"Eu e Diniz ainda tivemos pouco contato", diz Ramon Menezes, que assume a seleção olímpica
Time sub-23 faz amistosos com o Marrocos nesta quinta-feira e no próximo dia 11
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Campeão sul-americano sub-20 com a seleção, título que encerrou um jejum de 12 anos e levou o Brasil de volta ao Mundial da categoria, Ramon Menezes ganhou outro desafio. Agora, ele comanda a seleção sub-23 num ciclo cheio, de Jogos Pan-Americanos, em Santiago, no Chile, em outubro, e Pré-Olímpico na Venezuela, em janeiro de 2024.
Na busca pelo tricampeonato olímpico, o treinador de 51 anos reinicia seus trabalhos visando aos dois amistosos contra Marrocos. Um na quinta-feira e outro, dia 11. Antes disso, ele recebeu o Globo e conversou sobre as novas tarefas nas categorias de base da amarelinha. A ideia de jogo permanece a mesma: um futebol que dê liberdade para suas peças no ataque.
"O que você pensa de futebol não muda. Eu gosto de um futebol bem jogado. Ainda mais se tratando de seleção brasileira, nós temos grandes jogadores e é lógico que a gente sempre pensa também no equilíbrio, fazer uma equipe bem equilibrada em todas as fases do jogo, defensiva e ofensiva. Na fase ofensiva, tem a criatividade, o improviso desses atletas. Nós temos grandes jogadores. Esse vai ser o nosso trabalho, sempre fazendo com que os atletas transmitam para o torcedor aquilo que ele gosta de ver, um ótimo jogo de futebol. Sendo o Brasil. Esse é o nosso objetivo, nosso pensamento", diz o treinador.
Na conversa, Ramon ainda revelou ter tido pouco tempo para conversar com Fernando Diniz, recém-nomeado técnico da seleção principal. Para o ciclo, faz muitos elogios a atletas como Vitor Roque, destaca o estreante Igor Paixão e prevê um caminho duro no caminho ao tricampeonato olímpico, em Paris-2024.
— Antes, tem um Pré-Olímpico, que é uma competição dificílima, mais difícil até do que um Sul-Americano, que tem quatro vagas. No Pré-Olímpico são duas. A gente tem visto um crescimento enorme do futebol sul-americano. Nós fomos campeões sul-americanos e o Uruguai foi campeão mundial. Isso diz sobre o momento do futebol sul-americano e a gente sabe de todas as dificuldades, passo a passo.
Confira a entrevista com Ramon Menezes completa
Como tem sido essa transição do sub-20 para o sub-23 e esse início de trabalho?
Primeiro faço um agradecimento ao presidente Ednaldo Rodrigues por essa grande oportunidade, a confiança no meu trabalho. Muito feliz por poder fazer esse processo, praticamente um novo ciclo. Nada melhor do que uma preparação em Marrocos contra um ótimo adversário. É a oportunidade de trabalhar com novos atletas, aproveitando também para levar alguns que já conhecem o meu trabalho, o que também nos ajuda, já que numa preparação como essa a gente tem pouco tempo para treinamentos. O entendimento tem que ser muito rápido. A confiança é muito grande, nós vamos fazer um um ótimo trabalho. Tenho a confiança nesses atletas, são inteligentes e pegam muito rápido que se passa e que vêm muito bem em seus clubes.
Esse tem sido o nosso trabalho desde a chegada, procurar sempre e monitorar todos os atletas do Brasil e fora, aqueles que vem se destacando, aumentar sempre nosso caderno e radar. E com esse leque de opções sempre aumentar o nosso campo em relação a todas as posições. Agora, nós tivemos a oportunidade de num começo de trabalho, numa data Fifa, levar aquilo que a gente imagina que seja muito forte. Lógico que temos ótimos jogadores, alguns que não vieram e poderiam estar aqui também. Para fazer uma convocação como essa é sempre muito muito difícil, mas esses atletas vão representar muito bem o que é vestir a camisa da seleção brasileira.
Sua convocação tem muitos atletas que já jogam no futebol europeu. Facilita essa adaptação a um nível maior de competitividade?
Eu sempre faço um elogio ao futebol brasileiro. Mesmo treinando o sub-20, tenho recebido esses atletas muito preparados. Alguns que fizeram parte do time sub-20 (que venceu o Sul-Americano e disputou o Mundial) hoje também já estão lá fora. Esse tem sido o processo, são atletas que vêm se destacando e com isso as oportunidades vão acontecendo e eles têm saído do Brasil. Hoje é muito precoce. E tem outros já de outras categorias, de 2000, 2001 e 2002 que também estão jogando lá fora. São inteligentes, jogadores muito bem treinados, trabalhando com grandes treinadores e com quem eu vou ter oportunidade de trabalhar.
A gente sabe que o entendimento vai ser muito rápido. Essa uma dificuldade que a gente tem. Se tratando de uma preparação, você se apresenta no dia 4, treina dia 5. Dias 6 e 7 já tem jogo. Mas já estamos acostumados. Numa convocação como essa, com ótimos jogadores, inteligentes, tenho a convicção e a e a confiança de que o entendimento vai ser muito rápido.
