminense, Vasco, Botafogo, Bahia, Fortaleza, Ceará, Goiás, Vitória, Sport, Red Bull Bragantino, Ponte Preta, América-MG, Paraná e Atlético-GO.
Avaí, Chapecoense, Coritiba e Figueirense não foram analisados porque ainda não apresentaram seus balanços de 2019 ou o fizeram depois do dia 5 de julho, data-limite estabelecida pelo estudo. Na capacidade de gerar receitas, o levantamento destaca o descolamento de Flamengo e Palmeiras diante das demais equipes do país. O faturamento do clube rubro-negro saltou de R$ 559 milhões, em 2018, para R$ 841 milhões. O Palmeiras, no entanto, sofreu uma leve queda nesse mesmo período, de R$ 682 milhões para R$ 635 milhões.
Depois da dupla, há uma faixa composta por Internacional, Grêmio, Santos, São Paulo, Corinthians e Athletico, com as receitas de 2019 variando entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões, o que corresponde a no máximo 45% de toda a arrecadação do Flamengo e a 60% da do Palmeiras.
"Há uma distância que coloca os dois líderes em posição competitiva bastante confortável", afirma Grafietti. Ele faz ressalvas na evolução do Athletico, que ampliou o seu faturamento de R$ 188 milhões para R$ 355 milhões impulsionado principalmente por premiações, como a conquista da Copa do Brasil, e a venda de atletas.
O clube paranaense só não obteve uma variação positiva superior às de Flamengo e Santos. A agremiação paulista, ocasionalmente, por conta dos R$ 172 milhões obtidos com a conclusão da venda do atacante Rodrygo para o Real Madrid (ESP).
Também aparecem bem nesse aspecto Internacional, vice da Copa do Brasil, que teve um aumento de R$ 123 milhões na comparação de 2018 para 2019, o Fortaleza, de R$ 70 milhões, e o Bahia, de R$ 40 milhões. A equipe cearense, segundo o estudo, chama atenção por diversificar suas receitas e não ficar refém dos contratos de direitos de televisionamento. "O Fortaleza apresenta situação equilibrada. É um clube que tem poucas dívidas, equacionadas, e boa diversidade de receitas. Depende menos que a média da TV", diz o consultor em sua análise.
Outro ponto abordado neste ano é o efeito da pandemia de Covid-19 para os clubes. As consequências da suspensão de torneios, assim como os jogos sem a possibilidade de vender ingressos, deverão acentuar, ainda mais, a desigualdade na indústria futebolística. O cenário para 2020 prevê queda de até 80% com arrecadações de bilheteria e pela metade com vendas de atletas, contratos publicitários e programas de sócio-torcedor. Com isso, os times deverão faturar entre R$ 1,3 bilhão e R$ 1,7 bilhão a menos do que em 2019, estima o relatório.
"Temo inclusive que clubes não tenham a capacidade de colocar um time em campo no ano que vem. Alguns, com dificuldades maiores, vão conseguir com atletas da base", afirma Grafietti. "O nível de dívidas nesse período será muito alto, e também haverá questões trabalhistas, como o Santos já enfrenta."