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TENISTA

Médico das tropas nazistas, alemão que naturalizou Hitler: quem eram os parentes de Thiago Wild

Brasileiro revelou à hoje ex-mulher ligação da família materna com o governo nazista; parentes chegaram a ser acusados de tentativa de formação do IV Reich no Brasil

Thiago Seyboth WildThiago Seyboth Wild - Foto: Anne-Christine Poujoulat/AFP

O tenista Thiago Wild surpreendeu nesta semana ao vencer o número 2 do mundo, o russo Daniil Medvedev, em Roland Garros. Desde então, o brasileiro já foi eliminado do Grand Slam e deixou o torneio evitando as coletivas de imprensa, depois que notícias de seu passado começaram a ressurgir.

O jornal O Globo teve acesso a mensagens entre o atleta e a ex-mulher, Thayane Lima, em que o tenista, logo no início do relacionamento, revela as ligações de sua família com o nazismo e com Adolph Hitler. Wild chega a citar o bisavô materno como responsável por ter levado o na época futuro líder nazista da Áustria para a Alemanha e "ensinado a vida para ele".

Mas quem seriam, afinal, estes parentes? Trata-se, na verdade, de três pessoas: Dietrich Klagges, tataravô de Thiago; Ingrun Klagges, sua bisavó; e Friedrich Seyboth, seu bisavô.

Todos integrantes do lado materno da família do tenista. A reportagem explica, abaixo, qual a ligação deles com o governo nazista de Hitler.

Dietrich Klagges
Único dos três que não veio para o Brasil, Dietrich Klagges foi um dos primeiros integrantes do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido como Partido Nazista. De 1933 a 1945, atuou como primeiro-ministro de Braunschweig, o Estado que deu a Hitler a naturalização alemã para ele concorrer a presidente.

Quatro anos antes, Dietrich foi eleito Ministro de Estado do Interior e da Educação Nacional pelo parlamento de Braunschweig. Em 1932, por ordem do partido, ele cuidou pessoalmente do processo de naturalização de Hitler, que nascera na Áustria e, posteriormente, tornara-se apátrida. O fato é contado por sua própria filha, Ingrun, em entrevista à Revista Oeste, em abril de 1993:

— De fato. Embora fosse chefe de um partido em ascensão, Hitler não podia ser candidato a posto eletivo por não ter a nacionalidade alemã. Inicialmente pensaram em nomeá-lo cabo da Polícia da Turíngia, mas isto seria meio ridículo. Então meu pai entrou no caso e designou Hitler como funcionário da representação do Estado de Braunschweig em Berlim. Se bem me lembro, deu-lhe o cargo de adido cultural. Assim, Hitler tornou-se cidadão de Braunschweig e, automaticamente, cidadão alemão, e pôde se candidatar a presidente da Alemanha em 1932.

Numa das conversas com Thayane em que conta sobre este lado de seus parentes, Thiago envia fotos de um álbum de família em que marca Dietrich, o tataravô, ao lado do líder nazista: "O Hitler em posição de sentido logo na frente do biso".

Ingrun Klagges
Sendo filha de um quadro importante do Partido Nazista, Ingrun viu a alta cúpula do Partido Nazista visitar sua casa. Entre os visitantes, estavam o próprio Hitler, o ministro da Propaganda Joseph Goebbels, e o chefe da SS Heinrich Himmler. Ainda criança nesta época, dizia não lembrar de detalhes destes encontros.

Recordava-se, sim, do período na Juventude Hitlerista, onde foi membro ativo da Liga das Jovens Alemães até os 18 anos. Depois, atuou como monitora de "mais de mil crianças". Seguindo os passos do pai, ela também foi filiada ao Partido Nazista.

— Até hoje tenho a documentação, os emblemas... Guardei-os como recordação. Eles são uma raridade — disse na entrevista dada à Revista Oeste.

Ela conheceu o marido Friedrich na faculdade, em Berlim, em 1940. Casaram-se quatro anos depois. Com o fim da guerra e o país arruinado, mudaram-se para o Brasil em 1949.Quatro anos depois, estabelecem-se em Marechal Cândido Rondon, no Paraná, onde viriam a abrir um hospital e se tornar uma das famílias mais influentes da região. Foi lá também que nasceu Thiago Wild.

Fridriech Seyboth
Único dos três nascido no Brasil, em 1919, Friedrich Seyboth mudou-se para a Alemanha ainda aos seis anos. Atuou como médico das tropas nazistas durante a Segunda Guerra e virou prisioneiro de guerra. Só foi liberado entre 1947 e 1948.

Com uma ligação tão íntima com o governo de Hitler, Ingrun e Friedrich foram alvos, entre os anos 1960 e 1970, de diversas publicações que os chamavam de agentes nazistas infiltrados no Brasil. No livro "Aftermath" (1974), o historiador e jornalista Ladislas Faragó escreve que ela, quando criança, era uma espécie de xodó do ditador.

A obra, que neste período teve muita repercussão, perdeu credibilidade nas décadas seguintes. Assim como outras que defendiam teses como esta. Muito porque uma de suas principais fontes era Erich Erdstein, austríaco que entre 1968 e 1969 realizou uma investigação no Sul do país atrás de nazistas que teriam fugido para lá. Seu relatório apontou a existência de uma célula que visava formar o IV Reich. Contudo, as inconsistências de sua acusação e a descoberta de que ele aplicava uma série de golpes pela região e em países vizinhos o fizeram cair em descrédito.

Erdstein também foi responsável por fazer com que uma foto de Friedrich circulasse pela imprensa nacional como sendo Martin Bormann, que exerceu a posição de secretário privado de Hitler durante o Terceiro Reich. Diversos jornais e revistas divulgaram uma imagem sua numa celebração do 7 de setembro, em 1970, como sendo do oficial nazista, que teria fugido para a América do Sul. Inclusive publicações de prestígio como as revistas Manchete e Realidade. Fato que levou o bisavô de Thiago Wild a enviar cartas para as redações e dar entrevistas.

— Nasci em 1919 e tenho 55 anos. O Bormann deve estar com 80 anos. Não posso ser o Bormann... — argumentou em entrevista ao jornal Rondon Hoje, em 1978.

Em nota, Thiago Wild se pronunciou afirmando que a família jamais concordou com "quaisquer posturas racistas, nazistas ou homofóbicas". Leia o comunicado na íntegra:

Nota à imprensa
Os prints publicados pelo jornal O Globo tanto na edição impressa de hoje (3/6) quanto ontem no site www.oglobo.com.br induzem os leitores a um entendimento errôneo sobre posicionamentos meus e de minha família.

Eu e meus pais jamais tivemos ou concordamos com quaisquer posturas racistas, nazistas ou homofóbicas e repudiamos veementemente a campanha difamatória em curso.

Medidas judiciais serão adotadas imediatamente.

Thiago Wild

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