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Racismo

'Não sou mentiroso, não quero mídia, não sou palhaço', diz Gerson

O jogador afirmou que nunca inventaria um episódio grave como esse e lamentou que situações de preconceito ainda sejam comuns na sociedade

Meia ficou indignado após episódio com Índio RamírezMeia ficou indignado após episódio com Índio Ramírez - Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

O volante Gerson participou do quadro "Resenha do Craque", divulgado nesta quarta-feira (23) pela FlaTV, canal oficial do Flamengo, e comentou o caso de acusação de injúria racial que teria sofrido na partida contra o Bahia, no último domingo (20).

O jogador afirmou que nunca inventaria um episódio grave como esse e lamentou que situações de preconceito ainda sejam comuns na sociedade.

O camisa 8 rubro-negro diz que, durante uma discussão no segundo tempo do jogo, Ramírez, do tricolor baiano, disse "cala a boca, negro".

"O Vinicius [assessor de imprensa] fica até triste comigo, que sou um dos caras que menos dá entrevista. Não gosto tanto de falar. Não sou mentiroso. Agora, com uma acusação grave dessa, não ia aparecer na televisão para ganhar mídia. Não sou nenhum palhaço. Eu apareço e, depois, iam provar que é mentira... E aí? Minha filha, meu familiares, me veriam como o que? Um mentiroso? Um cara que precisou ganhar mídia? Não quero isso, não preciso disso. Cheguei até aqui com os pés no chão, não preciso querer aparecer na mídia. Até porque, onde tenho de aparecer é no campo. E todos os jogos do Flamengo passam na televisão, não tenho o porquê querer aparecer dando entrevista", disse ele, que lembrou, sem citar nomes, de "um deboche" da situação.

"Vocês viram ali que teve um deboche. Não tenho nada a falar para eles também, não. Que Deus abençoe e tudo de bom. Vida que segue."

No momento da confusão, no decorrer do duelo no Maracanã, Gerson explicou o motivo da irritação ao banco do Bahia e o técnico Mano Menezes afirmou que seria "malandragem" do rubro-negro.

O camisa 8 voltou a ressaltar que nunca tinha vivido um caso de racismo e salientou não querer que as novas gerações passem por coisas deste tipo.

"Eu nunca sofri de alguém chegar e falar alguma coisa para mim. Olhar estranho sempre olham, mas isso eu nem ligo muito, mas quando falam, já é diferente. Como falei, a cor do sangue é a mesma, sente a mesma dor, fica alegre como eu, acho que tem de parar para pensar que todos nós somos seres humanos. Tenho sobrinhos negros, uma filha nega. Passei por isso, mas não quero que eles passem. É uma coisa chata demais. Espero que as pessoas possam pensar mais. Não só em relação ao racismo, mas também em relação a outros preconceitos. É fácil quem está de fora falar, mas só sabe quem sofreu o preconceito."

Na terça (22), o volante do Flamengo prestou depoimento na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADI). O clube também levou imagens e áudios da partida para apresentar à polícia.

"Eu vou até o final na minha causa e até o final na causa de outras pessoas também. Em pleno Século XXI não podemos estar passando por isso. Pandemia, pessoas perdendo familiares e amigos, e a gente tendo de lidar com coisas assim. Já falei o que tinha de falar, fiz o que tinha de fazer, e espero não passar mais por isso", apontou.

Logo no começo do vídeo, Gerson garantiu que aquele será "um dia que não vai esquecer" e disse que espera ser uma "voz ativa".

"Uma noite ruim, até porque eu nunca tinha sofrido um ato racista. Quando a gente sofre, sente na pele, é pior ainda. [Racismo] Já é uma coisa ruim, mas quando sentimos na pele, é pior ainda. Um dia que não vou esquecer, mas as medidas foram tomadas. Não sei qual é a diferença que as pessoas veem entre um ser humano e outro. Você é branco [para João Mércio, repórter da FlaTV] e eu sou negro. Quando você sangra, qual a cor do seu sangue? Sente dor? Alcança um objetivo, fica feliz? Eu também fico. Não sei porque as pessoas, no mundo em que vivemos, têm dessas coisas. É muito triste, mas já tomamos todas as medidas. Espero que seja uma das vozes ativas no mundo para aquelas pessoas que, talvez, se sintam acuadas. É um caso chato, que não desejo para ninguém, mas a vida continua, bola para frente. Não cheguei ao topo, mas estou trabalhando e não vai ser esse ato que vai me parar."

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