Golfe ajuda a romper barreiras sociais
Participante do Aberto de Golfe do Caxangá, projeto social aproxima modalidade de jovens carentes do Recife
Renovação e diversidade social definem a atual edição do Aberto de Golfe do Caxangá, promovido pela Federação Pernambucana de Golfe (Fepeg) e o Caxangá Golf & Country Club. O espaço, localizado no bairro da Iputinga, na Zona Oeste do Recife, recebe o evento desde sexta-feira até este domingo. Quase cem inscritos buscam aumentar a pontuação no ranking pernambucano e assegurar vaga no campeonato nacional. Entre eles, estarão 26 crianças e adolescentes nas categorias das respectivas faixas etárias. Isso é resultado da estreia na competição de um projeto que procura estimular a prática do golfe entre os jovens e distanciar a ideia convencional que há uma elitização soberana no esporte.
O Caxangá Golf & Country Club carrega 91 anos de história e não por acaso é um dos principais redutos de golfistas do Norte e Nordeste. É responsável pelo torneio mais tradicional da região, responsável por incorporar amadores e profissionais de vários estados e países. No entanto, nunca houve uma preocupação em expandir a modalidade no Recife e abranger as camadas mais populares. Poucos profissionais pernambucanos conquistam patamares mais elevados no aspecto nacional, embora esteja disponível potencial de sobra para prosperar. Entretanto, uma ação social conjunta do clube, Fepeg e Confederação Brasileira de Golfe (CBG) está alterando o panorama atual.
O Atleta Golfe Brasil é um projeto que envolve cinco polos no País, incluindo Recife, onde se localiza o maior número de integrantes. O principal objetivo é possibilitar a aproximação das comunidades carentes para fomentar o surgimento de futuros golfistas. Filhos de sócios, federados e alunos de escolas públicas estabelecidas em Iputinga e proximidades treinam todos os fins de semana no Caxangá Golf & Country Club. Não há restrição para participar, com alunos de diversas idades dividindo-se em três grupos de duas categorias: iniciante (até seis anos) e juvenil (até 14 anos).
O pensamento elitista está impregnado na modalidade por fatores históricos. Ainda assim, programas sociais têm capacidade de transformar cenários através das particularidades de cada esporte, e não é diferente com o golfe. “O golfe tem uma característica elitista, sim. Mas a nossa visão é de um esporte completamente diferenciado. Há regras para seguir, mas não há um juiz. Você é seu próprio juiz. Isso pesa por honestidade, cordialidade, respeito ao próximo, disciplina. A intenção é trazer essas crianças não apenas para aprender o esporte, mas também os valores que ele ensina para a vida”, ressaltou Bruno D'Ambrosio, diretor de Golfe do Caxangá.
Os ensinamentos são passados por professores orientados pelo treinador Anderson Namur. Com participação em torneios nacionais e internacionais na bagagem, o paulista foi indicado por D’Ambrósio para ser a base condutora das aulas. O método de ensino varia de acordo com as categorias. No caso da iniciante, por exemplo, é algo mais leve e recreativo. A intenção é unir pais e filhos na aprendizagem, idealizando um esporte de família. “Depois da minha primeira vinda, a maioria dos pais veio acompanhar, mas não praticavam. No quarto mês, elas estavam batendo bola. As crianças são o nosso foco, mas os pais não podem ficar parados”, esclareceu Namur.
Além de pouco atingir as classes mais baixas, também há pouca abertura para mulheres golfistas. Porém, oito meninas fazem parte das turmas no projeto. Tal fato pode prenunciar o que está por vir no desenvolvimento da modalidade feminina. “Temos três que prometem ir longe. Estou muito feliz nesse início de trabalho e espero que 2020 cresça mais na ótica delas”, afirmou o treinador. A mistura de gêneros e classes gera um sentimento de pertencimento e pluralidade no local, sem haver distinção entre as crianças. “Eles se divertem juntos, brincam. Pra nós é muito gratificante não ter preconceito em relação à classe social. É muito importante eles conviverem assim, porque o golfe pode ser a oportunidade da vida”, disse Namur.
O futebol é a primeira escolha para a maioria das crianças, mas não foi o caso de Alison José, de 14 anos. Aluno de escola pública, ele é considerado uma das apostas do projeto. “Eu jogo futebol, mas não tanto como golfe”, garantiu o jovem. Sem esconder o sonho de futuramente ser profissional, Alison expressou que o conhecimento obtido vai além da parte competitiva. “Respeito pelas pessoas, honestidade, paciência... várias coisas que existem no campo e posso levar pra escola e outros lugares”, explicou.
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