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FUTEBOL

Futebol brasileiro mira África para reforçar times de base

O futebol brasileiro agora envia olheiros e contrata jogadores do Senegal, Gana, Nigéria, Angola ou Costa do Marfim

Defensor da Costa do Marfim em treinamento no CT Rei Pelé, do SantosDefensor da Costa do Marfim em treinamento no CT Rei Pelé, do Santos - Foto: Guilherme Dionizio/AFP

Buscando fortalecer e dar um novo ar para suas equipes de base, os clubes brasileiros começaram a mirar um mercado futebolístico ainda inexplorado: o da África, origem de alguns dos maiores craques da Europa.

Embora seja uma estratégia tímida, aprofundada apenas em 2023, a medida representa uma virada no país mais vezes campeão mundial e que mais produz e exporta jogadores.

Com domínio total de suas equipes na Copa Libertadores e após anos restringindo talentos estrangeiros, o futebol brasileiro agora envia olheiros e contrata jogadores do Senegal, Gana, Nigéria, Angola ou Costa do Marfim.

Segundo diversas fontes consultadas pela AFP, o país está de olho neste nicho com base do sucesso de africanos ou atletas com origens neste continente em clubes europeus como Kylian Mbappé, Mohamed Salah e Victor Osimhen. Também porque são mais baratos que jogadores de outros mercados de interesse como Argentina e Uruguai.

Os jovens contratados — geralmente atacantes — tendem a não interessar à Europa e suas contratações podem equilibrar uma "queda" na qualidade dos brasileiros, afirma Ricardo Manfrim Gonçalves, da empresa de representação de atletas Quality.

Os africanos que vêm para o Brasil "têm uma explosão melhor, ele é mais bem preparado fisicamente... a questão do cognitivo, de raciocínio rápido, tomada de decisão maior de um jogador, e a questão da intensidade", analisa o agente com 16 anos de experiência no mercado africano.

Tornou-se "burguês"
Times brasileiros com equipes juvenis renomadas contam com pelo menos um atleta africano, como o Santos, o Flamengo e o São Paulo.

Desde 2023, pelo menos uma dezena destes jovens foi contratada ou testada em bases de clubes de diversas categorias, segundo uma contagem feita pela AFP.

A nível profissional, recentemente foram contratados atletas experientes como o zagueiro angolano Bastos, do Botafogo, líder do Campeonato Brasileiro e finalista da Libertadores, o ponta congolês Yannick Bolasie (Criciúma) e o atacante gambiano Yusupha Njie (Santos).

Apesar das dificuldades do idioma, da separação de suas família e das diferenças culturais, o Brasil oferece ao novatos uma oportunidade de construir uma carreira.

"Acreditei que quando viesse para cá, isso me ajudaria a mudar a vida da minha família", conta o ganês King Faisal, de 20 anos.

Considerado uma das principais promessas africanas no Brasil, o atacante se destacou em seu país e atualmente joga pela equipe sub-20 do São Paulo desde março de 2023.

"Foi um sonho. Espero chegar ao nível mais alto um dia", disse o ganês.

Os jovens atletas brasileiros podem ganhar milhares de reais por mês. Alguns conseguirão deixar para trás um passado de pobreza, sendo vendidos precocemente à Europa. Mas estas dinâmicas também podem ser perigosas.

"Hoje os jogadores de onze, doze, treze anos, às vezes estão recebendo salários absurdos... Então isso daí prejudica a formação do atleta... Porque antes era um pouco mais difícil, hoje se tornou burguês", diz Manfrim Gonçalves.

Hoje o atleta africano no Brasil "tem que vencer pela sua necessidade" e pode "se dedicar mais do que até um próprio jogador brasileiro", afirmou.

Meu sonho
O atacante angolano Osvaldo Yamba Kinanga é imparável pela ala direita em um jogo-treino do Santos Sub-15.

Destacado nos "Meninos da Vila", chegou a São Paulo há nove anos com a família. No início, ele conta que passou por situações difíceis devido ao racismo no país.

"Tenho orgulho de ser africano, o africano é mais competitivo. Não quero falar mal de brasileiro. Tem brasileiro que é relaxado porque nasce já com habilidade", diz ele.

O 'Peixe' detectou o talento do angolano em um campeonato estadual e atualmente ele já é naturalizado, esperando no futuro ter que escolher entre jogar pela seleção angolana ou a brasileira.

Para Coulibaly Yeko Appolinaire, de 16 anos, está claro quem ele defenderá: a Costa do Marfim. Capitão da seleção de seu país em sua categoria, o zagueiro alto chegou ao Santos há cinco meses e ainda luta para aprender o português, mas não esconde o entusiasmo.

"Todo mundo conhece o Brasil como a terra do futebol. Eu costumava sentar em casa e assistir aos grandes jogadores na televisão. Adoraria ser como estes grandes jogadores. Esse é o meu sonho", conta ele.

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