Lembra dele? "Maradona dos Cárpatos" investe R$ 156 milhões em academia para "futuros campeões"
Ex-Real Madrid e Barcelona, Gheorghe Hagi sonha liderar Romênia de volta ao topo do futebol mundial
Um enorme mural de Gheorghe Hagi enfeita sua academia de futebol, um lembrete do desempenho espetacular da Romênia na Copa do Mundo de 1994, quando ele liderou o time pouco cotado até as quartas de final. Agora com 60 anos, o "Maradona dos Cárpatos", ou "o Rei" -- como é carinhosamente conhecido na nação do leste europeu -- sonha em liderar seu país de volta ao topo do futebol mundial.
A Romênia não chega ao mata-mata de Copa do Mundo desde a França, em 1998, a edição após a gloriosa corrida nos EUA. Perdeu para a Bósnia e Herzegovina quando a qualificação para as finais de 2026 começou, este mês, antes de se recuperar com uma vitória contra San Marino. Na academia de futebol, 200 jovens de 6 a 19 anos estão treinando, com Hagi -- que acaba de lançar uma autobiografia -- incentivando-os a serem ambiciosos e transmitindo seu lema de que "tudo é possível".
Leia também
• Lembra dele? Ex-jogador que marcou gol contra o Barcelona na Champions vira barbeiro na Holanda
• Lembra dele? Mesmo aposentado, atacante escocês é líder de cartões vermelhos na Premier League
• Lembra dele? Único que jogou com Messi, Maradona e Kempes leva vida de camponês após aposentadoria
Desde a fundação da academia em 2009, a lenda romena investiu mais de 25 milhões de euros (R$ 156 milhões, na cotação atual) no projeto. A academia foi construída do zero perto de sua cidade natal, Constança, na costa do Mar Negro, a cerca de duas horas e meia de carro de Bucareste. E está começando a dar resultados.
Dezenas de jovens jogadores treinados na academia encontraram clubes na principal liga profissional romena, com muitos se tornando capitães de equipe. Nove deles, incluindo o filho de 26 anos de Hagi, Ianis, ajudaram a seleção nacional a se classificar para a Euro 2024, reunindo torcedores em torno do time conhecido como Tricolorii — em referência às três cores da bandeira romena — pela primeira vez em anos.
Hagi, que chama a academia de sua "maior realização", também destaca como, no ano passado, 60% dos gols e assistências da seleção nacional vieram de jogadores treinados na academia. Depois de jogar pelo Real Madrid e Barcelona e fazer 124 aparições pela seleção da Romênia, Hagi se aposentou do futebol internacional em 2000.
O maestro do meio-campo conhecido por seu pé esquerdo mágico e visão de jogo virou treinador, com passagens pela seleção romena e pelos clubes turcos Galatasaray e Bursaspor. Agora baseado em Constança, ele também treina o time local Farul, onde sua carreira começou e o qual ele levou ao topo da primeira divisão do país em 2023.
Abrangendo 17 hectares com 13 campos de futebol, sua academia em uma das nações mais pobres da UE se compara aos centros de treinamento em outras partes da Europa. Quase um terço dos 200 jogadores que treinam lá vivem no local.
'Encontre soluções'
O que Hagi quer para os jogadores é um espaço onde eles não sintam "complexo de inferioridade em relação a nenhuma outra academia do mundo", ele disse aos repórteres em um evento para marcar seu 60º aniversário em fevereiro.
— Pare de contar erros... Você tem que contar conquistas em vez disso — Hagi diz aos que treinam. — O que você fez ontem não importa hoje. É história. Você tem que melhorar dia a dia.
Sua voz é alta e seu temperamento pode ser vulcânico, mas aqueles em sua comitiva aclamam seu "coração de ouro" e sua "coragem extraordinária". Até Hagi investir na academia, "o futebol juvenil não era mais uma prioridade para ninguém" na Romênia, disse seu gerente técnico Cristian Camui à AFP. Hagi -- que recebeu este mês o prêmio de maior conquista do país -- não quis ser entrevistado.
"Não acho que teria entrado para um time sênior tão rápido" sem a academia, disse à AFP um de seus jogadores promissores, o atacante Iustin Doicaru. O jovem de 18 anos entrou para a academia há sete anos e fez sua estreia com o Farul, treinado por Hagi, na liga principal em 2023.
Doicaru diz que nunca vai esquecer seu primeiro gol pelo time em dezembro passado, e os parabéns de Hagi, a quem ele chama de "o melhor jogador de futebol romeno". Mas ele diz que o que aprendeu na academia vai além do futebol — aprendeu, por exemplo, "como lidar com não importa o que aconteça e encontrar soluções quando é mais difícil".