Final da Superliga confirma domínio mineiro com Praia e Minas
A partir desta quinta-feira (1), as equipes começam a decidir o título da temporada 2020/2021
Aliviado com a classificação à decisão da Superliga feminina de vôlei, o técnico Paulo Coco reuniu as atletas do Dentil/Praia Clube na quadra, deu os parabéns com serenidade e sugeriu que acompanhassem do ginásio o outro duelo das semifinais, vencido pelo Itambé/Minas na sequência. Os rivais se observam atentamente há anos.
A partir desta quinta-feira (1º), às 20h, Minas e Praia começam a decidir o título da temporada 2020/2021, com a série melhor de três jogos no centro de desenvolvimento da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), em Saquarema (RJ). As equipes estão fechadas lá desde o início das séries de semifinais, na semana passada.
O segundo confronto será no sábado (3), às 21h. Se necessário, o último está previsto para segunda (5), às 21h. Todos serão transmitidos pelo canal SporTV 2.
Essa será a sétima grande decisão entre as duas equipes em um período de três anos, com cinco taças para o Minas: da Superliga 2018/2019, de duas edições da Copa Brasil e outras duas do Sul-Americano. O Praia obteve êxito na Supercopa de 2019 e, desde 2013, 4 títulos estaduais contra 3 do Minas.
Leia também
• Superliga se fecha em Saquarema para definir campeões
• CBV define a tabela da semifinal da Superliga masculina de vôlei
• Praia Clube alcança semifinal da Superliga feminina de vôlei
A segunda final consecutiva da Superliga entre os times mineiros (a temporada 2019/20 foi interrompida antes dos playoffs por conta da pandemia de Covid-19) representa uma mudança de cenário no vôlei brasileiro.
Até a temporada 2017/18, a dupla mineira cumpria papel coadjuvante no torneio, enquanto assistia ao duopólio de Rio de Janeiro e Osasco.
Naquela Superliga, o Praia, de Uberlândia, conquistou título inédito ao derrotar o Sesc-RJ e implodiu um domínio de 15 anos alternados entre cariocas e paulistas. Comandada por Bernardinho, a equipe do Rio (hoje Sesc-RJ/Flamengo) é a maior vencedora da competição, com 12 taças, e naquele ano vinha de cinco conquistas seguidas.
Em 2019 foi a vez do Minas, de Belo Horizonte, voltar a ser campeão depois de 17 anos de jejum, levando a melhor sobre o Praia.
Antes da suspensão da temporada passada, o Praia fez a melhor campanha na primeira fase, com 58 pontos, à frente do Minas e do Rio, ambos com 57.
A guinada dos mineiros começou após estreitarem relacionamentos com patrocinadores e que, apesar da crise que assola a modalidade, foram mantidos.
O Minas Tênis Clube, um dos mais tradicionais do país, contabiliza 26 participações entre o Campeonato Brasileiro (realizado até 1994) e a Superliga. Quando firmou vínculo com a marca de laticínios Camponesa, em 2014, sua última conquista havia sido o Campeonato Mineiro de 2003.
Na época, o aporte da empresa possibilitou as contratações das medalhistas olímpicas Jaqueline, 37, e Walewska, 41, e de Carol Gattaz, 39, segundo a diretora do Minas Keyla Monadjemi.
"Com a visibilidade que essas atletas trouxeram para o nosso time, conseguimos aumentar o orçamento e nos mantermos competitivas", disse Keyla. "Quando veio o Itambé [patrocinador desde 2019], o grupo ficou ainda mais forte com a Natália e a Gabi [ponteiras da seleção] e fizemos uma temporada incrível."
Na ocasião, o Minas só perdeu a disputa do Mundial de Clubes para o VakifBank Istambul (TUR), equipe que viria a contratar justamente Gabi, 26. Natália, 31, foi para o Dínamo Moscou (RUS).
A equipe brasileira partiu para o mercado e trouxe a central Thaísa, 33, bicampeã olímpica. Nesta temporada, ela é dona do melhor percentual de ataque (57%) na Superliga e a segunda melhor bloqueadora, com 105 pontos –quatro a menos que Mayanay, 24, do São Cristóvão Osasco.
Quando se previa uma debandada de jogadoras do Brasil diante da forte desvalorização do real frente ao euro e ao dólar e a crise provocada pela pandemia, o Minas voltou a se reforçar para a atual temporada com as norte-americanas Danielle Cuttino (oposto) e Megan Easy (ponteira), além de tirar Pri Daroit, 32, da agremiação de Uberlândia.
O técnico italiano Nicola Negro conseguiu manter uma base com Carol Gattaz, a levantadora Macris, 32, e a líbero Léia, 36. "Cheguei ao time em 2014 e é muito legal participar de toda essa evolução do Minas. É um trabalho de formiguinha, graças à ousadia nas contratações e apostas", afirmou Carol Gattaz.
O Praia subiu à Superliga em 2008 e firmou parceria com o grupo Arcom, responsável pela marca Dentil. "O patrocínio começou com um valor pequeno, uma experiência para ver se gostariam ou não. Logo a empresa foi observando a força do vôlei brasileiro e a visibilidade, principalmente com as transmissões dos jogos", falou André Lelis, gerente de esportes de alto rendimento do Praia.
Assim como na equipe campeã em 2018, Coco tem à disposição, nesta temporada, as medalhistas olímpicas Fernanda Garay, 34, e Waleska, além da levantadora Claudinha, 33. O Praia foi um dos que mais reforçaram o seu elenco. Contratou a central dominicana Jineiry Martínez, 23, que reencontrou no time de Uberlândia a sua irmã Brayelin, 24, destaque em 2019/20. Jineiry tem o segundo melhor percentual de ataque da liga (55%), atrás somente de Thaísa.
A equipe também trouxe a ponteira holandesa Anne Buijs, 29, que sagrou-se campeão com o Rio de Janeiro (2016/17) e estava no Turk Hava Yollari (TUR), e repatriou Mari Paraíba, 34, do Monza (ITA).
Ante uma postura agressiva dos mineiros na montagem do elenco, Osasco e Rio de Janeiro tiveram que se reorganizar com orçamentos mais enxutos. A situação ficou mais difícil a partir de 2017, quando a Unilever, depois de 20 anos, deixou de patrocinar a equipe carioca, e o time paulista ficou sem a Nestlé, parceria de nove anos.
Agora, Minas e Praia começam a responder se o vôlei feminino terá uma dinastia mineira. Lelis diz que sim. "São os dois clubes mais organizados e com trabalho nas categorias de base." Já Keyla acredita que não. "As chances de títulos estão bem distribuídas para cinco times."