O adeus de uma lenda: Anderson Silva se despede do UFC neste sábado
Aos 45 anos, um dos maiores lutadores de todos os tempo enfrenta Uriah Hall e fecha ciclo vencedor estrelado na organização
“Não se coloque dentro de uma forma, se adapte e construa sua própria, e deixe-a expandir, como a água. Seja frágil como a água, mas com capacidade de destruir uma rocha”, essa é uma das célebres frases de Bruce Lee que se encaixa perfeitamente para definir Anderson Silva. Striker, contragolpeador, perigosíssimo no ground and pound, faixa preta de jiu-jtsu, muay thai, taekwondo e judô, Spider foi o lutador de artes marciais mistas mais completo e adaptável da história do esporte. Aos 45 anos, o brasileiro faz sua última luta, ao menos no UFC, neste sábado, contra Uriah Hall, em Las Vegas.
Dominante por sete anos e responsável por dez defesas de cinturão no UFC, segundo maior entre todos os lutadores, Anderson Silva fez o MMA parecer fácil de 2006 a 2013. Vitórias contundentes contra Vítor Belfort, Dan Henderson, Rich Franklin e até Forrest Griffin, na categoria de cima (meio-pesado), formaram o principal desempenho anexado a um espetáculo de um lutador na organização. Com movimentos comparados aos de Muhammad Ali, Spider fazia arte dentro do octógono e levava o público a loucura.
“Anderson tinha um repertório de golpes inigualável. Ninguém pisou em um ringue ou octógono com tantas opções como ele. Anderson conseguiu derrubar Forrest Griffin com um jab andando para trás. Vale ressaltar que essa luta foi no meio-pesado e Forrest tinha sido campeão da categoria. Por isso eu digo: no auge, Anderson Silva simplesmente amassava todos que via pela frente”, afirmou Celso Ishigami, jornalista com vasta experiência na cobertura de lutas e apresentador do Podcast 45 minutos.
Leia também
• Perto de adeus no UFC, Anderson Silva resiste a abandonar as lutas
• Após elogios, Anderson Silva desafia McGregor para luta
• Anderson Silva se naturaliza americano: 'É meu país agora'
O auge de Anderson Silva se confunde com o “boom” que o UFC teve no Brasil. Após a transmissão ao vivo do histórico UFC Rio, em agosto de 2011, pela RedeTV! e mais uma fantástica exibição contra Yushin Okami, a modalidade tomou proporções gigantescas no País.
Contratada pela Globo, a franquia passou a ser chamada de Gladiadores do Terceiro Milênio por Galvão Bueno, tendo Spider como principal nome desta fase. Ele passou a ser um grande herói nacional, e até por isso as suas duas derrotas para Chris Weidman, principalmente a segunda, foram tão sentidas pelos brasileiros. “Anderson Silva, sem dúvidas alguma, está no mesmo patamar histórico de outras lendas do MMA como Fedor Emelianenko, Royce Gracie e Georges Saint-Pierre”, disse Celso.
Na sua época de ouro, super-lutas contra Saint-Pierre e Jon Jones foram especuladas, mas nunca chegaram a acontecer de fato. Eram outros tempos no UFC. Sabendo do “hype” que esse tipo de combate gera, a organização com certeza teria juntado essas estrelas dentro do octógono hoje. Essas lutas envolvendo grandes campeões de categorias diferentes começaram acontecer, de fato, há pouco tempo. Na época, Dana White, chefe da organização, tinha receio que esses encontros gerassem um “engarrafamento” muito grande nas categorias e até uma desvalorização das grandes estrelas em caso de derrota.
“A luta contra Saint-Pierre seria muito interessante. O canadense foi campeão dos meio-médios e tinha um porte mais baixo do que Anderson, o encaixe para o brasileiro seria melhor. Já o combate contra Jon Jones seria mais difícil, principalmente se fosse disputado nos meio-pesados. O americano luta com cerca de 100 kg e usaria muito da força para tentar vencer Anderson. Mas isso não o faz melhor que o brasileiro. Anderson já fez tudo o que Jon Jones fez, mas o americano não esteve nem perto de possuir o arsenal que o Spider mostrou em sua carreira”, afirmou Ishigami.
