O dia em que Maradona esteve em Pernambuco
Para celebrar os 60 anos desta lenda do futebol, Folha detalha os bastidores da primeira e única vez do ex-jogador no Estado
"Diego Armando Maradona era venerado não só por seu prodigioso malabarismo, mas também por ser um deus sujo e pecador, o mais humano dos deuses”. A frase, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, sintetiza bem a imagem em torno de um dos maiores jogadores da história do futebol. Maradona foi herói e vilão. Polêmico. Incontrolável com a bola e com as palavras. Ídolo de dimensões quase religiosas. Autor do gol que ficou conhecido como “La Mano de Dios”, na Copa do Mundo de 1986, vencida pela Argentina. Galeano costumava dizer que deuses nunca se aposentam. Mas eles envelhecem. Hoje, Maradona completa 60 anos de idade. Data em que a Folha de Pernambuco aproveita para contar um capítulo da história do "Pibe de Ouro". O dia em que ele esteve pela primeira e única vez no Estado.
No dia 23 de março de 1994, Brasil e Argentina se enfrentaram em um amistoso, no Arruda, antes da Copa do Mundo daquele ano. Fábio Guibu, hoje um dos editores da Folha de Pernambuco, trabalhou, à época pela Folha de São Paulo, na cobertura da seleção argentina. “O foco era ele. Mais do que o jogo ou as seleções", relembrou.
"Os argentinos se hospedaram no Mar Hotel, em Boa Viagem. A chegada foi tranquila. Os jogadores ficaram todos em um andar, enquanto Maradona ocupou a suíte presidencial. A diária era de 1.300 dólares", contou Guibu. O local onde ficou o camisa 10 tinha 160 metros quadrados, dois banheiros com hidromassagem e televisão, além de escritório e sala com três ambientes. Ele teve direito ainda a um mordomo exclusivo e três seguranças.
De madrugada, Maradona pediu champanhe Moet & Chandon, dois sanduíches de filé e batata frita. Tanta empolgação, porém, contrastava com a preocupação em torno de sua forma física. “Já tínhamos recebido a informação de que ele poderia não começar jogando por conta de uma lesão muscular. Ficamos na expectativa de vê-lo pelo menos no segundo tempo”, disse o jornalista.
Maradona não entrou. Acompanhou do banco de reservas a vitória brasileira por 2x0, com gols de Bebeto. Confronto arbitrado pelo pernambucano Wilson Souza. O único “lance de destaque” do camisa 10 envolveu justamente Guibu. “Eu estava passando pelo campo e parei para ver uma jogada. Fiquei justamente na frente de Maradona. De repente, veio um esguicho de água nas minhas costas. Era ele, gesticulando para eu sair da frente”, brincou.
Em março de 2021, 27 anos depois, Brasil e Argentina voltam a jogar no Estado. Agora na Arena de Pernambuco, pelas Eliminatórias Sul-Americanas da Copa do Mundo de 2022, no Catar. Desta vez não tem Maradona, mas tem Messi. Também debutando por aqui. Assim como foi no passado com o eterno ídolo argentino. Histórias que se cruzam em solo pernambucano.