Como em sido trabalho com os clubes para liberação desses atletas?
Desde a nossa chegada, a gente enfrenta essa situação. Eu já acompanhava antes de chegar. Isso mostra o nosso trabalho, nosso dia a dia, de ter essa atenção voltada para o Brasil e para o mundo todo, na busca sempre de aumentar o nosso caderno-radar e com isso ter a possibilidade de observar sempre novos atletas. Lá na frente, se acontecer da não liberação de alguns atletas, o Brasil pode ser bem representado nas competições, como aconteceu nas últimas. No Sul-Americano nós tivemos dificuldade também com a liberação de alguns atletas. Era uma uma competição que o Brasil não subia ao pódio como campeão desde 2011, foram 12 anos sem ganhar, não se fazia presente nos últimos Mundiais.
A gente sabia de toda essa dificuldade, toda essa responsabilidade. Mas tenho certeza que nós fomos muito fortes para as duas competições que disputamos. Esse vai ser o nosso trabalho aqui também no sub-23, a começar por essa preparação, já visando também o Pan-Americano. Na nossa convocação, eu levei já alguns jogadores nascidos em 2000 que não vão estar no Pré-Olímpico, que não têm idade. Podem ser convocados para para as Olimpíadas, três atletas acima da idade, mas foram convocados já com o pensamento e a esperança de fazerem também o Pan-Americano, que é uma entendemos que vamos ter uma certa dificuldade, por não ser data Fifa. Mas como eu falei, a esperança é de contar com os jogadores, (usar do) nosso relacionamento com os clubes e ver as situações de todos esses atletas nos clubes no momento da competição para que haja a liberação.
Como será sua filosofia de jogo nesse novo ciclo?
O que você pensa de futebol não muda. Eu gosto de um futebol bem jogado. Ainda mais se tratando de seleção brasileira, nós temos grandes jogadores e é lógico que a gente sempre pensa também no equilíbrio, fazer uma equipe bem equilibrada em todas as fases do jogo, defensiva e ofensiva. Na fase ofensiva, tem a criatividade, o improviso desses atletas. Nós temos grandes jogadores. Esse vai ser o nosso trabalho, sempre fazendo com que os atletas transmitam para o torcedor aquilo que ele gosta de ver, um ótimo jogo de futebol. Sendo o Brasil. Esse é o nosso objetivo, nosso pensamento.
Até a Rio-2016, o Brasil teve o peso nos ombros de tentar o ouro inédito. Depois, vieram dois seguidos. Esse peso nos ombros é menor?
Se tratando de seleção brasileira, a responsabilidade sempre é muito grande e os atletas também entendem isso, têm um prazer de vestir a camisa, esse tem que ser o nosso sentimento. O Brasil carregou uma responsabilidade muito grande durante anos por não ter tido a felicidade de ser campeão olímpico. Hoje, é bicampeão. Se antes tinha essa responsabilidade, hoje ela é a mesma. A gente sabe disso, então é passo a passo.
Antes, tem um Pré-Olímpico, que é uma competição dificílima, mais difícil até do que um Sul-Americano, que tem quatro vagas. No Pré-Olímpico são duas. A gente tem visto um crescimento enorme do futebol sul-americano. Nós fomos campeões sul-americanos e o Uruguai foi campeão mundial. Isso diz sobre o momento do futebol sul-americano e a gente sabe de todas as dificuldades, passo a passo. Entendendo que o Brasil é muito forte e embutindo na cabeça desses atletas a competitividade. Porque técnica já é do futebol brasileiro, do atleta brasileiro.
Já conseguiu conversar com o Diniz? Como será essa relação com a seleção principal?
O Diniz é um cara que eu gosto muito. Enquanto atleta, nós já tivemos uma passagem juntos no Fluminense. É um cara com quem tenho liberdade e tenho certeza que ele tem comigo. Mas vivemos um dia a dia diferente. O meu é aqui na CBF e o dele é no Fluminense. Ainda tivemos pouco contato. No que tivemos, conversamos um pouco em relação a jogadores, conversei mais com o Eduardo Barros (auxiliar técnico de Diniz) antes da convocação. Mas estou totalmente à disposição. Nós sabemos disso. Torcendo muito para que a seleção volte a ganhar, a jogar bem treinada por ele. O trabalho da base do futebol brasileiro é tentar sempre oxigenar a seleção principal. Os profissionais que passaram aqui tiveram esse objetivo na cabeça, tenho certeza. Quando você entrou aqui (na sede da CBF) você viu as fotos dessa geração que foi campeã olímpica. Vários já estão na seleção principal.
A seleção sub-23 faz dois amistosos com Marrocos, uma situação pouco comum. Isso te ajuda num sentido de preparação, de testes?