Anderson ainda tem mais uma luta no contrato com o UFC, além dessa contra Hall. Porém, tanto Dana White como o brasileiro afirmam que esta será a despedida do lutador. Fica a dúvida, no entanto, para saber se este será o último combate do brasileiro no esporte. Ele não confirmou se isso, de fato, irá acontecer. Assim, os concorrentes do UFC, com certeza, farão propostas para abrigar o histórico lutador.
No caso do Bellator, segundo maior evento de MMA do mundo, há a possibilidade de fechar a trilogia contra o falastrão Chael Sonnen, maior desafeto da carreira do Spider, que está aposentado, mas poderia voltar para enfrentar seu principal adversário na carreira. Nesta mesma organização, há a possibilidade de uma luta com peso casado entre duas lendas: Anderson Silva e Fedor Emelianenko.
Chamada como luta do século, Anderson Silva e Vítor Belfort poderiam se encontrar para uma revanche caso Spider opte por fechar com o One FC. Outra possibilidade é uma mudança de esporte. Durante sua carreira, o brasileiro sempre mostrou sua vontade de fazer uma luta no boxe. Houve uma época em que o combate com Roy Jones Jr esteve perto de acontecer. O americano, inclusive, enfrenta Mike Tyson, em 28 de novembro.
Rumores são vários, mas a certeza do que vai acontecer ainda não existe. O que há no momento é a declaração de Anderson, que diz que essa será sua última luta no UFC.
“Pode ser que seja (a última luta), ou não, vamos aguardar. Primeiro, acho que pode ser a última no UFC, sim, mas foi um comum acordo entre o Dana White e a gente, e vamos ver o que vai ser conversado depois dessa luta contra o Uriah Hall. Pode ser que eu faça a outra luta que tem restante no contrato ou não, vai ser definido a partir de sábado, tudo isso vai ser conversado e tudo pode acontecer. Sinto que tenho lenha para queimar ainda no esporte. Da forma como estamos treinando e toda a preparação física, tenho muita lenha para queimar. Vou ver as decisões que terei que tomar sobre continuar ou não, de estar ou não lutando. Meu desejo é de continuar (lutando), com certeza”, afirmou Anderson em conversa com jornalistas brasileiros nesta semana.
“É delicado falar disso. Existe uma máxima entre os lutadores que sempre há uma nova luta. O cara simplesmente não consegue deixar de lutar. Inclusive, há uma filosofia por trás das artes marciais que é aquela definição quase medieval ou feudal que é de ser o guerreiro. Aquele que é obstinado por estar ali e enfrentar todas as adversidades, mesmo que isso custe a própria vida. Eles treinam desde muito cedo, é difícil parar. Eu, por exemplo, acredito que Anderson poderia ter dado um ponto final na carreira, depois da segunda luta contra Weidman, a da lesão”, disse Celso Ishigami.
A luta de despedida de Anderson não será contra um adversário que gere tanta magnitude, mas isso não o faz um lutador fácil. Veterano no UFC, Uriah Hall vem de duas vitórias e é um striker perigoso para o brasileiro. Anderson vive, em números, a pior fase da carreira. Nos últimos sete anos, foram seis derrotas, uma vitória e um no contest.
Estas lutas, no entanto, não foram fáceis. As duas contra Weidman todos conhecem. Mas os embates contra Michael Bisping e Israel Adesanya foram extremamente parelhos. Os dois, inclusive, se tornaram campeões depois de vencer Spider. O revés contra Jared Cannonier foi devido uma lesão do brasileiro e contra Daniel Cormier, ele pegou a luta faltando apenas três dias para o combate. Vida fácil nunca existiu para Anderson Silva, e também por isso, se ele decidir que esta será a última luta dele, estará de bom tamanho.
Podem até existir argumentos que não coloquem o Spider como o melhor lutador de MMA da história, mas sem dúvidas algumas ele foi o mais completo. Dentro do esporte brasileiro, é factível afirmar que ele já é gigante. Anderson foi tão dominante que até aqueles que não gostam de MMA o conhecem. Assim como Guga, Ayrton Senna, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo Fenômeno, Anderson Silva será inesquecível para o esporte brasileiro.