Organizadas: pesquisador diz que é possível fazer "limpeza"
Para o doutor em sociologia dos esportes, torcidas organizadas se tornaram terreno fértil para ações criminosas
Em 2009, o Brasil assumiu o primeiro lugar no ranking de mortes comprovadas de torcedores por conflitos entre gangues e vândalos infiltrados nas torcidas organizadas. Esse dado está no estudo do sociólogo e doutor em sociologia dos esportes, Maurício Murad, que documenta tais casos desde 1990. No ano que vem, o Brasil completa uma década nessa condição sem perspectiva de ações funcionais para solução do problema. Para o pesquisador, é possível “limpar” as torcidas organizadas, que têm como premissa ser o 12º jogador dos seus times e comandar a festa nos estádios em dias de jogos. E só.
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“Mas é preciso um plano estratégico que atenda às diferentes culturas regionais, que combine três grandes conjuntos de medidas, a médio prazo com caráter punitivo, a médio prazo com caráter preventivo e a longo prazo com caráter reeducativo”, explica, falando de responsabilidades divididas. “A responsabilidade não é só da polícia. É dela também, mas é ainda do Judiciário, do Legislativo e do Executivo.” Ainda segundo Murad, as torcidas organizadas se tornam um terreno atrativo para facções e gangues pela característica de serem multidões apaixonadas. “Sociologicamente, a multidão e a paixão tudo acentuam, exacerbam. Por isso, o lado passional muitas vezes prevalece, o que é um terreno fértil para ações criminosas, infracionais.”
A partir deste mês, de acordo com o promotor do Juizado do Torcedor, José Bispo, está prevista a retomada de tratativas entre vários órgãos do Estado a fim de tirar do papel o prometido cadastro das torcidas organizadas. O grande entrave para a realização desse projeto, estudado desde 2008, é a fonte de recursos para os equipamentos necessários, de alto custo. “O cadastro é essencial, imprescindível para iniciar o trabalho contra essa violência. Inicialmente, a intenção era biometria, mas hoje já é possível ter identificação facial, é primeiro mundo”, destaca ele.
O problema é que, como nenhum órgão tem por obrigação a implantação do sistema, há uma transferência de responsabilidade. Murad alerta, contudo, que o cadastro, se realizado, deve ser sucedido de outras ações. “Toda medida de identificação é positiva, mas não é o suficiente. Se não houver uma sequência de ações em todos os níveis, federal, estadual e municipal, essas medidas se tornam paliativas, o repetitivo ‘enxugar gelo’”, frisa ele, que, apesar de ter mais de uma década de estudos relacionados ao assunto, nunca fora convidado ou consultado para uma força-tarefa de combate a esse tipo de violência.