Jogos de Tóquio podem ser disputados sem torcedores, afirma presidente do comitê organizador
Seiko Hashimoto disse que o país fará de tudo para garantir que os Jogos não serão suspensos
Os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 podem acontecer com as portas fechadas, declarou nesta sexta-feira (30) à AFP a presidente do Comitê Organizador, que também prometeu que o grande evento esportivo, previsto para começar em três meses, será "seguro".
Seiko Hashimoto, que assumiu o comando do Comitê Organizador de Tóquio-2020 em fevereiro após a renúncia forçada de seu antecessor, envolvido em um escândalo por declarações machistas, disse que o país fará de tudo para garantir que os Jogos não serão suspensos.
"Pode haver uma situação em que não possamos permitir a presença de nenhum espectador", admitiu Hashimoto na entrevista.
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"A única maneira de considerarmos os Jogos um sucesso é protegendo completamente as vidas e a saúde dos atletas e do povo do Japão".
Diante da incerteza criada pela evolução da pandemia de covid-19, os organizadores adiaram para junho a decisão de permitir ou não a presença de público local.
Em março, o comitê anunciou a proibição da presença de torcedores procedentes do exterior, o que nunca havia acontecido na história olímpica.
No Japão, Tóquio e outros três departamentos estão desde o domingo passado sob estado de emergência pela terceira vez, motivado pelo aumento de casos de covid-19, o que obriga a organização de eventos esportivos com portas fechadas.
Uma população "feliz"
Tóquio-2020 recebeu críticas por pedir a colaboração de profissionais da saúde japoneses para o evento, no momento em que o sistema hospitalar do país está no limite. Hashimoto considera que a ausência de torcedores poderia aliviar a pressão.
"Se o evento em si tivesse que mudar, seria no que diz respeito aos espectadores", opinou, antes de destacar que este seria um aspecto que ajudaria a "reduzir a preocupação das pessoas sobre o sistema hospitalar".
Em uma tentativa de acalmar as preocupações da população local, em sua maioria favorável a um novo adiamento ou ao cancelamento dos Jogos, Tóquio-2020 publicou "manuais" (playbooks) que enumeram as rígidas medidas de combate ao coronavírus. Uma nova versão dos textos foi apresentada na quarta-feira.
Estes manuais são um "sinal de solidariedade e respeito por parte da comunidade olímpica com nossos anfitriões japoneses", afirmou o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach.
Os organizadores dos Jogos não pretendem exigir quarentena para os atletas e as vacinas não serão obrigatórias.
Hashimoto explicou que as normas continuarão sendo aperfeiçoadas, mas se mostrou convencida de que os Jogos poderão acontecer de maneira "segura".
"É uma responsabilidade importante. Quero deixar isto claro enquanto trabalhamos para organizar os Jogos", afirmou.
Ela disse que leva em consideração as preocupações da população, mas destacou esperar que a população fique "feliz" com o evento.
"Meu grande objetivo é preparar os Jogos de maneira que as pessoas vejam aos coisa deste modo".
"Demonstrar que estamos unidos"
Quando os Jogos foram adiados no ano passado para 2021, os organizadores anunciaram que seria a prova de que a humanidade havia triunfado sobre o vírus, mas esta promessa parece cada vez menos realista, pois a situação continua grave.
Os Jogos Olímpicos "demonstrarão que o mundo pode se reunir, por mais grave que seja a situação", declarou Hashimoto. "Acredito que é um momento em que podemos demonstrar que estamos unidos".
O Japão, país menos afetado pelo coronavírus que muitos outros, superou esta semana a marca de 10.000 mortos desde janeiro de 2020, de acordo com o balanço oficial.
Mas o avanço dos contágios já provocou mudanças nos eventos-teste e seletivas, assim como no revezamento da tocha olímpica, que aconteceu sem a presença de público em vários departamentos.
A organização admite que a situação evolui constantemente e trabalha em simulações para adaptar-se, comentou a presidente do Comitê.
Antes de assumir o comando da organização de Tóquio-2020, Seiko Hashimoto era uma das duas únicas ministras do governo japonês, responsável justamente pelos Jogos Olímpicos e a igualdade entre homens e mulheres.
Ela tem uma longa trajetória, tanto política - ocupa uma cadeira no Parlamento japonês desde 1995 - como esportiva.
Entre as décadas de 1980 e 1990 participou em quatro Jogos de Inverno como patinadora de velocidade e conquistou uma medalha de bronze em Albertville-1992. Também disputou três Jogos Olímpicos de Verão como ciclista de pista.