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Filosofia transformou Kobe Bryant em lenda

Dedicação obstinada pelo basquete fez de norte-americano uma estrela, responsável por influenciar gerações

Kobe nutria relação intensa com basquete, quase como uma obsessãoKobe nutria relação intensa com basquete, quase como uma obsessão - Foto: Filippo Monteforte/AFP

Paixão. Obsessão. A relação de Kobe Bryant com o basquete era mesmo assim, intensa. Não era raro ouvi-lo falar sobre isso, afinal, o amor pela bola laranja foi algo nutrido desde a primeira infância. Não que ele já não tivesse talento, mas a disciplina e uma dedicação quase louca ao basquete foram os pilares que fizeram do norte-americano uma estrela do esporte. A camisa eternizada no Los Angeles Lakers não estampava o número 24 à toa. Era uma alusão às 24 horas diárias respirando basquete. O próprio Kobe relatava isso ao contar que saiu zerado em pontos do primeiro camp de treinos do qual participou, aos 10 anos. Apesar de frustrante, o episódio serviu de motivação e ele entendeu que precisava treinar fundamentos. Aos 12, a evolução já era nítida. Aos 14, era o melhor atleta do seu estado. Tudo fruto de treinos diários, filosofia que ultimamente ele se dedicava a difundir entre os jovens da sua academia, a Black Mamba.

Kobe não chega a ser o maior jogador de todos os tempos, mas está sem dúvidas em um top 3 concorrido entre os melhores da história. Ele foi, porém, o primeiro grande astro de uma era na qual a NBA começou a expandir seu raio de abrangência e, surfando na onda da modernidade, tornou-se um produto globalizado, com transmissões em países de todos os continentes e uma enxurrada de informações na internet.

Assim, os feitos de Kobe atravessaram fronteiras de forma avassaladora, privilégio que Michael Jordan, ídolo maior do basquete mundial, e outros de gerações anteriores, como Magic Johson, Bill Russell, Kareen Abdul Jabar e Larry Bird, por exemplo, não tiveram nos anos em que desfilaram seu potencial em quadra. As redes sociais ainda mais potencializaram essa relação, promovendo uma sensação de proximidade com o ídolo. Um herói de carne e osso que compartilhava a sua vida com os fãs.

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Com esse alcance midiático, os lances plásticos e seus números impressionantes, Kobe ajudou a difundir a modalidade no Oriente, onde era tão ídolo quanto no Ocidente. Por conta do estilo de jogo e da competitividade, o Black Mamba (apelido recebido em alusão à Mamba Negra, uma cobra de botes certeiros), influenciou gerações em todo o mundo. Fãs, atletas, treinadores, profissionais de outras modalidades. Gente que acompanhou e se espelhou em Kobe Bryant e que custa a aceitar a partida precoce.

“Ele foi idealizador de um pensamento vitorioso, uma filosofia competitiva de busca pelo perfeccionismo, pela vitória. É a “Mamba Mentality”. O nível de treinamento que ele fazia para chegar à qualificação que tinha é absurdo. Era tão aficionado por evoluir, por ganhar, que chegou a estudar livro de regras dos árbitros para saber o posicionamento deles em quadra e de que forma poderia usar isso em seu favor. É um exemplo para os jovens, que têm que trabalhar muito para chegar aonde ele chegou. Ele amava o basquete, tinha compromisso, respeito. Foi pesado demais isso que aconteceu”, disse o treinador de basquete do Colégio Salesiano do Recife, Guilherme Negreiros, um admirador convicto e pesquisador declarado da história de Kobe.

Ex-jogador, hoje comentarista de basquete da ESPN, o recifense Eduardo Agra engrossa o coro de admiração pela história construída por Kobe Bryant. E vai além ao analisar as semelhaças com Michael Jordan. “Para quem não conseguiu acompanhar Michael Jordan, ter Kobe Bryant em quadra era fantástico. Ele ocupou um espaço onde o Jordan já tinha se aposentado e LeBron ainda não tinha chegado à NBA. O impacto que ele causou na liga foi gigante, até porque ele jogava na mesma posição do Jordan, tinham a mesma altura (1,98m) e possuíam as mesmas características (velocidade, infiltração, explosão, bons arremessos). Pela alto nível de competitividade, diversas franquias e jogadores odiavam jogar contra ele. Porém, o respeito pelo profissionalismo e dedicação de um jogador que só jogava limpo, como foi ele, era enorme. Diversos jogadores da NBA atualmente se inspiraram e emularam o jogo do Kobe e não do Jordan”, pontuou.

Dizem que quem é atleta morre duas vezes, tamanha a dor da aposentadoria. Kobe deixou as quadras em 2016, em uma despedida digna de lenda, com uma partida de 60 pontos contra o Utah Jazz. O adeus dele rendeu um relato tão emocionante que virou filme e ganhou até Oscar (Melhor Curta de Animação, em 2018, por “Dear Basketball”). Kobe, no entanto, não havia deixado o basquete. Comandava a Black Mamba Academy e era técnico do time no qual a filha Gianna Maria, de 13, que também faleceu no acidente, começava a despontar como grande promessa a dar continuidade à história do pai. Os planos eram inúmeros. As homenagens que ainda estavam por vir também. Uma delas nos próximos meses, a entrada para o Hall da Fama do Basquete. O que ninguém esperava era um adeus definitivo tão cedo e homenagens sem a presença do astro principal.

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