Manchester City tem pena revertida e poderá disputar Champions League
Em fevereiro, a Uefa havia anunciado o banimento do City de seus torneios sob a acusação de inflar a receita com seus patrocinadores
A Corte Arbitral do Esporte (TAS), principal jurisdição do mundo esportivo, decidiu nesta segunda-feira (13) autorizar, após o julgamento da apelação, a participação do Manchester City nas próximas competições europeias, revertendo a pena que condenava o clube inglês a dois anos de suspensão por não cumprir o chamado fair play financeiro.
Em fevereiro, a Uefa (federação europeia) havia anunciado o banimento do City de seus torneios sob a acusação de inflar a receita com seus patrocinadores vinculados ao Abu Dhabi United Group, empresa do proprietário do clube, para cumprir com as regulamentações do mecanismo de fair play, de 2012 a 2016. "O Manchester City não disfarçou seus contratos de patrocínio, mas falhou em cooperar com a Uefa", afirmou a CAS, corte baseada na Suíça, em sua decisão.
O Manchester City, que pertence ao xeque Mansour bin Zayed bin Sultan Al Nahayan, dos Emirados Árabes Unidos, e é treinado pelo espanhol Pep Guardiola, também viu uma multa de 30 milhões de euros (R$ 181 milhões) imposta pela federação ser reduzida para 10 milhões de euros (R$ 60 milhões). Em um comunicado divulgado imediatamente após a sentença do CAS, o Manchester City "comemora as implicações da decisão de hoje, que valida sua posição e o conjunto de provas apresentadas".
Na época do banimento pela federação europeia, o clube alegou parcialidade, e disse que o processo havia sido "iniciado pela Uefa, processado pela Uefa e julgado pela Uefa". Desde que o xeque Mansour comprou o clube, há 12 anos, o papel do City no futebol inglês e continental mudou, deixando de lado apenas sua rivalidade com o United para virar uma potência da Premier League, com a conquista de quatro ligas nacionais na última década (2012, 2014, 2018 e 2019) e duas Copas da Inglaterra (2011 e 2019), mais títulos que nos primeiros 100 anos do clube.
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O ambicioso projeto ainda não atingiu o seu principal objetivo, o título da Champions League. Na atual edição, sobre a qual a decisão desta segunda-feira não teria influência, a equipe está nas oitavas de final. Em 7 de agosto, o time de Pep Guardiola fará o jogo de volta contra o Real Madrid em casa, mas sem público, após ter vencido a primeira partida por 2 a 1, na Espanha. Se passar de fase, viajará para Lisboa, onde serão jogadas as etapas restantes da competição, em confrontos únicos, até a final, marcada para o dia 23. Com a segunda posição assegurada a três rodadas do fim da Premier League, o City está classificado para a próxima edição da Champions.
Entenda a acusação
A apuração sobre possíveis violações do chamado mecanismo de fair play financeiro já vinham sendo conduzidas há tempos, mas ganharam força após a publicação da revista alemã Der Spiegel, de novembro de 2018, que teve acesso a emails e documentos vazados.
Eles mostravam que o aporte financeiro ao Manchester City não vinha apenas de seu patrocinador, a companhia aérea Etihad, dos Emirados Árabes Unidos, mas sim do próprio xeque Mansour bin Zayed. Membro da família real de Abu Dhabi, Mansour é dono do clube e irmão do emir Khalifa bin Zayed Al Nahyan. Um dos emails coletados pela reportagem sugere que somente 8 milhões de libras (R$ 54 milhões), dos 67,5 milhões de libras (R$ 453 milhões) anunciados pelo clube como arrecadação anual com patrocínio foram de fato provenientes da Etihad na temporada 2015/2016.
O restante teria sido investido pela empresa do próprio xeque Mansour, o Abu Dhabi United Group, que comprou o Manchester City em 2008. O fair play financeiro foi introduzido em 2011 pela Uefa com a intenção de controlar os gastos dos clubes do continente com a contratação de jogadores e também como uma tentativa de restringir a ação dos donos desses clubes de cobrir o rombo financeiro com o próprio dinheiro.
O Manchester City já havia sido punido pela Uefa em 2014, juntamente com o Paris Saint-Germain (FRA), por desrespeitarem na temporada anterior as regras do fair play. Na época, os ingleses foram obrigados a pagar 60 milhões de euros, além de não poderem aumentar suas despesas financeiras pelas duas temporadas seguintes (2015 e 2016). Segundo documentos obtidos pelo site Football Leaks e pela Der Spiegel, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, trabalhou para acobertar as infrações cometidas por PSG e City com relação ao fair play financeiro quando ele ainda era secretário-geral da Uefa.
Em email enviado a Khaldoon Al Mubarak, então presidente do City, Infantino teria dado sugestões de como o clube poderia escapar de possíveis sanções. Ainda de acordo com a publicação, Infantino também manteve reuniões com dirigentes dos dois clubes e repassou às respectivas cúpulas diretivas material da Uefa considerado confidencial.
Atualmente, o clube de Manchester está sob o guarda-chuva do City Football Group, a holding que controla outras sete equipes pelo mundo.