Manipulação no futebol: entenda por que alguns jogadores citados não foram denunciados
Investigações encontraram menções a outros atletas além dos 15 que já se tornaram réus, mas não colheram indícios suficientes para justificar processo até aqui
A Justiça de Goiás aceitou nesta semana denúncia apresentada pelo Ministério Público estadual (MP-GO) contra sete jogadores e mais nove pessoas acusadas de integrar uma organização criminosa que manipulava jogos de futebol para lucrar em casas de apostas esportivas.
A denúncia foi embasada pelos dados colhidos na Operação Penalidade Máxima, que já teve mandados cumpridos em duas fases e mantém ainda outras investigações em andamento.
Os atletas que se tornaram réus nesta semana são: Eduardo Bauermann (Santos), Gabriel Tota (Ypiranga-RS), Victor Ramos (Chapecoense), Igor Cariús (Sport), Paulo Miranda (Náutico), Fernando Neto (São Bernardo) e Matheus Gomes (Sergipe).
A partir da primeira denúncia oferecida pelo MP-GO, também aceita pela Justiça, mais oito jogadores já haviam se tornado réus: Matheusinho (Cuiabá), Romário (ex-Vila Nova), Joseph (Tombense), Domingos (Vila Nova), Allan Godói (Operário), André Luiz (ex-Sampaio Corrêa), Paulo Sergio (Operário-PR) e Ygor Catatau (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Sepahan, do Irã).
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Além desses, outros atletas tiveram os nomes citados em conversas e arquivos encontrados pelos investigadores. O motivo de estes não terem sido denunciados até aqui é o fato de que o MP-GO não identificou, ao menos até agora, indícios que comprovem que esses jogadores efetivamente receberam dinheiro ou integravam a organização criminosa alvo da investigação. Os desdobramentos das apurações poderão fazer com que mais atletas venham a ser denunciados.
Uma planilha que estava em posse de integrantes da quadrilha indicava a possibilidade de pagamento de até R$ 80 mil a esportistas que topassem participar do esquema. O documento elenca nomes como os de Vitor Mendes, Nino Paraíba, Sidclei, Pedrinho e Savio.
Outro que teve o nome mencionado em mensagens trocadas entre os investigados é o meio-campista Nathan, ex-Fluminense e hoje no Grêmio. Segundo mensagens anexadas ao processo, o jogador teria sido cooptado para receber um cartão amarelo pelo pagamento de R$ 70 mil na partida entre Fluminense e Fortaleza, em 10 de setembro do ano passado. O jogador, no entanto, não foi utilizado pelo técnico Fernando Diniz. Em nota divulgada nesta quarta-feira, Nathan disse que foi contatado por aliciadores, mas negou que tenha participado do esquema.
Os jogadores denunciados até aqui responderão na Justiça de Goiás por crimes definidos no Estatuto de Defesa do Torcedor (dar, oferecer, aceitar ou receber vantagem patrimonial para alterar ou falsear o resultado de competição esportiva). As penas previstas variam de dois a seis anos de prisão.
O local de julgamento dos casos, porém, pode vir a ser alvo de discussão no futuro, a depender da ligação entre os acusados e a quadrilha investigada pelo MP-GO. Caso novos esquemas venham a ser descobertos envolvendo outros grupos criminosos, é possível que novos processos decorrentes desta investigação sejam encaminhados a outros Estados — numa situação semelhante à vista na Operação Lava-jato, quando a maior parte das ações foi julgada inicialmente na Justiça Federal em Curitiba.
Além dos 15 atletas que terão que se sentar no banco dos réus, ao menos outros quatro admitiram participação no esquema e fecharam acordos com o MP-GO para não serem denunciados. Os jogadores Moraes (Juventude), Kevin Lomónaco (Bragantino), Nikolas Santos (Novo Hamburgo) e Jarro (São Luiz) aceitaram pagar entre R$ 5 mil e R$ 40 mil para não responder penalmente às irregularidades identificadas.