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Futebol

Pandemia muda planos e silencia voz do futebol no Pacaembu até 2023

Hospital de campanha nos últimos três meses, o estádio será aproveitado como cinema drive-in até setembro e depois passará por reforma

Estádio do Pacaembu virou hospital de campanhaEstádio do Pacaembu virou hospital de campanha - Foto: Governo do Estado de São Paulo

Há uma década, Edson Tadeu da Silva, servidor público de 60 anos, empresta a sua voz para a locução dos jogos no Pacaembu. É dele o clássico bordão "o meu, o seu, o nosso Pacaembu", silenciado durante a pandemia do novo coronavírus e pelo menos até 2023. Esse será o período sem partidas no estádio definido pela Allegra, administradora privada do local, e informado ao locutor, já afetado economicamente pela falta do futebol no antigo espaço municipal.

"Agora é paciência [risos]. Triste por não ter mais trabalho até lá. Recebi a notícia por intermédio de um dos diretores, que me informou sobre o cine drive in e depois sobre o fechamento para a reforma", contou Edson, mais conhecido como Sorriso, em entrevista à reportagem.

A despedida do locutor ocorreu no último fim de semana. Edson Sorriso narrou um vídeo que exibirá as "intenções do futuro Pacaembu", segundo o próprio. A diretoria da Allegra colocou a voz oficial do estádio para apresentar a sua nova versão, sob administração da iniciativa privada desde o fim de janeiro de 2020.

O espaço, que recebeu nos últimos três meses um hospital de campanha para tratar pacientes da Covid-19, agora contará com um cinema drive in até setembro, seguindo um primeiro planejamento. Depois, o Pacaembu fechará para reforma, que tem prevista a derrubada do tradicional tobogã e a construção de uma nova edificação no local.

Segundo a administradora, esse projeto de remodelação tira o futebol do estádio pelo menos até o início do ano de 2023, período em que Sorriso não emprestará mais a voz ao Pacaembu. O efeito dessa ausência, entretanto, começou antes do anúncio. A pandemia já havia dificultado o dia a dia do servidor público e locutor.

"Perdi uns 20% da minha renda, pois ganho por jogos, e é sempre uma influência boa. Estou 'quarentenando' e trabalhando na subprefeitura do Butantã. Fiz 60 anos, então estou velho para ir frequentemente ao trabalho, sou do grupo de risco. Não tenho hora extra, não recebo mais vale transporte. Tudo caiu, estamos nos virando do jeito que dá", relata.

Em 2020, o Pacaembu recebeu apenas três partidas. No aniversário da capital paulista (25 de janeiro), o estádio se despediu da administração pública com o clássico Grêmio x Internacional, pela final da Copa São Paulo. Quatro dias depois, já sob administração da Allegra, o Palmeiras goleou o Oeste por 4 a 0, pelo Campeonato Paulista.

O último confronto do Pacaembu antes da paralisação, e provavelmente até 2023, ocorreu em 29 de fevereiro, quando Santos e Palmeiras empataram sem gols, em clássico válido também pelo Campeonato Paulista. A adaptação sem jogos de Edson Sorriso passa pela rotina como pai. Se os filhos Júnior e Victor estão "encaminhados" com a própria empresa, a prioridade passa por bancar o último ano da faculdade de direito da filha Ana Cláudia, outra a perder o trabalho (no caso, estágio) nos últimos meses.


O pequeno Erick Willian, de 7 anos, também ganha atenção especial neste período de contenção de gastos. O contato com o caçula, entretanto, se restringe ao campo virtual, consequência do distanciamento social imposto pela pandemia. "Lógico que o Pacaembu faz falta. Tudo o que fazemos de trabalho é para somar, então não posso dizer que não faz. A gente tem que se virar com o que tem, você precisa se readequar. Pode passar apertado, você aperta o cinto, mas no final acaba dando tudo certo. A gente se apega a Deus e vamos embora", complementa.


A única certeza para o locutor é o período de "molho" para a remodelagem do estádio, proposta pela iniciativa privada. Aberto a oportunidades, Edson Sorriso carrega agora apenas um sentimento de agradecimento e usa o tempo livre para compor sambas. Foram dois na quarentena.


Em um cenário catastrófico de pandemia, que já matou mais de 80 mil brasileiros, o locutor ameniza a falta do trabalho no estádio e ressalta os cuidados com a saúde. Edson Sorriso acompanhou o hospital de campanha do Pacaembu apenas pelas notícias e evita ao máximo sair de casa.

A prioridade, no fim das contas, é a mesma de todos: o próprio bem-estar. Sem vislumbrar um futuro próximo na profissão que o colocou dentro da cultura futebolística de São Paulo, Edson quer sorrir por outro aspecto: "só agradecer a Deus pela saúde".

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