Para mim, tem a experiência de voltar ao Marrocos. É uma uma atmosfera talvez um pouco diferente por ser sub-23, mas por outro lado muito parecida, porque é país apaixonado por futebol, uma torcida que vai no estádio, e agora depois de um título. Marrocos é atual campeão da Copa das Nações Africanas sub-23, vencendo o Egito numa grande final. É um time muito forte. Eu assisti alguns jogos, vi a qualidade da equipe. A maioria não joga em Marrocos, mas em grandes centros, assim como nossos jogadores. É uma grande oportunidade, um grande jogo. Um ótimo momento para um começo de um ciclo voltado para Pan-Americano e Pré-Olímpico.
É a chance também de pela primeira vez trabalhar com com alguns jogadores, alguns com histórico de seleção brasileira, outros que eu já tive a oportunidade no sub-20. O Igor Paixão, por exemplo, que vem muito bem na Holanda e tem sua primeira oportunidade vestindo a camisa da seleção brasileira. Fez uma temporada excepcional, vem muito bem, fez gol no último jogo, o Feyernoord ganhou. O Bitello (Grêmio) também. Esse tipo de jogo é muito importante, soma muito lá na frente a experiência de jogar contra um grande adversário.
O goleiro Lucas Perri, do Botafogo, foi convocado pelo técnico Fernando Diniz para a seleção principal. Você tem olhar de perto o time, que é líder do Brasileiro? Atletas como Luis Henrique e Hugo, que têm idade olímpica, por exemplo.
O Luis Henrique a gente tem observado, gosto muito desse atleta, muito forte, rápido, evoluiu muito. Vem fazendo um ótimo campeonato, fazendo gols. Teve um probleminha de lesão, mas atrapalhou muito pouco, ficou fora algumas rodadas e já vem muito bem. Tem idade olímpica, pode também fazer parte de um Pan, de um Pré-Olímpico. Jogador interessante, o Hugo também. Nosso trabalho aqui é esse, de observar todos os atletas. Para fazer uma convocação, você pode ter certeza que é muito difícil, porque vários atletas tinham condições de também serem lembrados. Mas a gente optou por levar esses atletas e tenho certeza que o Brasil está indo para uma preparação muito bem servido com ótimos jogadores.
O que você tira desse período treinando a seleção principal interinamente?
Foi uma experiência fantástica. Em experiências como essa se aprende muito. Convivi com um grande jogadores, fizemos três jogos (vitória sobre a Guiné e derrotas para Marrocos e Senegal). Devido ao que aconteceu com a seleção nesse período, esses atletas também saíram mais fortes. Nós tivemos a oportunidade de convocar alguns jogadores que até então não estavam sendo chamados, dar chance. Tive a oportunidade de levar alguns jogadores do sub-20 na minha primeira convocação. Além do momento que eles viviam, foram muito importantes para que eu tivesse essa essa oportunidade. Cada dia ganhando mais experiência, ganhando casca. Isso é importante e é meu trabalho aqui na CBF, de estar sempre à disposição.
Agradeço muito ao presidente Ednaldo Rodrigues por essa oportunidade, por confiar no meu trabalho e me dando mais essa responsabilidade, o Pan-Americano e o Pré-Olímpico, fazer parte desse trabalho visando uma medalha de ouro, o tri.
Ao longo dos últimos anos, se falou muito em trazer a seleção para perto do povo. Você vai ter contato com uma geração de atletas que é muito bem aceita pelo torcedor brasileiro, como o Endrick, o Vitor Roque, o Marcos Leonardo, o Andrey. Como é essa apresentação de uma geração ao povo brasileiro?
Aqui na base a gente tem esse esse privilégio de ver o crescimento, a evolução de todos esses atletas. Você vê um Robert Renan (Zenit) chegando numa principal, jogando no Corinthians como estava jogando, fazendo um sul-americano excepcional, chegando no Zenit e conseguindo jogar, talentoso. O Arthur (Bayer Leverkusen), o Vinícius Tobias (Real Madrid) que jogou muito pouco aqui. Você falou do Andrey, nós temos aí o Marlon Gomes (Vasco) que joga no futebol brasileiro, o João Gomes (Wolverhampton) que jogou muita bola no Flamengo. Hoje está muito bem no futebol inglês, que é muito difícil de jogar, que eu gosto muito de ver.
Você citou o Vitor Roque, que continua crescendo e evoluindo cada vez mais. Isso nos deixa muito felizes também. Um jogador já vendido para o Barcelona e que não perdeu a fome. Está jogando muito bem no Athletico, é um dos artilheiros do Brasileiro. Eu falo dele porque a gente viu todo esse crescimento desse atleta, fazendo um Sul-Americano excepcional. Já fez parte da da seleção principal, hoje está na na sub-23. Daqui a pouco também pode bater na principal novamente. Tenho certeza que vai para o Barcelona e sem uma situação que a gente fica preocupado que é a adaptação dos atletas que saem jovens, precoces. Tenho certeza não vai ter essa essa (dificuldade de) adaptação. Vem mostrando uma evolução muito grande.