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Esportes

ONG de Léo Moura, ex-Santa, lidera verbas de Bolsonaro ao esporte

A instituição do lateral-direito deve firmar convênios de pelo menos R$ 34,8 milhões em 2021

Léo Moura, ex-jogador do SantaLéo Moura, ex-jogador do Santa - Foto: Eleven/Folhapress

Com apoio de congressistas e da gestão Jair Bolsonaro, a ONG de Léo Moura, ex-lateral do Flamengo e do Grêmio, deve firmar convênios de pelo menos R$ 34,8 milhões com o governo em 2021.

O repasse é o maior previsto até agora para uma única entidade em ações federais ligadas ao esporte no ano das Olimpíadas.

Também é próximo de todo o pagamento de bolsa a atletas feito em 2020 (R$ 44 milhões) e cerca de 25% dos R$ 145,2 milhões previstos para apoiar os mesmos competidores neste ano.

Na estimativa de gastos para o esporte do governo Bolsonaro, só a Caixa Econômica Federal, que faz os pagamentos aos bolsistas, deve receber mais recursos.

Aposentado dos campos desde março, o lateral trabalha na expansão de sua ONG, chamada Instituto Léo Moura.

Com ajuda do ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP), a entidade com sede no Rio de Janeiro planeja levar atividades a todos os 16 municípios do Amapá, formando 20 núcleos no estado. Cada um atenderia até 300 jovens, segundo a ONG.

A ideia ainda é saltar de 15 polos para 60 em cidades do Rio de Janeiro, abrir mais 2 no Acre, 1 no Paraná e outro em Brasília.

O instituto afirma que promove o "Passaporte para a Vitória", projeto que dá aulas de futebol a meninos e meninas de 5 a 15 anos, oferece todo o material para os jogos, emprega profissionais da região e acompanha o desempenho escolar.

A verba prevista à ONG do ex-jogador está empenhada, etapa em que o orçamento é reservado, mas os pagamentos ainda não foram feitos. Em 2020, a entidade recebeu cerca de R$ 5 milhões. Todos o valor previsto é de emendas parlamentares.

O governo Bolsonaro tem orçamento de R$ 837 milhões em 2021 para ações ligadas ao esporte. Até agora foram empenhados R$ 321,9 milhões e pagos R$ 43 milhões. Esse orçamento não considera patrocínios das estatais ou dos comitês esportivos.

Em 2020, praticamente todo o orçamento de R$ 600 milhões foi empenhado e o governo pagou R$ 100 milhões. A diferença entre o que foi reservado e desembolsado se deve, por exemplo, ao cronograma de execução dos convênios ou obras.

Além das aulas de futebol, outro ativo nas parcerias com o poder público é a presença de Moura nas inaugurações de campos de futebol e dos núcleos de sua ONG. Ele ainda atua como agente de atletas profissionais.

Cercado por políticos, o ex-jogador acompanhou cerimônias no Rio de Janeiro e no Amapá, como mostram publicações nas redes sociais. Também gravou vídeos para congressistas e prefeitos sobre a ONG.

O ex-atleta já demonstrou apoio ao presidente Bolsonaro nas redes sociais. Em 2020, pediu voto ao candidato do PCT à prefeitura de Niterói, Allan Lyra, que terminou a disputa em terceiro.

"Eu estou no projeto, junto com deputado [federal] Carlos Jordy [PSL-RJ] e o presidente Bolsonaro", disse o ex-atleta em vídeo compartilhado por Jordy.

Ao lado de Alcolumbre, Moura esteve em Macapá, em julho, na estreia da Arena do Zerão. O campo de futebol, feito com recursos de emenda do senador e do caixa da prefeitura, deve abrigar novo núcleo do instituto.

A ideia é que 6.000 jovens sejam atendidos no Amapá em dois anos pela ONG, segundo informações do Diário FM Macapá.

Em entrevista ao mesmo canal, o ex-atleta disse que os trabalhos no estado devem começar em agosto. "Meu senador aqui que vai dar a data", afirmou Moura, abraçado a Alcolumbre.

O senador também reuniu os 16 prefeitos do estado para o atleta apresentar a ONG. "É uma honra destinar recursos e realizar projetos que ajudarão nossos jovens amapaenses", publicou Alcolumbre em redes sociais.

Procurado pela reportagem, o senador não quis se manifestar.

O Instituto Léo Moura ainda tem parcerias com o deputado Luiz Lima (PSL-RJ). Ele apresentou emendas em 2020 e neste ano para a entidade que ultrapassam R$ 10 milhões, para instalar núcleos em cidades do Rio de Janeiro.

À reportagem Lima disse que vê o esporte "como um pilar da educação, instrumento de transformação social e promoção da saúde e da cidadania".

O repasse de verba federal previsto à ONG de Léo Moura em 2021 é superior à soma de todos os gastos autorizados pelo governo para promoção do paradesporto nacional (R$ 6,7 milhões), gestão do legado olímpicos e paraolímpico (R$ 20 milhões) e implementação da infraestrutura esportiva de alto rendimento (R$ 9,8 milhões).

O Ministério da Cidadania, que abriga a Secretaria de Esportes, afirma que os novos convênios com a ONG ainda estão na fase de formalização. A pasta disse que a articulação pela indicação é toda dos congressistas que apresentaram as emendas.

"Vale informar que o atestado de capacidade técnica apresentado pela instituição cumpre os critérios legais", disse o ministério.

Em 2019, ao assumir o governo, Bolsonaro extinguiu o Ministério do Esporte. As políticas públicas para o setor passaram a ser geridas por uma secretaria, hoje comandada por Marcelo Magalhães, padrinho de casamento do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).

Léo Moura e Alcolumbre foram recebidos pelo ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos-BA), em junho.

"Obrigado, ministro, pelas portas abertas. E senador, por acreditar e abraçar o projeto Passaporte para a Vitória", escreveu em redes sociais o ex-atleta.

Alcolumbre é o padrinho de pelo menos R$ 14 milhões empenhados para a ONG por meio de emenda do relator-geral do Orçamento.

Há R$ 16,85 bilhões reservados para esse tipo de emenda em 2021, sendo que a Cidadania deve receber R$ 1,1 bilhão. A definição de qual parlamentar terá direito de indicar recursos nessa modalidade é feita por acordos políticos entre Congresso e governo.

A ONG de Léo Moura não respondeu quanto espera receber de verba pública em 2021.

"A seriedade, a execução e o resultado atingido pelo Projeto Passaporte para Vitoria tem se tornado referência a nível Brasil, com isso, o aumento de solicitações para novos atendimentos (sic)", disse a entidade.

"Além disso, cada núcleo participa de forma recreativa de torneios internos, e os coordenadores de núcleo também fazem acompanhamento do desempenho escolar dos alunos", afirmou a ONG.

Os repasses previstos ainda colocam a ONG em 12º no ranking de instituições sem fins lucrativos que mais devem receber do governo federal em 2021, considerando empenhos feitos até agora.

A lista tem, no topo, entidades que prestam serviços a governos, como a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além do fundo partidário do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

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