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Rei do futebol

Pelé, o último 'deus' vivo do futebol

Eterno camisa 10 da Seleção não gera no Brasil a devoção de Maradona na Argentina, mas milhões de fãs prendem a respiração quando há um alerta sobre sua saúde

Pelé ao lado de Maradona, dois dos maiores jogadores de futebol de todos os temposPelé ao lado de Maradona, dois dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos - Foto: Patrick Kovarik/AFP

Pelé, que manifestou o desejo de um dia "jogar bola no céu" com Diego Maradona, falecido na quarta-feira, é hoje o último deus vivo do futebol, um Rei de 80 anos com saúde frágil. 

O eterno camisa 10 da Seleção não gera no Brasil a devoção de Maradona na Argentina, mas milhões de fãs prendem a respiração quando há um alerta sobre sua saúde.

Edson Arantes do Nascimento, que sempre gostou de repetir que, como os Beatles, é mais "famoso que Jesus", deve se sentir estranhamente sozinho após a partida dos monstros sagrados do futebol.

O argentino naturalizado espanhol Alfredo Di Stefano morreu em 2014; o holandês Johan Cruyff dois anos depois; e o mítico 10 da Argentina na quarta-feira, causando uma comoção planetária sem precedentes.

 

Maradona completou 60 anos em outubro, apenas uma semana depois de Pelé comemorar seu 80º aniversário, ambos celebrados com todo tipo de homenagens.

E quando o Rei do futebol for praticar seus dribles mágicos com o camisa 10 argentino no paraíso "haverá momentos de profunda tristeza no Brasil" e no mundo, garante Alexandre Lozetti, especialista em seleção brasileira e comentarista dos canais Globo.

Humor e depressão
A mais recente aparição pública de Pelé aconteceu em maio de 2018, quando teve encontro em São Paulo com o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama.

Um mês antes, conheceu em um evento em Paris o prodígio Kylian Mbappé, que, como Pelé, se sagrou campeão mundial antes dos 20 anos (Pelé aos 17, em 1958, e o francês aos 19, em 2018).

Pouco depois do encontro com o jovem atacante do Paris SG veio o susto mais recente: o Rei Pelé foi hospitalizado devido a uma infecção urinária grave.

Por causa dos problemas nos quadris, o atleta que humilhava as defesas rivais se vê forçado a se locomover com a ajuda de um andador: "Minha chuteira novas", brincou.

Antes de completar 80 anos, Pelé afirmou ser feliz por estar "lúcido" e em plena posse das suas faculdades mentais, embora o filho Edinho tenha afirmado em fevereiro que o Rei vivia "recluso" e com "certa depressão".

"Estou bem. Só não vai dar para jogar nesta semana", brincou o ex-craque do Santos durante uma conversa por vídeo com o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Rogério Caboclo, pouco antes do aniversário.

Menos representativo
No Brasil, porém, poucos se atrevem a questionar sua supremacia no panteão do futebol, mas Pelé é às vezes criticado por suas posições sobre alguns assuntos.

Alvo de deboche por seus arriscados palpites antes das Copas, Pelé também é criticado pela falta de compromisso com causas sociais, principalmente contra o racismo.

Em 20 de novembro, porém, ele se expressou nas redes sociais por ocasião do Dia da Consciência Negra, em meio à comoção causada pela morte, na véspera, de João Beto, um homem negro espancado por seguranças brancos de um supermercado Carrefour em Porto Alegre.

"Celebraremos o que conquistamos. Mas nunca esqueceremos de cada passo dado e que ainda há uma longa jornada pela frente”, escreveu Pelé no Instagram.

Muitas coisas contrastavam entre um Maradona rebelde e um Pelé mais politicamente correto, que em diversas ocasiões trocaram farpas públicas, como nos debates para escolher o “jogador do século XX”.

Mas os dois deuses do futebol se apreciavam e respeitavam.

Em 2000, o brasileiro foi eleito Jogador do Século por especialistas da Fifa, enquanto Maradona obteve a mesma honraria no voto popular.

"Pelé é Rei, Maradona é deus. O Rei é aquela figura que tem súditos. Maradona é um deus com quem todo mundo queria ser íntimo, ele era a representatividade maior”, explica Alexandre Lozetti.

“Acho que o Brasil tem a mania de aproveitar pouco algumas pessoas vivas e depois cultuá-las quando morrem. (...). Talvez muita gente que hoje não tem a percepção do tamanho que [Pelé] tem vai ter quando o dia chegar”, acrescenta.

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